Outubro é um mês marcado internacionalmente pela campanha Outubro Rosa, que tem como principal objetivo a promoção de ações em prol da prevenção e da conscientização do câncer de mama. O movimento, celebrado anualmente desde a década de 1990, é de importância indiscutível, visto que coloca a doença em evidência, relembrando a necessidade da prevenção e do autocuidado, além de ajudar mulheres que estão lutando contra a enfermidade a enfrentá-la. Apesar de necessária, essa série de ações apresenta problemas pouco debatidos como, por exemplo, a apropriação capitalista do movimento, o machismo velado que leva ao silenciamento da sexualidade feminina e até mesmo a glamourização do processo da doença.
Os temas citados foram elencados por pacientes que já passaram pelo processo de tratamento de um câncer de mama e conversaram com o Colab sobre os desafios nem sempre abordados nas campanhas do mês de outubro.
Temas silenciados
A jornalista e professora Julia Pessôa, que teve câncer de mama em 2021, denuncia a apropriação capitalista do Outubro Rosa: “Neste ponto eu acho muito nocivo, porque tem um efeito contrário, é muito insensível com as pessoas que enfrentam o câncer”, declara a entrevistada, apresentando um dos pontos negativos relacionados ao movimento.
Essa apropriação se dá, com frequência, pela adesão à campanha por parte de empresas e instituições que lançam promoções, itens na cor rosa, cupons de desconto, e outras estratégias de venda que em nada ajudam o movimento. Ao mesmo tempo, casos de dispensa do trabalho derivadas da doença não são incomuns, o que sinaliza para a falta de sensibilidade de empresas quando suas colaboradoras passam pela doença.
De acordo com o site do Tribunal Superior do Trabalho (TST), um processo judicial já tramitado resultou em condenação por causa de discriminação. Na ocasião, a Primeira Turma considerou discriminatória a dispensa por justa causa aplicada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) a uma empregada com câncer de mama.
Outra problemática do Outubro Rosa, ainda segundo Julia Pessôa, é a forma romantizada como o câncer de mama é tratado na campanha. Ela cita, por exemplo, que existem poucas mulheres vítimas da doença estrelando as campanhas, o que resulta em uma visão “enfeitada” de uma condição dolorosa e fatal:
O câncer de mama não é nada rosa, no sentido metafórico.
Júlia Pessôa, jornalista e pesquisadora de estudos de gênero
Padrão machista apaga sexualidade da mulher que enfrenta o câncer
A jornalista Maíra Lobato, que teve câncer de mama em 2015, compartilha um sentimento de incômodo ao perceber a perpetuação de ideais machistas enraizados na sociedade e que acometem de forma muito profunda as mulheres que passam pela doença. Segundo ela, o movimento Outubro Rosa muitas vezes peca em olhar para a mulher dentro de um padrão estético, preocupando-se em falar de aspectos como a perda de cabelo, a reconstrução dos seios, mas deixando o bem-estar da paciente de lado.
Em entrevista ao Colab, ela relatou que sente dores musculares desde a cirurgia de reconstrução da mama, e já se passaram oito anos desde o fim do seu tratamento: “Onde que a mulher continuar bonita, com uma prótese nos seios, ou peruca no cabelo, é mais importante do que ela continuar confortável?”
Se o debate sobre câncer de mama sempre vem acompanhado dessa dimensão estética do feminino, é comum pensar na queda de cabelo ou nas sessões de quimioterapia como um desafio a ser superado, mas raramente a abordagem chega às consequências do tratamento na vida sexual das mulheres afetadas. Maíra Lobato lembra que os hormônios sofrem alterações, diminuindo a libido. Além disso, a mama é também um órgão sexual feminino, tópico que é constantemente silenciado:
Maíra Lobato, jornalistaA gente precisa avançar e parar de falar de queda de cabelo e prótese capilar no Outubro Rosa. A gente tem que falar de outras coisas. Não que isso não importe, porque isso afeta a nossa autoestima também, mas a gente precisa avançar para entender que essa questão vai mais além”.
Conhecer seu corpo é fundamental para a prevenção
Atitudes cotidianas que contribuem para a redução e prevenção do câncer de mama incluem a prática de exercícios físicos, alimentação balanceada e saudável, e a realização do autoexame e das mamografias regulares, quando recomendado. Conhecer seu corpo e saber identificar mudanças em padrões de funcionamento pode ajudar a diagnosticar o câncer em estágios preliminares, aumentando as chances de sucesso do tratamento.
Muito legal! O câncer de mama precisa mesmo ser visto de forma diferente pela sociedade! E é sempre importante trazerem matérias com pessoas reais que sofreram com a doença e afirmam com propriedade quais os desafios enfrentados. Arrasou na matéria Dan! Orgulho mil de vc!💓
Que texto espetacular! Muito bem posicionado, esse tema tão importante! Parabéns, Julia Vida!
Muito orgulhosa de você!