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Casa com energia produzida de forma manual. Crédito: ONG Verde

ONGs de MG trabalham por um mundo melhor através dos ODS da ONU

Conheça organizações que promovem iniciativas de sustentabilidade, consumo responsável e saúde de qualidade

ONGs de MG utilizam os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, também conhecidos pela sigla ODS, para orientar a atuação e o desenvolvimento de projetos com foco em desenvolvimento sustentável e justiça ambiental. Essas ONGs atuam em áreas como saúde, proteção de direitos humanos, meio ambiente e empoderamento econômico.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são parte de uma iniciativa da ONU criada em 2015, para representar 17 metas de enfrentamento aos principais desafios de desenvolvimento no Brasil e no mundo. Esses objetivos abordam questões como erradicação da pobreza, educação de qualidade, igualdade de gênero e água limpa e acessível. Como os ODS devem ser alcançados em um prazo de 15 anos, a preocupação em torno de  seu cumprimento cresce à medida que o ano de 2030 se aproxima.

Nesta reportagem, a equipe Colab PUC Minas conheceu três organizações ligadas ao tema.

ONG Verde

A ONG Verde, uma entidade civil sem fins lucrativos fundada em 11 de setembro de 2010 no município de Rio Manso, é a casa de projetos socioambientais baseados na prática do consumo consciente. O objetivo da entidade é contribuir ativamente para a formação de pessoas que desejem construir um planeta sustentável. Por isso, para cumprir suas finalidades e desenvolver seus projetos, todas as ações da ONG estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).

De acordo com Céu Araújo, coordenadora de Projetos Socioambientais, os projetos da ONG trabalham com diversos ODS simultaneamente, como a Erradicação da pobreza, Igualdade de gênero e a Água limpa e saneamento:

Agora nós duas estamos conversando no seu computador, que está funcionando com 110 volts. Sabe com quanto que o meu funciona? Com 19. Você está usando 110 volts para conversar comigo e eu uso só 19. Entende a diferença? Então, o nosso uso é mais econômico e mais eficiente e os nossos equipamentos duram mais, né?”

-Céu Araújo

O principal projeto da organização é a Casa 12 Volts, em desenvolvimento desde 2012, que se dedica a apoiar atividades de educação ambiental e de agroecologia desenvolvidas pela entidade, além de atender demandas de comunidades carentes. O projeto é o primeiro no Brasil a conceber uma casa com funcionamento elétrico multivolts para ligar todos os aparelhos eletroeletrônicos e contribuir com a redução de gás na atmosfera. 

Além disso, a ONG Verde trabalha para fazer a diferença além do Brasil, por meio do projeto “Nha Escola” – ou “Minha Escola”, na língua crioula de Guiné-Bissau –, que procura adaptar a proposta da Casa 12 Volts a um conjunto de escolas daquele país.

Como a organização entende os diferentes objetivos da ONU?

