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Qual o peso do complexo de vira-lata na cultura nacional?

Ex-presidente Jair Bolsonaro em encontro com o presidente estadunidense Donald Trump (Foto: Kevin Lamarque / Reuters)

Você já parou para reparar o tipo de produção cultural que consome? Sabe identificar quanto desse consumo é produzido nacionalmente?

Apesar de termos um farto acervo de produções artísticas, intelectuais e culturais de qualidade, muitos brasileiros ainda desvalorizam o que é nacional e supervalorizam o que vem de fora. A  “síndrome de vira-lata”, conforme termo usado pelo jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues após a derrota do Brasil para o Uruguai na Copa do Mundo de futebol em 1950, ultrapassou os limites do esporte.

O também chamado “vira-latismo” ou “complexo de vira-lata” se espalhou para outros setores da cultura, passando a designar o sentimento de inferioridade do Brasil ou dos brasileiros em relação a outros países.

De acordo com os dados coletados em 2024, nas salas de cinema no Brasil, dos 10 filmes com maior público, apenas um era brasileiro. Entre os 20 livros mais vendidos, apenas 8 eram nacionais, o que revela a preferência pelo consumo de produções culturais estrangeiras em detrimento das nacionais.

Nesta reportagem, o Colab busca entender por que esse complexo de inferioridade ainda persiste, como se manifesta, as consequências para a cultura e a autoestima da população, bem como se é possível superá-lo.

Origens históricas do complexo cultural brasileiro

Não é novidade que os portugueses chegaram ao continente sul-americano e exploraram a terra, o povo indígena e ainda escravizaram negros africanos. Mas nem tanto se fala sobre como essa elite justificou essas ações pelo conceito de superioridade racial.

A lógica de que os europeus estariam trazendo a razão e a civilização veio junto na mala. Considerado o país mais miscigenado do mundo, de acordo com o projeto DNA do Brasil, o Brasil poderia ser o berço da valorização de todas as culturas que favoreceram sua construção. Mas as origens afrodescendentes e indígenas não agradavam muito os colonizadores e as elites a eles vinculadas.

De acordo com o professor de Sociologia da PUC Minas, Euclides Neto, mais conhecido como Kika, que também é mestre em Comunicação e Cultura, “essa visão faz parte de um complexo que deriva da ideia de que, por sermos um povo miscigenado, trazemos em nós todos os traços negativos das ‘raças’, segundo uma visão antiga e equivocada da pseudociência racial, que classificava pessoas como superiores ou inferiores com base na cor da pele ou origem étnica”.

Kika explica que foram se desenvolvendo certos padrões culturais, como mimetizar a cultura francesa e, mais tarde, seguir o American way of life, que valoriza o nacionalismo estadunidense. Ironicamente, os brasileiros reproduzem tal patriotismo, liberalismo e consumismo. Kika ainda explora o conceito de soft power, o poder de influência cultural, que os Estados Unidos possuem ao vender não somente produtos, mas também estilo de vida.

O complexo abrange as características de autodepreciação do que é interno e supervalorização do exterior, falta de confiança nas qualidades locais e interiores do sujeito e comparações constantes com aquilo que é feito pelo outro ou em outras regiões consideradas “superiores” economicamente.

Fotografia de Nelson Rodrigues em primeiro plano em preto e branco, acenando e sorrindo, em arquibancada de um estádio de futebol. Está vestido com roupa formal, camisa social e paletó, com pessoas à sua volta.
Jornalista e escritor Nelson Rodrigues (Foto: Reprodução / Correio Braziliense)

O trauma do Maracanazo e a disseminação do complexo

Em 1950, durante a final da Copa do Mundo no Maracanã, o Brasil perdia para o Uruguai e veio à tona um trauma nacional: Maracanazo. Esse momento transformou o que o passado colonial já vinha construindo em um sentimento concreto de inferioridade na sociedade brasileira. Então, o dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues observou que muitas pessoas agiam como “cães sem raça”, famosos vira-latas, os quais consideravam que tudo do exterior era melhor.

