Luiza Fiorese é formada em jornalismo pela PUC Minas e atleta profissional da Seleção Brasileira de Vôlei Sentado. Direto das Paralimpíadas de Tóquio, ela concedeu uma entrevista ao Colab com o tema “O papel do jornalismo na cobertura das Paralimpíadas”.
Ao longo de suas respostas, Luiza reforça a importância de uma cobertura jornalística de qualidade para o combate ao capacitismo durante e após o período dos Jogos. Além disso, ela oferece dicas para que profissionais da área mantenham seus discursos livres de preconceito e apoia as mudanças que vêm acontecendo no jornalismo em relação aos esportes e atletas paralímpicos.
Para você, qual é o papel do jornalismo no combate ao capacitismo durante as Paralimpíadas?
Eu acho que o jornalismo tem um papel fundamental e geral na construção da identidade social das pessoas. É claro que não é como a teoria da agulha mágica, em que dizem que tudo que a mídia fala, as pessoas vão acatar completamente. Mas, quando a gente fala a longo prazo, na construção de uma identidade e de uma sociedade como um todo, o jornalismo é fundamental. Ele sempre teve uma visão meio capacitista, de focar muito nas “histórias de superação”, e a gente não gosta muito dessa palavra. Foca-se muito nas histórias das pessoas e pouco nos rendimentos. Isso tem mudado aos poucos, e eu acho que essa Paralimpíada está sendo muito diferente de tudo que eu vi até hoje. Não sei se é uma percepção de bolha, porque eu tenho essa visão, mas acredito que está mudando sim.
Você acha que a forma como os Jogos Paralímpicos são transmitidos e comentados nas emissoras de TV atualmente contribui positivamente para a divulgação dos esportes apresentados ali?
Hoje, eu vejo coberturas bem mais dinâmicas, com um tratamento que um atleta merece receber como atleta. É claro que não é de uma hora pra outra que isso vai mudar, mas se o jornalismo se mantiver falando dessa forma com as pessoas, elas vão começar a entender melhor, e isso vira um ciclo. Não é só a mentalidade do público, não é só a mídia, não é só a empresa – isso é um ciclo. A gente muda como um todo essa mentalidade e, com certeza, a gente vai ter avanços. Depois do Rio [Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro, realizados em 2016] eles já começaram, mas eu vejo que, nessa Paralimpíada, está sendo bem legal. Está sendo diferente.
Como jornalista, o que você mudaria na forma como a grande mídia trata os esportes paralímpicos?
O conselho como atleta, para as pessoas, é tomar cuidado com a curiosidade. Buscar saber mais sobre resultados, e menos sobre o que essa pessoa passou, qual a deficiência dela, o que ela teve… Não é que a gente tenha vergonha da nossa história, de forma alguma. Eu, pelo menos, tenho muito orgulho de tudo que eu fiz e de tudo que eu passei, mas esse não é o foco aqui. Tem meninas aqui no time que eu nem sei o que aconteceu, sabe? A gente não foca nisso. Acho que é isso que a gente gostaria que as pessoas fizessem também.
No papel de atleta, qual seria sua dica para jornalistas e espectadores que pretendem acompanhar as paralimpíadas pela primeira vez nesta edição?
Não foquem na nossa patologia, mas sim nos nossos resultados, no que a gente faz como atleta. Nós estamos condicionados a focar um pouco nisso [na patologia]. Mas eu acho que é uma construção e que a gente precisa começar a mudar. Hoje, vejo que, como comunicadora, eu tenho essa vontade de mudar, tenho essa vontade de fazer com que as pessoas tenham essa outra visão. Então, é por isso que eu me vejo em um papel importante, de olhar para os comunicadores e falar “olha, eu entendo que a gente tem que fazer o que é passo pra gente, mas a gente pode mudar isso”. A gente pode mudar essa mentalidade. Com as pessoas começando a acompanhar mais os nossos resultados, isso é um ciclo e vai mudando aos poucos
A dica que eu dou é começar a olhar para o atleta como atleta, e ponto. Não é o paratleta. Para as pessoas é isso e, para jornalistas, tomar cuidado com os nomes. Não é “deficiente”, é pessoa com deficiência, exatamente porque a pessoa vem antes da deficiência. Tomar cuidado com as expressões…. Tomar cuidado com as coberturas, tentar não focar tanto nas histórias e, sim, nos resultados. Quando a gente fala do audiovisual, não usar uma música muito dramática, muito melosa. Isso acaba tendo uma conotação que a gente não gosta. São várias dicas, mas, agora, a gente precisa focar mesmo é no atleta como atleta.
Luiza Fiorese, atleta da Seleção Feminina de Vôlei Sentado