  • Erradicação da pobreza (1):
    “A gente está trabalhando com a ODS 1, que é a erradicação da pobreza, porque a erradicação da pobreza tem a ver com o plantio”.
  • Fome zero e agricultura sustentável e Saúde e bem-estar (2):
    “A gente também tem projetos nessa área. A ODS dois, que é o Fome zero e Agricultura sustentável, que junta com ele. A agricultura sustentável é uma agricultura que não traz os impactos que o agronegócio traz, por exemplo. Na agroecologia, você não faz monoculturas até exauriu o solo, você mistura tudo”.
  • Educação de qualidade (4):
    “Tem outro espaço, que é uma horta também, que a gente está trabalhando com as professoras de Remanso para colocar o conteúdo na horta. Então você está na escola e você está com dificuldade em geometria, por exemplo. Aí a geometria vai para dentro dos canteiros. Ah não, você está com dificuldade em alguma coisa sobre história, qualquer que seja, vai o conteúdo para a horta. Português a gente convencionou, por exemplo, duas crianças têm muita dificuldade em separação silábica, como que separa, né, “car-ro” “fer-ro” aí a professora fala que a criança tem dificuldade quando têm “SC”, então quando ele chega na horta, ele encontra uma alface. O nome já está em separação silábica, ele nunca vai ler alface sem ser em separação silábica, então o português também está lá”.
  • Igualdade de gênero (5):
    “Por exemplo, nesse projeto da Guiné-Bissau, a gente fez um recorte feminino. Lá, as oficinas para treinamentos são para as mulheres. A igualdade de gêneros são recortes que você vai fazer nos projetos que você tem”.
  • Água limpa e saneamento (6):
    “A ONG verde tem o sistema de tratamento da água, a gente fala que a água do esgoto é toda tratada com bactéria. Uma empresa tem uma tecnologia, ela tem uma patente de umas bactérias, que elas podem ficar em dormência durante vários meses que elas não morrem. Então elas recebem os dejetos, coco e xixi, e tratam eles. Se você for lá, você vai ficar impressionado como é que não tem nem fedor. Sabe, é incrível, as bactérias limpam tudo”.
  • Energia limpa e acessível renovável para todos (7):
    “A maioria não faz como a gente, eles colocam energia solar, mas eles continuam usando a geladeira, as lâmpadas, o liquidificador, o som, a TV, tudo, com 110 Volts, que é a voltagem daqui da região Sudeste ou em 220 Volts. No nosso caso é diferente”.
  • Redução das desigualdades (10):
    “A gente vai começar um projeto agora para trabalhar também com oportunidade de emprego nessa área da triagem dos resíduos e dos agricultores, que plantam lá também”.

Quer saber mais?

A ONG Verde tem site próprio, com informações para quem deseja doar, ser voluntário ou visitar o espaço.

Perceba as mudanças na área verde antes e depois do início da atuação da ONG através deste timelapse.

Santa Casa

A Santa Casa BH é uma organização sem fins lucrativos que funciona desde 1899 com o propósito de garantir acesso gratuito a saúde de qualidade para todos. Em setembro de 2024, a Santa Casa BH se tornou o primeiro hospital 100% SUS do Brasil a aderir ao Pacto Global da ONU.

A instituição promove diversos projetos ligados aos ODS. De acordo com Beatriz Parreiral Xavier, analista referência Ambiental, Social e Governança (ASG), a Santa Casa faz questão de deixar prioridades claras e, por isso, destaca 4 ODS como prioritários e 4 como muito importantes. Para obter esse resultado, foi feita uma pesquisa interna com 1.060 partes interessadas (desde colaboradores até pacientes) cada um deveria responder 3 ODS que achavam mais importantes.

Os ODS definidos como prioritários são:

  • Saúde e Bem-estar Estar;
  • Educação de qualidade;
  • Trabalho Decente e crescimento econômico;
  • Redução das desigualdades. 

Para alcançar estas metas, a Santa Casa BH trabalha para oferecer atendimento médico de qualidade gratuito para todos, reduzindo a desigualdade na área da saúde. A instituição também mantém uma faculdade, que oferece formação de grau técnico à pós-graduação. 

Já os outros quatro ODS, considerados “muito importantes” pela instituição, são os seguintes:

  • Fome zero e agricultura sustentável;
  • Água potável e saneamento;
  • Igualdade de gênero;
  • Consumo e produção responsáveis.

Iniciativas

Segundo Beatriz, a coordenação de meio ambiente conta com uma equipe de analistas ambientais que gerenciam programas voltados ao descarte correto de resíduos hospitalares e comuns, poda, jardinagem, dedetização e reciclagem. Um dos destaques é a parceria com uma startup que transforma os resíduos alimentares da cozinha hospitalar em adubo por meio de compostagem.

Nossa cozinha prepara mais de 10 mil refeições diárias. O adubo produzido retorna para nós e é vendido em bazares, gerando recursos que financiam diversas atividades da Santa Casa.