Título mundial de 1950 no Maracanã lotado (Foto: Reprodução Arquivo/AP)

Em comparação com a política nacional de “50 anos em 5“, da época de Juscelino Kubitschek, que buscava modernização e reconhecimento internacional, essa mentalidade não contribuiu muito para os planos do presidente. Mais tarde, Collor chegou a dizer que o Brasil andava de carroça, criticando a falta de desenvolvimento.

Quando a globalização se ampliou nos anos 1990, as formas de acesso ao que era de fora também foram facilitadas e, assim, a comparação com outros países e culturas pode ter sido acentuada e complexificada. O advento da internet é um elemento importante nesse processo, assim como o surgimento das redes sociais, a popularização dos rankings internacionais e de premiações culturais (como Oscar e Emmy, voltados ao cinema e audiovisual).

A síndrome de vira-lata em ação

A síndrome de vira-lata, que começou no campo esportivo, enraizou-se nas atitudes cotidianas da população brasileira. Hoje, manifesta-se de forma ampla e, muitas vezes, silenciosa em comportamentos sociais, gostos culturais, preconceitos linguísticos e símbolos de status. 

Segundo Kika, a síndrome é como uma camada cultural sedimentada por gerações, com raízes profundas no passado colonial e escravocrata do Brasil. “A escola que foi criada para educar os colonizados era a escola do colonizador”, afirma. Isso significa que o brasileiro aprendeu desde cedo a se perceber como inferior, principalmente se estivesse distante da referência europeia. A elite brasileira, por sua vez, esforça-se até hoje para mimetizar o que considera superior: antes a França, hoje também os Estados Unidos. Essa lógica de identificação com o dominador ainda define o que é “chique”, “moderno” ou “digno de respeito”.

Fotografia de Nay Jinknss na exposição Vetores-Vertentes: Fotógrafas do Pará – (Foto: Luiza Barbosa)

Isso aparece, por exemplo, na forma como a sociedade consome cultura. O professor Edmundo Novaes, da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas, mestre em Literaturas de Língua Portuguesa e Doutor em Artes, aponta que “há uma vergonha de falar com sotaque, um uso forçado de expressões em inglês para dar mais status a ideias simples”. 

É comum ver nomes de estabelecimentos comerciais, slogans de campanhas e projetos culturais com títulos em inglês, mesmo quando direcionados ao público local. Essa escolha revela mais do que preferência estética, escancara uma busca por legitimidade importada.

Cultura popular, sotaques e linguagens

Outro sintoma evidente está no rebaixamento da produção cultural popular brasileira. Ritmos como o funk, o forró e o repente ainda são rotulados como “inferiores”, “vulgares” ou “desorganizados”. Como destaca Novaes, “a elite insiste em manter distância simbólica do povo”. Essa distância se impõe inclusive quando a estética popular começa a ser valorizada, mas apenas após passar por processos de “higienização” ou validação externa. 

O próprio consumo de moda, arte e produtos de tecnologia obedece essa lógica. Como lembra Kika, a síndrome de vira-lata produz “dualidades culturais”: brega e chique, civilizado e bárbaro, erudito e popular. E isso não se limita às classes altas, é um padrão mental reproduzido inclusive por aqueles que sofrem com ele. As redes sociais aprofundaram esse cenário, ao estabelecerem parâmetros de beleza, comportamento e sucesso cada vez mais alinhados ao padrão estadunidense. O American way of life tornou-se, paradoxalmente, o objetivo a ser alcançado por brasileiros que vivem realidades completamente distintas.

A língua também é um campo de batalha. O preconceito contra sotaques regionais, a vergonha de dizer certas expressões, como “oxente” ou “uai”, em ambientes formais, e a tentativa de neutralizar a fala são exemplos da hierarquização simbólica que coloca o país no banco dos réus da própria identidade. Como explica Kika, “o Brasil ficou acostumado a pensar a condição de brasileiro como inferior”.

