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Manifestações em todo país clamam pelo impeachment

Centenas de municípios de todo o Brasil, o Distrito Federal e algumas cidades do exterior têm se mobilizado nas ruas em oposição ao governo Bolsonaro. As duas últimas manifestações ocorreram nos dias 29 de maio e 19 de junho e  tiveram como principais reivindicações o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), auxílio emergencial de R$600 e vacina contra a covid-19 para todos. 

O professor e sindicalista do Sind-Rede BH Pedro Afonso Valadares participa do grupo de organização da campanha “Fora Bolsonaro” e, segundo ele, “a pauta que unifica todos os movimentos sociais, sindicatos, partidos de esquerda, personalidades do meio artístico, científico e acadêmico é o “Fora Bolsonaro”, o principal eixo de mobilização dos atos”.

Para o sindicalista, desde o ano passado estava difícil para todos os setores sociais do país se manifestarem nas ruas, mas  a situação chegou a um limite em que a população começou a entender que o governo é mais perigoso que o vírus. “Enquanto uma classe [trabalhadora] que tem seus interesses sendo atacados, como é o caso da educação, da saúde ou até mesmo da vida – porque quem mais morre por covid dessas mais de 500 mil pessoas são pobres – acreditamos que seja muito importante ir às ruas para definir o destino da sociedade”, defende Valadares.

Para o doutor em ciência política Paulo Roberto Figueira Leal, professor de comunicação na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), são diversas as pautas que mobilizam a presença dos manifestantes nos atos políticos. Os motivos pelos quais alguns segmentos veem o governo como irresponsável abrangem indignações que vão além do aspecto sanitário. Para o professor, parte da população que se opõe ao governo atual ainda se sente insegura de ir às ruas no contexto da pandemia.

Paulo Roberto ainda afirma que o governo ganhou visibilidade “por incentivar aglomerações e por desestimular certo recato necessário à contenção”. Ele acredita que a partir da manifestação de 29 de maio, ficou claro que “a condução do governo na pandemia é tão erradica, tão desastrosa, tão negacionista, que talvez seja preciso ir à rua correndo riscos, porque o risco de não fazer nada implica continuar a mortandade”. 

Em relação ao possível impacto das manifestações, Paulo afirma que há riscos de que o governo sofra erosão de apoios no Congresso Nacional e entre  financiadores empresários, “que com frequência são muito pragmáticos, não querem apostar em um cavalo que vai perder a corrida”.

Ele alerta também para um efeito indireto em grupos que hoje têm aliança tácita ou explícita com o governo, que podem repensá-la se verem um cenário de grande mudança social contra a atual Presidência. “Manifestações de rua são uma explicitação disso.” Paulo Roberto reforça a política como o espaço de jogo de interesses em que os benefícios próprios são determinantes nas consolidações de alianças. Todavia, o cientista político acredita que o governo não vai mudar de rumo em função das manifestações de oposição enquanto houver uma base de apoio suficiente para levá-lo ao segundo turno em 2022. 

Em Belo Horizonte, manifestantes de máscara caminharam em protesto pelo centro

Realização da Copa América, que até o momento registrou 140 casos de covid-19, também foi alvo de crítica.

Diferentemente dos atos favoráveis ao governo, manifestantes usaram máscaras de proteção e estiveram presentes pelos 500 mil casos de mortes por covid-19.

Impacto na CPI

Com a CPI da Covid em andamento desde o dia 27 de abril, o “festival de absurdos é tão farto e tão chocante”, nas palavras de Paulo Roberto, que quanto mais ela revela, mais visibilidade é dada às manifestações. O momento em que esses “absurdos” são expostos “constrói uma narrativa coerente de que talvez o governo seja tão perigoso quanto o vírus, portanto, mais gente se dispõe a ir à rua para lutar contra ele”.

Dentre os manifestantes do dia 29 de maio, em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, estava Lohis Anne Siqueira de Oliveira, de 18 anos, secundarista e militante do coletivo Afronte. Ela afirma ter sido seu primeiro protesto e ter se emocionado ao ver tantos jovens se unirem em oposição ao governo. “Eu tenho muito orgulho de ser dessa geração de agora. […] Hoje os jovens estão preocupados com muitas questões e problematizam muito as coisas. O que eu vi dia 29 foi isso, gente sem vergonha de ser quem é e lutando para mudar as estruturas de poder”, expressa. 

Durante os atos foram seguidas medidas de segurança, como o uso obrigatório de máscara de proteção e álcool em gel. Alguns movimentos sociais ficaram encarregados de distribuir máscaras do tipo PFF2. Pelo grande número de manifestantes nas ruas, em algumas cidades houve aglomeração e dificuldade de manter o distanciamento. 

Manifestantes com cartazes criticando o governo federal.

Manifestação também levou a geração de 1968, que lutou contra a ditadura, às ruas.

Em BH, mulher mostra cartaz  em defesa de vacina, comida, saúde e educação.
https://blogfca.pucminas.br/colab/wp-content/uploads/2021/06/Video_ManifestacoesBH.mov

Matéria produzida pelos alunos de Jornalismo da PUC Minas: Âmale Pataro, Bárbara Faria, Felipe Tavares, Julia Souza, Paula Ribeiro, Saile Jeniffer 
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