Os Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim, chegaram ao fim e, mais uma vez, o Brasil não conquistou nenhuma medalha. Por que essas conquistas são tão difíceis para os brasileiros? A delegação brasileira contou com 11 atletas, sendo considerada a terceira maior entre os oitos países da América, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, com 224 atletas, e do Canadá, com 214.
A desproporção de representantes entre a delegação brasileira e as duas maiores é notável e representa menos chances de conquistas. A equipe do Brasil ainda tem dois nomes a menos que em Sochi 2014, quando o país bateu o seu recorde de participantes, e dois a mais que na última edição, em Pyeongchang 2018.
As olimpíadas são disputadas em 15 modalidades de sete esportes em três categorias: neve, gelo e deslizante. O Time Brasil teve representante em somente cinco modalidades, sendo três na neve – esqui cross-country, alpino e estilo livre – e duas no gelo – bobsled e skeleton.
Nesta nona participação na competição, foi a primeira vez que um brasileiro disputou a modalidade skeleton e teve a chance real de conquistar um diploma olímpico, com Nicole Silveira. O diploma, que é dado aos oitos primeiros colocados, é usado como métrica nos países que não ganham muitas medalhas, a fim de analisar se fez uma campanha boa ou ruim.
A atleta gaúcha, de 27 anos, ficou em 13º lugar, com tempo de 4m10s48 e conquistou o segundo melhor resultado da história do Brasil nos jogos, terminando no “top 15” nas duas primeiras descidas no Centro Nacional de Esportes de Pista, em Yanqing. Antes disso, a melhor colocação de uma brasileira em Jogos de Inverno havia sido em 2006, em Turim, quando Isabel Clark ficou em nono no snowboard.
Percebe-se que, mesmo com boa pontuação, há uma dificuldade para os brasileiros se destacarem nas Olimpíadas de Inverno, enquanto países de clima frio dominam o pódio olímpico, como a Noruega, com 35 medalhas nesta edição. Será que esse desafio é maior para os países tropicais?
Além da falta de neve, os brasileiros não encontram pessoas qualificadas para ajudar no treinamento desses esportes, e alguns equipamentos, como o Rollerski, não são vendidos no Brasil. É o que aponta o atleta olímpico Leandro Ribela, que participou da 11ª edição dos jogos, em 2010, sediada em Vancouver. O primeiro contato dele com a neve foi aos 12 anos em uma viagem para a Argentina e, de cara, já se encantou com o fenômeno natural.
“Depois da minha experiência na Argentina, em que me senti livre quando esquiei, decidi ter mais contato com a neve. Coincidentemente, fui fazer intercâmbio nos Estados Unidos e morei perto de uma estação de ski, então praticava com frequência. Inclusive, trabalhei por cinco anos na estação através do programa Work Experience USA”, conta Leandro.
A história do atleta nos jogos olímpicos começou em 2005, quando foi ao campeonato de ski alpino na Argentina e conheceu os integrantes da Confederação Brasileira de Esportes da Neve (CBDN). Na época, eles estavam recrutando atletas que tinham aptidão nos esportes de inverno para defender o Brasil nas competições. A partir daí, Leandro integrou-se à modalidade.
Nos treinamentos no Brasil, ele treinava com o rollerski no asfalto. A ideia de trazer o equipamento para o país veio quando viu atletas da Suécia praticando dessa forma, quando não tinha neve. Mas para intensificar a preparação, principalmente com a chegada dos jogos, ele pula de país em país para ter contato com a neve. “De abril a novembro treinava no Brasil, no asfalto. Já em novembro, ia para o exterior ter contato com a neve e já me acostumar com o clima”, conta o atleta.
Em sua primeira participação, o brasileiro terminou a disputa em 90º lugar entre 95 competidores, com o tempo de 43m36s2 – longe dos favoritos e dez minutos atrás do vencedor. Quatro anos depois, Leandro disputou mais uma Olímpiadas, com 33 anos, ficando na 80ª colocação.
Na entrevista após a competição, para o site Terra UOL, ele disse que aquela poderia ter sido sua última participação. “Vou tentar me reorganizar, correr atrás de alguns apoios, patrocínios. Se der para continuar como atleta, vou continuar muito feliz. Se não der, vou tentar passar minha experiência para os próximos atletas, talvez trabalhar como treinador”, completou.
Nas Olimpíadas deste ano, Leandro realmente não disputou em campo, estava apenas na torcida. Ele espera que daqui a quatro anos possa estar do lado de fora, auxiliando os atletas que treinou. É isso que vai ocorrer nos Jogos Paralímpicos de Inverno, realizados de 4 a 13 de março, também em Pequim. O ex-atleta olímpico está treinando com os atletas na Itália, a fim de conquistar uma medalha inédita.
Sempre apaixonado pela neve Leandro aproveitou suas habilidades e seu contato com as Olimpíadas para criar um projeto, a fim de beneficiar crianças da favela São Remo, localizada na região oeste de São Paulo. Foi aí que surgiu a ONG Ski na Rua, em 2012.
Naquele ano, o projeto que ainda não tinha se tornado uma organização sem fins lucrativos atendia cinco crianças. Ao longo do tempo, o número foi só aumentando. Hoje, eles assistem mais de cem e todas praticam esportes com o sonho de disputar uma olimpíada.
É o caso da Dandara Silva, de 20 anos, que já foi jogadora de futebol, mas decidiu investir no esporte de inverno, o Rollerski. “Nunca participei de uma olimpíada, estou no projeto Ski na Rua para aprender as técnicas e, então, poder representar o nosso país nos Jogos Olímpicos de 2026”, afirma.
O treinamento da atleta é semanal, com o treino de força à noite e com o equipamento de manhã. Ela conta que é bem difícil, mas que com o tempo se acostumou. Além da dificuldade nos treinos, o que mais pesa é a motivação.
“Minha maior dificuldade não é com o equipamento, e sim com as pessoas que desacreditam. Sou muito grata porque minha família sempre me apoiou. Minha mãe me incentiva todos os dias a continuar e não desistir. Nunca pratiquei ski na neve, mas tenho fé que em breve irei.”
Adicionar comentário