Consequências da desvalorização

No Brasil, terra do samba, de filmes que provocam reflexão, de livros aclamados e de uma música popular vibrante que ecoa por todo o país, por que ainda achamos tão difícil dar valor ao que é nosso? A resposta reside em uma questão enraizada e duradoura. Essa forma de pensar se manifesta claramente no dia a dia da cultura brasileira. Muitos ainda evitam filmes feitos no Brasil. Nas livrarias, autores brasileiros atuais muitas vezes ficam escondidos atrás de livros estrangeiros mais vendidos. 

Fotografia de Nay Jinknss na exposição Vetores-Vertentes: Fotógrafas do Pará (Foto: Luiza Barbosa)

Mercado fragilizado

A falta de interesse em filmes nacionais mostra mais do que apenas preferências. Revela uma falta de confiança na capacidade do Brasil de produzir obras de qualidade. Isso se deve, em parte, ao poder das grandes distribuidoras de outros países, mas também a uma ideia de que a cultura local não é “refinada” o suficiente. 

Ao perguntar nas ruas sobre o consumo cultural e o quanto dele é nacional, torna-se perceptível a preferência pelo que vem de fora. Diante do pouco que se conhece e valoriza da cultura brasileira, surge a pergunta: isso é suficiente? Confíra o vídeo:

Segundo a Agência Nacional do Cinema (Ancine), , em 2024 foram lançados 456 filmes nos cinemas, sendo 197 brasileiros e 259 estrangeiros. Nas salas de cinema do Brasil, apenas 15,7% (668.692) das sessões foram destinadas a filmes nacionais, enquanto 84,3% (3.588.639) exibiram produções internacionais. Ao todo, foram exibidos 310 longas brasileiros, que somaram um público de mais de 12 milhões de pessoas e geraram uma renda de R$ 250 milhões. Em contrapartida, os 456 longas internacionais alcançaram um público de 112 milhões, quase dez vezes maior, e arrecadaram R$ 2,2 bilhões.

Na literatura, a situação é parecida. Enquanto autores como Italo Calvino ou Stephen King fazem sucesso, escritores como Marcelino Freire, Conceição Evaristo e Itamar Vieira Junior ainda lutam para serem notados pelo mercado e pelo público em geral. “Como podemos formar leitores que entendam a realidade se não valorizamos nossas próprias histórias?”, questiona a Profª Antônia Montenegro.

Na música, a situação é ainda mais marcante. O funk, que surge nas periferias, é criminalizado, o mesmo aconteceu com o samba no passado. “Esses ritmos são vistos como ‘coisa de bandido’ ou ‘sem cultura’, o que mostra um pensamento elitista que rejeita o que vem das pessoas mais simples”, afirma a doutora Antônia.

Essa falta de interesse pela cultura nacional afeta diretamente o mercado. Com pouca divulgação e pouco público, as produções brasileiras têm dificuldade para conseguir dinheiro. Muitas vezes, o reconhecimento só vem  quando uma música faz sucesso em outros países. Só então se torna “aceitável”.

Essa busca incessante por validação alheia alimenta a continuidade da sujeição cultural. De acordo com Montenegro, “a cultura do Brasil persiste, mas só ganha real valor quando não a vemos mais como algo ‘local’ e passamos a enxergá-la como algo ‘global’”.

Mesmo diante deste quadro complexo, a professora visualiza alternativas viáveis: iniciativas governamentais de apoio à cultura, formação educacional reflexiva e união entre universidades e grupos culturais. “Não devemos construir uma visão de auto-exaltação e superficial”, explica Montenegro. “A cultura brasileira é plural. O melhor é dar voz a todas as expressões, valorizando sua variedade”.

Discursos midiáticos amplificam o complexo

Formandos de Publicidade e Propaganda da PUC Minas desenvolveram um trabalho de conclusão do curso (TCC) que analisa os discursos na mídia em relação à performance de Fernanda Torres no filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles. O grupo leva em consideração o complexo de vira-lata no cinema brasileiro e percebe que as redes sociais têm um papel fundamental na amplificação do complexo e de sentimentos tanto de valorização quanto de desvalorização

Apresentação de TCC por alunos da FCA (Foto: Sophia Peixoto)

A pesquisa extraiu comentários das plataformas Instagram e X sobre as premiações internacionais do filme e a performance da atriz e identificou o sentimento ambíguo dos brasileiros. Mesmo os comentários de comemoração revelam traços do complexo “Essa comoção que aconteceu pelo alcance e a visibilidade que o filme conseguiu, é somente porque são prêmios internacionais americanos” analisou Bruna. 

