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Foto de Eduardo Gabão / Wikimedia Commons

Mineirão: conheça o templo do futebol mineiro e sua importância para MG

O Mineirão é palco emblemático do futebol mineiro, mas também é um símbolo de Minas Gerais. Conheça sua importância para além do futebol.

O projeto de construção do Mineirão antecede sua inauguração em mais de 25 anos. Já na década de 1940, surgiu a ideia de construir, em Belo Horizonte, um estádio que pudesse servir de apoio para o desenvolvimento do futebol mineiro que, à época, estava aquém do desempenho de clubes paulistas e cariocas. Os principais times da capital mineira, América-MG, Atlético-MG e Cruzeiro, já tinham seus estádios, mas estes eram pequenos para a demanda de seus torcedores. O Estádio Otacílio Negrão de Lima, do América, o Estádio Antônio Carlos, do Atlético, e o Estádio Juscelino Kubitschek, do Cruzeiro, não suportavam mais do que 15 mil pessoas.

Para a Copa do Mundo de 1950, foi construído o Estádio Independência, em uma parceria entre a prefeitura e o modesto clube Sete de Setembro, mas, ainda era pouco. Em 5 de setembro de 1965, o Estádio de Minas Gerais, atual Estádio Governador Magalhães Pinto, foi inaugurado em uma partida amistosa entre a Seleção Mineira, formada pelos melhores atletas de cada time, e o River Plate, clube da Argentina.

O futebol de Minas Gerais pode ser dividido em dois capítulos: antes e depois do Mineirão

A inauguração do Mineirão alavancou o futebol mineiro às mais importantes disputas da época e da atualidade. A “Era Mineirão”, a partir de 1965, é marcada por momentos históricos e acompanha o crescimento do time mais jovem da capital, o Cruzeiro, que, logo após a inauguração do Estádio, venceu a Taça Brasil de 1966 contra o Santos de Pelé, assumindo  papel de destaque no cenário esportivo nacional. Em poucos anos, o Cruzeiro se tornou o clube mineiro com maior número de títulos nacionais e internacionais.

Já em 1971, o Atlético Mineiro conquistou o Campeonato Brasileiro – tendo o Mineirão como palco do histórico jogo da campanha do bicampeonato em 2021. O Gigante da Pampulha também sediou os jogos do título da Libertadores de 2013 e a primeira Copa do Brasil da história do clube, em 2014, conquistada em confronto direto contra seu maior rival, o Cruzeiro. Com muitas finais vencidas pelo Atlético Mineiro no Mineirão, o estádio foi apelidado de Salão de Festas do Galo.

Público x Preço

Com o passar dos anos, o Mineirão foi se tornando peça fundamental do futebol mineiro, recebendo grandes espetáculos, partidas que ficaram marcadas na memória dos torcedores e palco de grandes festas e públicos. A lista dos momentos de glória que os times mineiros viveram no estádio é enorme.

Confira os jogos decisivos da história do Mineirão:

Mas, com frequência, a participação nas festas dos clubes que têm o Mineirão como palco pode custar caro. Há muito o futebol nos estádios deixou de ser um esporte de fácil acesso para um público de baixa renda.

Confira no gráfico as médias de público comparadas com o ticket médio em jogos decisivos no estádio desde 1997:

O Mineirão e sua importância arquitetônica

Além de palco do futebol, o Mineirão é também um monumento da capital mineira. Toda sua fachada é tombada pelo Conselho do Patrimônio Histórico de Belo Horizonte e o Estádio se integra ao Conjunto Arquitetônico da Pampulha, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. O Conjunto foi considerado pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade.

Alan Ferreira Martins, formado em Engenharia Civil na Unis/MG e Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destaca que o Mineirão é muito mais do que um estádio:

Bem mais do que um palco do futebol, o Mineirão é um importante monumento da capital mineira. É patrimônio arquitetônico, histórico e afetivo que, ao longo dos anos, ganhou o coração de milhares de mineiros. O Mineirão conta uma parte da história de BH”.

Alan Martins, engenheiro e arquiteto

Considerado uma obra histórica do modernismo brasileiro, o estágio teve sua fachada inalterada durante as reformas para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, conforme explica Alan Martins: “As reformas e mudanças ocorreram somente em seu interior, com adequações para que ficasse dentro dos padrões estabelecidos pela FIFA”. Segundo ele, a fachada original conversa com os outros elementos do conjunto arquitetônico da Pampulha: “A alteração ou modernização poderia criar um desvínculo com este cenário e com a história que permanece sendo ali contada ao longo dos anos”.

