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Nomofobia demanda detox digital
Imagem meramente ilustrativa / Créditos: Robin Worrall

Nomofobia: será que você precisa de detox digital?

O uso desenfreado de aparelhos eletrônicos somado à falta de orientação para lidar com o ambiente digital alerta para o impacto negativo na saúde dos usuários.

Já ouviu falar em nomofobia? Talvez você não saiba o que é, mas pode sentir que precisa de um detox digital.

Se você está todo tempo alerta às notificações do celular, não sai do lado dos aparelhos eletrônicos, passa o dia todo em frente às telas e plataformas de mídias sociais, sente que seu trabalho ou as relações interpessoais estão prejudicadas e considera que não seria possível viver sem tais tecnologias, pode estar acometido por esta patologia.

A nomofobia é caracterizada pela dependência intensa da tecnologia e pelo medo incontrolável de ficar sem acesso ao celular ou a outros aparelhos eletrônicos.  A psicóloga e doutora em saúde mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Anna Lucia Spear King, faz um alerta: não se pode confundir vício e maus hábitos. Para Anna Lucia, é necessário haver educação digital e diferenciação entre os usuários patológicos  e os “mal-educados” digitalmente.

Ela é fundadora da primeira iniciativa voltada a tratar dependentes de tecnologia no Brasil, o Laboratório Delete Detox Digital e Uso Consciente de Tecnologias. O laboratório fica no Rio de Janeiro e atende em média 800 pessoas por ano, atingindo um número maior em 2020, em decorrência da pandemia do novo coronavírus. 

No laboratório, a diferenciação entre mal-educados digitalmente e dependentes patológicos é feita por um profissional de saúde mental em uma triagem e, posteriormente, o paciente inicia o tratamento adequado, de acordo com o seu quadro, podendo incluir terapia, inserção em grupos de apoio e orientação com fisioterapeuta, que trata da noção corporal e postura. Em casos patológicos, é feito o uso de medicação para o transtorno de origem.

Telas por mais tempo

Com a necessidade do distanciamento social e do trabalho ou estudo remoto, muita gente passou a conviver com as telas por mais tempo. Seja do celular, do computador, seja dos tablets, da televisão ou até do videogame.

Além do uso para fins profissionais ou de aprendizagem, as telas passaram a ser o principal elemento de aproximação entre familiares e amigos, um modo de ocupar o tempo ou de distração diante da impossibilidade de fazer tarefas rotineiras fora de casa ou com outras pessoas. Mas além das tradicionais “dor nas costas” e “vista cansada” ocasionadas pelo maior tempo de exposição aos aparelhos eletrônicos, a nova rotina tecnológica acende o sinal de alerta de muitas pessoas para os excessos e vícios.

Conforme a psicóloga, há possibilidade de tratamento para os dois casos, mas nem todos os pacientes são realmente dependentes patológicos de tecnologia.

“As pessoas acham que por usarem as tecnologias por muito tempo, todo dia e por muitas horas, no ônibus, metrô, salas de espera, no trabalho e no horário das refeições, elas estão viciadas, mas isso não é dependência patológica, é falta de educação, limites e orientação para usar adequadamente”.

Anna Lucia Spear King

Nomofobia e transtornos pré-existentes

Anna Lucia explica que a nomofobia não é uma nova patologia e sim a manifestação de um transtorno pré-existente, como ansiedade, depressão e pânico, intensificados com o escape oferecido no meio digital. 

“Se eu sou compulsivo, eu vou usar o meio digital para ficar viciado em jogos, sites de compras ou outros. Se eu for deprimida, vou usar tecnologia para me inserir em uma rede social para não me sentir tão só e vou ficar ainda mais deprimida por acreditar na ilusão de que a vida alheia é perfeita. Se eu tenho fobia social, eu vou utilizar para me comunicar, colocando o computador como um escudo de proteção para evitar de passar pelo estresse maior, que seria fazer uma amizade pessoalmente, assim posso pensar mais no que falar e me sinto melhor e por aí vai”, esclarece a psicóloga.