O grupo concluiu na sua pesquisa que as redes sociais refletem e reforçam esses sentimentos de inferiorização e também essa busca pela validação internacional. Assim como dito por Novaes “Quando um filme brasileiro ganha Cannes ou Berlim, aí sim ele vira cultura. Antes disso, era só ‘coisa local’.

Romper com esse ciclo exige mais do que celebração pontual do que é nosso. É preciso reconhecer que as manifestações da síndrome de vira-lata estão embutidas em hábitos cotidianos, em políticas de consumo e até na forma como se constrói o prestígio. Só quando o Brasil enxergar sua diversidade cultural como potência e não como desvio será possível começar a curar essa ferida simbólica.

Afirmando a identidade frente à desvalorização

Enquanto a insistente desvalorização cultural mantém o Brasil submisso ao modelo estrangeiro, iniciativas artísticas, grupos periféricos, ações governamentais e mídias sociais demonstram a vitalidade e combatividade da cultura nacional. Nesse contexto, resistir é também se afirmar, não como imitação, mas como o núcleo de uma história vibrante.

Fotografia de Leila Jinkings na exposição Vetores-Vertentes: Fotógrafas do Pará (Foto: Luiza Barbosa)

Antônia Montenegro, declara que “a cultura brasileira persiste. As pessoas são ativas, e a cultura também o é”. Para ela, apesar da idealização do que é externo, existem experiências autênticas que prosperam à margem, nas periferias, nos interiores e nos corpos historicamente silenciados.

A reafirmação das vozes marginalizadas na arte

Filmes como “Bacurau” (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, e “Marte Um” (2022), de Gabriel Martins, são exemplos de um cinema de resistência que supera a estética colonizada e recupera a perspectiva brasileira sobre si. Como explica o professor Edmundo Novaes, essas produções desafiam o padrão e apresentam narrativas próprias.

A valorização da cultura afro-brasileira, indígena e popular tem sido uma das principais frentes de mudança simbólica no país. “A cultura brasileira é um mosaico. O ideal é dar espaço para todas as manifestações culturais, em sua variedade e diversidade”, afirma Montenegro. 

Políticas públicas e a luta pela valorização

As mídias sociais também servem como ferramenta de afirmação. Influenciadores indígenas, nordestinos, negros e periféricos têm ganhado destaque e criado novas narrativas. Para Novaes, “a discussão sobre identidade, negritude, cultura popular e regionalismos tem crescido muito por causa das redes, dos coletivos culturais e das universidades públicas”.

Enfrentar o desaparecimento da nossa cultura não depende só de talento e desejo, mas de planejamento. Leis como a Rouanet e a Aldir Blanc têm viabilizado que artistas e agentes culturais consigam apoio financeiro para produzir e divulgar seus trabalhos. “A arte brasileira precisa lutar muito para ter algum reconhecimento. Isso impacta o dinheiro, as avaliações e a formação de público”, comenta Novaes. Ela ainda ressalta a importância dos Pontos de Cultura como lugares essenciais para ampliar o acesso e dar visibilidade ao que antes era deixado de lado.

O papel da escola na mudança

A escola, muitas vezes deixada de lado nas discussões sobre cultura, é um ponto chave. “Desde a escola, a cultura do Brasil aprendeu a se ver como menor, porque a escola foi feita por quem nos colonizou”, explica o professor Kika. Para ele, é fundamental que a educação deixe de repetir as ideias da colonização e comece a valorizar as culturas negra, indígena e popular como fontes verdadeiras de saber.Montenegro concorda: “As escolas precisam colocar em prática, todos os dias, orientações que valorizem a cultura afro-brasileira, indígena e de quilombos. Isso precisa estar nos programas de ensino, nos livros e em outros materiais, na mídia”.