-Beatriz Parreiral Xavier

Outro ponto destacado por Beatriz é a ampla área verde localizada atrás do Instituto Geriátrico, na Rua Domingos Vieira, no bairro Santa Efigênia. “Essa área abriga árvores centenárias e funciona como um jardim de chuva, ajudando a absorver a água da chuva e a prevenir alagamentos na região do Rio Arrudas. Além disso, melhora o microclima local”, afirmou.

A sustentabilidade também está presente na alimentação oferecida pelo hospital. Beatriz revelou que a Santa Casa é uma das poucas instituições de saúde do país a possuir o selo Green Kitchen. “Esse selo reconhece o cuidado com a origem dos alimentos. Boa parte vem de produtores familiares e orgânicos, garantindo refeições mais saudáveis e alinhadas às práticas sustentáveis”, explicou.

Ela também destaca o trabalho do Serviço de Nutrição e Dietética, que acompanha a alimentação de pacientes em diversas condições clínicas. “Desde aqueles que podem consumir alimentos sólidos até os que necessitam de nutrição clínica via sonda ou parenteral, todos recebem cuidados personalizados para atender suas necessidades nutricionais e garantir saúde e recuperação”, afirmou.

Segundo Beatriz, todas essas ações são fruto de um esforço coletivo: “Trabalhamos para integrar sustentabilidade e cuidado com a saúde, beneficiando não só os pacientes, mas também a comunidade e o meio ambiente”.

Bazar

Além destas iniciativas, a Santa Casa também tem um bazar que serve como polo de moda circular.

Nós vendemos milhares de peças ano passado e ao longo deste ano. Peças que seriam descartadas e que acabam voltando, você ver uma uma peça de roupa, por exemplo, ela pode consumir até 800 litros de água para ser produzida, uma blusa, um vestido e quando a pessoa compra de segunda mão, a gente está falando do upcycle, né? Que é a moda circular, então valorizamos bastante. Esse aspecto do bazar também internamente, nós temos um sisteminha em que por exemplo se eu vou reformar o meu escritório e tem algumas cadeiras que eu vou comprar mas as que eu vou descartar ainda estão em bom uso eu posso colocar na chamada lojinhas sabia? Eu disponibilizo para o resto da Santa Casa e alguém de outro escritório de outro setor que considere que pode eh aproveitar”

Beatriz também aponta que a Santa Casa trabalha para que haja um movimento interno e externo destas ações, para assim incluir tanto os clientes quanto os colaboradores. De acordo com a analista, tem sido feito um treinamento ASG com os colaboradores, uma iniciativa que promove o equilíbrio e o crescimento econômico com o cuidado com o meio ambiente e as pessoas em espaços corporativos.

De olho no prazo para o cumprimento dos ODS, que termina em 2030, a instituição organizou um Planejamento Estratégico 2021-2025, que visa “melhorar a vida das pessoas” ao disponibilizar saúde gratuita de qualidade.

Quer saber mais?

No site da Santa Casa, é possível encontrar informações sobre doações, voluntariado e visitas ao espaço.

Equipe da Santa Casa no treinamento ASG. Crédito: Acervo Santa Casa

Observatório do Milênio

O Observatório do Milênio de Belo Horizonte, marco da governança pública local, celebra 16 anos de atividade em 2024. Criado oficialmente em 2008, ele é fruto de uma articulação entre a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), instituições acadêmicas e organizações do terceiro setor. Com foco no acompanhamento das metas globais propostas pela ONU, o Observatório tornou-se um exemplo de como os municípios podem liderar o planejamento sustentável e a formulação de políticas públicas baseadas em dados.  

Um convite da ONU e o início de uma jornada

A história do Observatório começou em 2005, quando a ONU-Habitat convidou Belo Horizonte para integrar o projeto-piloto Localizando os Objetivos do Milênio, com a intenção de monitorar localmente os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Que são um conjunto de oito objetivos globais estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2000, que representaram um compromisso global para combater a pobreza, promover a igualdade e melhorar condições de saúde, educação e sustentabilidade ambiental. 