Panorâmica do Mineirão integrando o conjunto arquitetônico da Pampulha na época das reformas para a Copa de 2014. Foto: Rodrigo Lima/Portal da Copa

Palco de Copa do Mundo

Com a escolha do Brasil como país sede da Copa do Mundo FIFA de 2014, Belo Horizonte, assim como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Porto Alegre, foi uma das cidades pré-selecionadas como sede dos jogos. Em 2009, o governo de Minas Gerais apresentou o projeto de modernização do Mineirão, que, conforme já mencionado, manteve preservada a fachada original.

Em 2011, já nas obras para a Copa, o estádio recebeu a instalação de 166 amortecedores sob a parte superior da estrutura, em substituição às hastes verticais que estavam debaixo de todo anel. A mudança foi realizada com o objetivo de diminuir os índices de trepidação. Ainda em 2009, o estádio atingiu o nível de 9,7% de energia gerada devido à vibração intensa das arquibancadas. Com os amortecedores, foi possível causar uma redução para que o índice ficasse abaixo dos 5%, valor dentro dos padrões de exigência da FIFA.

A cobertura do teto foi ampliada para proteger os assentos de eventuais chuvas durante as partidas. O setor da “geral” passou por reformas e, assim como ocorreu no Maracanã, foram colocadas cadeiras no lugar das arquibancadas originais. Inicialmente, a mudança reduziu a capacidade do Mineirão de 75.783 para 64 mil pessoas. De acordo com reportagem do GE, o Mineirão foi o quarto estádio que mais recebeu dinheiro para as reformas, ficando atrás apenas do Estádio Mané Garrincha (1,403 bilhão), da Arena Corinthians (1,080 bilhão) e do Maracanã (1,050 bilhão). No total, foram R$666,3 milhões gastos nas obras do gigante da Pampulha.

Depois de quase três anos de obras, o estádio foi reaberto ao público no dia 21 de dezembro de 2012 com um show da banda Skank e tornou-se o segundo estádio da Copa do Mundo de 2014 a ser entregue, logo atrás do Castelão, em Fortaleza.

Embora tenham sido utilizados 12 estádios por todo o país, o Mineirão, por toda sua história, foi privilegiado e recebeu mais jogos do torneio Mundial: foram seis partidas, sendo duas na fase eliminatória. No dia 8 de julho de 2014, o estádio serviu de palco para a pior derrota de toda a história da Seleção Brasileira. Em jogo válido pela semifinal da Copa do Mundo, a Alemanha aplicou uma goleada histórica sobre o Brasil, o inesquecível placar 7-1.

O evento ficou marcado como O Mineiraço. No dia seguinte ao vexame, capas de jornais de todo o mundo repercutiram a eliminação da seleção canarinho.

Jogo sujo nos bastidores

De acordo com documentos da investigação criminal ainda em curso no Ministério Público, as empreiteiras responsáveis pela administração e reforma do Mineirão desviaram mais de R$35 milhões dos cofres públicos apenas no período entre 2013 e 2014.

A concessionária Minas Arena, composta pelas empresas Construcap, Egesa e Hap Engenharia, de acordo com a investigação, é acusada de redução na declaração dos lucros obtidos, bem como a manipulação de dados dos balanços oficiais, como, por exemplo, a receita obtida com as vendas de ingressos dos jogos do Atlético-MG e do Cruzeiro.

Conforme contrato assinado em dezembro de 2010, até o ano de 2037, as reformas que ocorrerem no estádio, bem como a administração do Mineirão, são de responsabilidade da concessionária Minas Arena. Como forma de remuneração pela gestão do estádio, o acordo ainda impõe pagamentos mensais do governo de Minas Gerais para a empresa.

Em junho de 2017, o empresário e dono da JBS, Joesley Batista, expôs em delação premiada um esquema de propina em parceria com políticos que envolvia ações do Mineirão. O delator  admitiu que a negociação foi realizada pela HAP Engenharia, uma das integrantes do consórcio Minas Arena. De acordo com o empresário, cerca de R$30 milhões de reais foram pagos em propina ao então governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT).

Em relato à Procuradoria Geral da República, Batista conta que o acordo foi firmado com o tesoureiro da campanha de Pimentel, Edinho Silva, e a negociação ainda contou com a aprovação da então  presidente Dilma Rousseff, que indicou Fernando Pimentel como o responsável para receber o valor.

Na época, Pimentel chamou as acusações de levianas, e afirmou que Joesley não tinha nenhuma prova ou evidência material. Já a Minas Arena, por meio de nota oficial, disse estar à disposição dos órgãos reguladores e das autoridades competentes.

Assista também a reportagem audiovisual Mineirão, o gigante da Pampulha:

Reportagem produzida por Arthur Albuquerque, Bernardo Correa, Daniel Maia, Iuri Cerqueira, Pedro Miguel, Pedro Tanure e Thalles Machado para o Laboratório de Jornalismo Digital, no semestre 2022/2 do curso de Jornalismo da PUC Minas - campus Coração Eucarístico, sob a supervisão das professoras Verônica Soares e Maiara Orlandini.

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