De quatro em quatro anos acontecem as Olimpíadas, evento esportivo mais importante do mundo. Países dos cinco continentes se reúnem para competir entre diversas modalidades e disputar o ranking de medalhas. Junto deste evento, desde 1960, acontecem também as Paraolimpíadas. Atletas com algum tipo de deficiência podem representar sua nação em busca das tão sonhadas medalhas. Atualmente, o esporte paralímpico tem grande importância no cenário mundial, visto que é uma prova de superação para os competidores.
O Esporte Paralímpico brasileiro vem crescendo a cada ciclo olímpico, inclusive batendo recorde de número de medalhas na última edição, em Tokyo. Na edição de 2021, por exemplo, o Brasil ficou na sétima colocação geral, com 72 pódios. Foram 22 de ouro, além das 20 medalhas de prata e 30 de bronze.
A caminhada do Brasil
A evolução da participação do Brasil nas Paralimpíadas tem sido notável ao longo dos anos. Desde a sua estreia em 1972, quando não conquistou nenhuma medalha e participou apenas de quatro modalidades, o Brasil vem progredindo constantemente e alcançando resultados cada vez mais expressivos.
Na década de 80, entretanto, o país deu um salto significativo na Paraolimpíada de Verão, realizada na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Nessa ocasião, os atletas brasileiros conquistaram 28 medalhas e demonstraram, dessa forma, um crescimento notável em relação às edições anteriores, visto que, alcançaram a 24ª colocação no quadro geral de medalhas. Esse feito demonstrou então, que o Brasil estava começando a se consolidar como uma força competitiva no cenário paralímpico.
O incício da ascenção
Em 2004 o recorde que durava desde 1984, onde foram conquistadas 28 medalhas, foi enfim quebrado com um total de 33 medalhas conquistadas, sendo 14 de ouro. No ciclo seguinte, em 2008, nova quebra de recordes, com 47 medalhas totais. Nas paralimpíadas de Londres, que ocorreu em 2012, se encerrou a quebra sequencial em quantidade de medalhas. Porém o recorde de medalhas de ouro foi atingido, com 21 conquistas e o Brasil atingiu a sua melhor colocação no ranking geral da competição. Naquela oportunidade o país acabou em 7º lugar.
E foi nas Paralimpíadas de 2016, em casa, onde o maior salto aconteceu. Apesar de não chegar nas 21 medalhas de ouro conquistadas em Londres, a delegação brasileira alcançou a incrível marca de 72 medalhas no geral, sendo um recorde absoluto na história do país. No entanto, foi na última competição, em 2020, no Japão, que o Brasil teve sua participação mais expressiva até o momento. Apesar do adiamento para 2021 devido à pandemia de Covid-19, a equipe paralímpica brasileira brilhou nos Jogos Paralímpicos. Conquistou novamente 72 medalhas, mas, desta vez, 22 delas foram de ouro. Tal feito colocou o Time Brasil novamente em sua maior colocação – até hoje – em ciclos olímpicos, repetindo o 7º lugar conquistado em Londres.
A importância do incentivo e investimento
Nas últimas paraolimpíadas, a maior delegação que o Brasil já levou para os jogos, chegou ao Japão. De acordo com o portal do governo Rede do Esporte, de um total de 236 atletas, 226 destes (95.7%) fazem parte de um programa de patrocínio direto da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, com um investimento total de 117 milhões de reais em investimentos federais via Bolsa Atleta. Estes recursos foram repassados a estes profissionais desde 2005, até o início dos jogos, disputados em 2021.
O aumento de investimentos e apoio influi diretamente sob esta crescente de conquistas brasileiras. O gráfico abaixo apresenta todas as medalhas de ouro, prata e bronze conquistadas pelos atletas brasileiros em todas edições de paralimpíadas.
Mais investimento, mais resultados
Entre as paraolimpíadas do Brasil (2016) e a que ocorreu no Japão (2021), foram repassados aproximadamente R$75 milhões diretamente ao elenco brasileiro. Atletas de 15, das 20 modalidades em que o Brasil disputou, foram beneficiados com verbas do programa. A partir disso – contabilizando as duas edições – o Brasil se colocou no primeiro escalão no quadro de medalhas, obtendo 72 medalhas totais em ambas. O notório avanço – em relação às edições anteriores – demonstra, então, que o investimento trazido nos últimos anos influi sobre o desempenho dos atletas. Muitos deles, que antes precisavam dividir a atenção entre o trabalho convencional e os treinos, agora, focam apenas nas práticas esportivas. Além disso, o investimento também trouxe melhores equipamentos e centros de treinamento.
Igualmente, um fato importante que mudou o rumo dos esportes olímpicos e paraolímpicos no país, foi a implementação da Lei nº 10.264 Agnelo/Piva. Em 2001, às vésperas dos jogos de Sydney, a institucionalização deu, como resultado, um importante respaldo financeiro e se colocou como uma fonte permanente de recursos. Foi, igualmente, um grande passo para a modernização e profissionalização dessas atividades.