A partir desse convite, a Prefeitura iniciou a mobilização de instituições como UFMG, PUC Minas, FUMEC e Fundação João Pinheiro para construir uma rede colaborativa. Em 2006, foi publicado o primeiro Relatório de Acompanhamento dos ODM para Belo Horizonte, oferecendo um diagnóstico detalhado sobre as metas globais na realidade local. Dois anos depois, com a assinatura do primeiro Termo de Cooperação Técnica entre os parceiros, o Observatório foi formalizado e lançado publicamente.

Contribuições e atividades ao longo da trajetória

Desde sua criação, o Observatório do Milênio tem produzido análises consistentes e promovido debates que fortalecem o planejamento público. Entre suas principais realizações, destacam-se:  

  • Relatórios bianuais de monitoramento. Desde 2008, esses documentos detalham os avanços de Belo Horizonte em relação às metas globais.  
  • Revista do Observatório do Milênio, uma publicação semestral que reúne artigos acadêmicos e análises sobre desenvolvimento urbano.  
  • Oficinas, seminários e capacitações que mobilizam técnicos, acadêmicos e gestores em torno de temas relacionados aos objetivos globais.  
  • Painel de Indicadores ODS. Criado em 2019, esse painel reúne dados validados para monitoramento até 2030.  

Em 2022, o terceiro Relatório de Acompanhamento dos ODS trouxe análises atualizadas sobre os indicadores locais, destacando o alinhamento entre as metas globais e as ações municipais.

Transição para os ODS

Com a conclusão do ciclo dos ODM em 2015, a ONU lançou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), ampliando o escopo para 17 objetivos e 169 metas que abarcam as dimensões social, econômica e ambiental. O Observatório do Milênio se adaptou rapidamente a essa nova agenda, renovando sua estrutura e ações. 

Entre as inovações desse período, destaca-se a criação do Orçamento Temático ODS, que vincula as contribuições orçamentárias municipais às metas globais, assegurando que os recursos públicos estejam alinhados com os compromissos de sustentabilidade.

Desafios e oportunidades até 2030

Com a Agenda 2030 em plena execução, o Observatório do Milênio enfrenta desafios, como o aprimoramento do monitoramento de indicadores e a ampliação do impacto de suas análises na formulação de políticas públicas. A rede busca fortalecer a participação social e a integração entre diferentes atores, garantindo que o desenvolvimento sustentável seja uma realidade em todas as áreas da cidade. 

Ao completar 16 anos, o Observatório reafirma sua missão de integrar ciência, sociedade e gestão pública. Seu legado demonstra que um planejamento fundamentado em dados pode transformar a realidade urbana, contribuindo para um futuro mais justo, sustentável e inclusivo.

Belo Horizonte 10 em anos com os ODS

Enquanto muitas ONGs trabalham para Belo Horizonte alcançar os ODS da ONU, será que o público em geral está informado sobre o assunto e conhece os termos e temas que circulam quando se fala sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável?

O Google Trends é uma ferramenta que permite visualizar a relevância de assuntos de acordo com pesquisas na internet. Por meio deste recurso, a reportagem realizou um levantamento do termo “ODS”, a fim de identificar as pesquisas sobre ele durante os anos de 2015 até 2024.

Estes resultados mostram o interesse crescente pelo assunto e pelas ODS, mostrando um possível engajamento maior por parte do público, em uma escala de 1 a 100, significando que quanto mais pesquisas feitas em um estado, mais próximo do 100 ele está, e quanto mais distante de 1, menos pesquisas são feitas no Estado.

Reportagem desenvolvida por Silvia Lanna, Gabriel Rezende, Mateus Magalhães, Pedro Penido e Pedro Caliman para a disciplina de Laboratório de Jornalismo Digital no semestre 2024/2 sob a supervisão da profª Nara Lya Cabral Scabin.

Leia também: Entenda os desafios na prestação de contas das ONGs

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Colab é o Laboratório de Comunicação Digital da FCA / PUC Minas. Os textos publicados neste perfil são de autoria coletiva ou de convidados externos.

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