A luta para manter viva a cultura brasileira é, também, uma ideia de futuro. Um futuro onde Caetano Veloso mereça tanto um Nobel quanto Bob Dylan, onde Anitta seja respeitada pelo que ela representa, e onde nenhuma criança tenha que sentir vergonha do seu jeito de falar, da cor da sua pele ou da sua história.Como lembra Kika, “o importante não é dizer que somos os melhores, mas parar de achar que eles são sempre melhores do que a gente”. Essa mudança de ponto de vista mais do que uma simples atitude é um ato político, urgente e que muda tudo.

Caminhos para superar o complexo e valorizar o Brasil

A busca por superar a “síndrome de vira-lata” já gerou movimentos culturais significativos, como o Tropicalismo, que na década de 1960 reuniu ritmos brasileiros para mostrar a integração das sonoridades nacionais. Artistas como Caetano Veloso, Rita Lee e Gilberto Gil provocavam a sociedade com letras que desafiavam comportamentos e preconceitos da época.

Apesar disso, o Tropicalismo foi duramente criticado, inclusive por seus pares, que rejeitavam a mistura com elementos estrangeiros, como a guitarra elétrica. Como explica o professor Kika, “esse purismo de esquerda, por exemplo, vaiou a Tropicália. Ela é considerada uma nova antropofagia, um movimento contrário ao purismo”.

Arte de André Melo (Reprodução: O Globo)

Esse purismo, que busca algo 100% “puro” e original, pode ser perigoso porque rejeita tudo que vem de fora. Kika compara essa postura ao personagem Policarpo Quaresma: “Não adianta criar um sentimento antagônico aos bens culturais estrangeiros. O essencial é saber julgá-los e utilizá-los.” A contradição é constante: enquanto uma parte da sociedade defende uma forma “culta” de exportar a cultura brasileira — como a bossa nova —, outra parte rejeita manifestações populares reconhecidas internacionalmente, como Anitta, criticada mesmo após indicações a prêmios globais.

Um caso semelhante aconteceu com Carmen Miranda, que apesar de nascida em Portugal, sempre expressou seu amor pelo Brasil durante sua carreira em Hollywood. Criticada pela suposta “americanização”, respondeu com a música “Disseram que Voltei Americanizada”, que até hoje é lembrada.

A esperança no audiovisual

Hoje, medidas para fortalecer o audiovisual nacional ganham espaço. O programa de streaming Tela Brasil, da Secretaria do Audiovisual (SAV), promete democratizar o acesso a produções nacionais, embora ainda sem data definida para lançamento. Outro avanço é a cota de telas, que obriga a exibição de filmes brasileiros nas salas de cinema, garantindo espaço num mercado dominado por blockbusters estrangeiros.

Estudantes de cinema da PUC Minas veem com otimismo a valorização do audiovisual nacional, apesar dos desafios. Guilherme Pires reconhece a forte presença dos filmes norte-americanos, mas destaca: “Existem muitos cinemas brasileiros e sucessos do cinema nacional; ainda há muito a crescer, principalmente na distribuição.” Gabriel Faria aponta a falta de investimentos estruturais para produções de entretenimento, já que faltam empresas que financiem vários grandes projetos simultaneamente.

Ao focar excessivamente na busca por uma imagem “apresentável” para a mídia internacional, a cultura autêntica acaba negligenciada. A população deixa de olhar para dentro e combater mentalidades enraizadas desde a escravidão. 

Como conclui o professor Kika, “precisamos identificar e erradicar as forças estruturantes que perpetuam essa mentalidade escravocrata.” Isso inclui o reconhecimento das tradições de matriz africana, das práticas indígenas e dos saberes populares como elementos centrais da identidade nacional.

A evolução depende de uma mudança social que valorize a cultura genuína do Brasil e dê voz aos povos historicamente rejeitados e apagados pela própria sociedade que deles descende.

Este conteúdo foi produzido por Ana Amorim, Ana Valacio, Luiza Barbosa, Sophia Peixoto e R. Henrique sob supervisão da professora e jornalista Fernanda Sanglard na disciplina Apuração, Redação e Entrevista . As monitoras Izabella Gomes e Alice Otonni auxiliaram na edição digital. 

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