A lei prevê que 2,7% do total bruto de arrecadação das Loterias Caixa sejam destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), nas proporções de 62,96% e 37,04% respectivamente. Segundo dados da Loteria Caixa, só no ano de 2020, a arrecadação bruta com apostas chegou ao número recorde de R$ 17,1 bilhões, o que destinou cerca de R$ 460 milhões para os comitês olímpico e paralímpico.
O crescimento no ranking histórico de medalhas
Bandeiras levantadas: acessibilidade e inclusão
Como um evento inclusivo, além da participação exclusiva de pessoas com deficiência, é de se esperar que as Paralimpíadas realizem um grande movimento para promover a acessibilidade, tanto para as pessoas que praticam o esporte quanto para os espectadores. Vale ressaltar, que a acessibilidade vai além das pessoas com deficiência. O termo também inclui idosos, famílias com crianças e quaisquer outras pessoas que precisem de assistência.
Um bom exemplo de projetos de inclusão e acessibilidade são os Jogos Paralímpicos do Rio, que aconteceram em 2016. Semanas antes das competições, atletas e turistas participaram de evento-teste no aeroporto do Galeão, como aponta a Rede do Esporte, agência de notícias com informações sobre os investimentos do governo federal em todas as instâncias do esporte. Na ocasião, a infraestrutura do aeroporto carioca foi testada, visando a correção de erros e verificando o funcionamento de ferramentas de mobilidade, rampas de acesso e adequação correta de equipes de acompanhamento.
Diante disso, o crescimento e desenvolvimento do Brasil como potência paralímpica é notável. O Comitê Paralímpico Brasileiro segue trabalhando para promover a prática do paradesporto através de projetos e incentivos para as pessoas. Projetos como o Festival Paralímpico, Escola Paralímpica de Esportes, Paralimpíadas Escolares e Universitárias são responsáveis por promover o esporte paralímpico entre as crianças e jovens com deficiência e também proporcionar o trabalho de descobrir novos talentos para o alto rendimento, afinal, é da base que nascem os campeões do futuro. Em Tóquio, 2021, o Brasil competiu com a maior delegação em Jogos Paralímpicos no exterior, com 259 atletas.
A luta pelo investimento
Outro ponto importante a se destacar, no entanto, é a visibilidade alcançada com essa crescente do paradesporto. Apesar do aumento dos esportes paralímpicos, a modalidade sofre a ausência de alguns fatores cruciais. O professor de educação física na rede pública Robson Nassif, de 27 anos, explica sobre: “O esporte paralímpico não recebe o mesmo investimento do esporte olímpico, isto porque o Brasil está sempre bem nos rankings de medalhas nas competições paralímpicas. Há atletas de muito potencial, porém, falta um maior investimento para que eles possam se dedicar exclusivamente aos esportes, sem ter que depender de ajuda ou de outro emprego para viver. Isso é o que dificulta ainda mais de se dedicar ao esporte”, pontuou o educador físico.
Apesar da dificuldade financeira, o professor de educação física da rede estadual de Minas Gerais, Cleber Barroso de Oliveira, de 39 anos, acredita que o esporte paralímpico apresenta nuances que vão além do desporto. Além disso, ele pontua que questões externas refletem no dia a dia dos atletas envolvidos: “Quando se trata da prática esportiva e falando de maneira exclusiva da inclusão de pessoas com deficiência, percebe-se que o esporte pode proporcionar diversos benefícios que vão muito além da questão física. Aspectos relacionados ao bem-estar psíquico e social fortalece o também a compreensão e valorização das diferenças individuais”, comentou Cleber.
Acessibilidade aliada ao esporte
Depois do evento Rio 2016, as pessoas puderam ter um contato mais próximo com modalidades e conhecer atletas que sequer conheciam. Uma das maiores conquistas da Olimpíada, a princípio, foi o aumento da visibilidade do esporte paralímpico, apesar do recorde de medalhas totais na história do país. Essa crescente passa, na visão de Robson, uma importante mensagem para toda a sociedade, em especial as pessoas com algum tipo de deficiência. “O esporte para pessoas com deficiência contribui para modificar visões errôneas por parte da sociedade, que, por outro lado, ainda enxergam somente o lado de incapacidade e assistencialismo para com as pessoas com deficiência física.” Dessa forma, pode-se, além de aumentar a visibilidade, impulsionar, também, o investimento na modalidade.
Outro fator importante do sucesso das modalidades paralímpicas é o fator motivacional que pode gerar na população deficitária, como aponta Nassif. “O esporte paralímpico muitas vezes se torna a porta de entrada em determinadas modalidades para pessoas que possuem alguma deficiência. É isso que, também, dá oportunidade para vários tipos de pessoas mostrarem suas qualidades e buscarem o seu melhor potencial em uma disputa justa através das classificações de deficiência”, concluiu o educador.
Conteúdo produzido por Adaílton Nogueira, Christian Maia, Daniel Martins, Fernando Sapore, Gabriel Dutra, João Marcelo Albuquerque, João Pedro Lima, Marcos Leite, Marco Túlio Amaral, Thaís Frade, Rayner Meira. Foi feito na disciplina de Laboratório de Jornalismo Digital e Jornalismo de dados, sob a supervisão da professora e jornalista Maiara Orlandini.
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