Ela declara que o laboratório por ela idealizado não é contra o uso das tecnologias e reconhece que elas são precursoras de muitos avanços científicos e sociais, mas ressalta a necessidade do uso consciente e da educação digital para que a sociedade lide melhor com esses recursos.

Desconectar para conectar

Preocupada com o próprio comportamento diante das telas, a blogueira e publicitária Mariany Gomes, 30 anos, natural de Pernambuco e moradora da cidade de Itatiba, no estado de São Paulo, aderiu ao detox digital por conta própria. Ela ficou sete dias sem acessar as plataformas de redes sociais. A decisão foi tomada depois que Mariany se viu por quatro horas ininterruptas vislumbrando o feed do Instagram. 

“Nos três primeiros dias, eu sentia o celular vibrando e desbloqueava o tempo todo em busca de alguma notificação, mesmo sabendo que não havia nada lá. Depois dessa experiência, eu notei que seguia muitas personalidades famosas, achava que se eu perdesse alguma coisa da vida daquelas pessoas eu não estaria inserida em um grupo seleto. Depois do detox me questionei: por que eu seguia cada uma e quando a resposta era ‘porque ela é bonita, todo mundo segue ou porque é famoso’, eu deixava de seguir. Hoje me sinto menos ansiosa, passei usar o Instagram de outra forma, de um jeito leve e que faça sentido para mim. Sigo amigos, pessoas que eu gosto e só personalidades que admiro”, revela Mariany.

Estudante de moda, Maria Victória Souza da Silva, 20 anos, moradora da região Nordeste de Belo Horizonte, foi além e estendeu o detox digital por oito meses. A jovem desinstalou todos os aplicativos interativos, até o Whatsapp, respondendo apenas ligações e SMS. Ela conta que começou a sofrer de ansiedade em 2019, chegando a ter crises intensas no fim do ano.

“Eu ficava praticamente 24 horas com o celular na mão. No fim do ano, eu tinha crises diárias. Percebi que precisava me desconectar das futilidades que vemos nas mídias, desejamos e sofremos por antecipação por coisas minúsculas sem necessidade”, conta Maria Victória.

Depois de oito meses, com a saúde mental recuperada e diante de um cenário de isolamento digital e social, inicialmente adotado por escolha individual e, depois,como prevenção à Covid-19, Maria Victória sentiu falta de se comunicar com os amigos mais próximos e instalou os aplicativos novamente em julho deste ano. Ela relata que agora se sente mais tranquila, foca mais no presente e “até” perde o celular dentro de casa, brinca.

“Comecei a usar tecnologia bem cedo. Antes de ter celular, já tinha computador e  jogava o dia todo. Antes do computador, eu tinha como passatempo a televisão, que também ficava ligada o dia todo. Ou seja, desde pequena já estava nessa. Não aprendi a nadar, andar de bicicleta ou jogar qualquer esporte”.

Vanessa Batista Ribeiro, 23 anos, proprietária de loja e moradora da região Norte da capital mineira.

Questionada sobre o detox digital Vanessa diz que considera válido, mas que é complicado já que quase tudo hoje depende da internet. A jovem relata que já tentou fazer o detox digital mas não conseguiu ficar longe do aparelho celular por mais de meia hora. 

O que é detox digital?

O detox digital envolve práticas como:

  • Deixar o celular de lado durante a refeição;
  • Estabelecer limite de horário para receber emails e mensagens relacionadas ao trabalho;
  • Piscar mais vezes para lubrificar os olhos e ficar atento à postura, levantando o celular à altura da cabeça ao invés de abaixar o pescoço;
  • Evitar a troca frequente de aparelhos eletrônicos sem necessidade;
  • Verificar se as relações pessoais, o desempenho acadêmico ou no trabalho estão sendo prejudicados pelo uso abusivo das tecnologias;
  • Valorizar as relações pessoais e não trocá-las pelas mediadas pela tecnologia.

Essas são algumas das práticas ensinadas pelos profissionais do Laboratório Delete Detox Digital e Uso Consciente de Tecnologias. Para obter ajuda profissional gratuita, procure o laboratório enviando e-mail para grupodelete@gmail.com.

Livros podem auxiliar no processo:

Isabela Lana

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