
Hoje é apenas mais um dia indo para a faculdade. É uma manhã ensolarada de quarta-feira e já estou na estação esperando o metrô. Uma “longa” viagem de 40 minutos me espera. Ao entrar, vejo ao meu redor o cansaço estampado nos rostos, ilustrando a dura realidade do trabalhador brasileiro.
Pobres almas que saem cedo de suas casas para enfrentar os desafios cotidianos, que se iniciam logo cedo com as altas passagens do transporte público e a baixa infraestrutura dos trens, retrato velado da desigualdade social do país. O típico contraste entre as belas paisagens urbanas que contam a história da rica cultura mineira ao longo da viagem, e o caos interno das pessoas que se amontoam entre os vagões do trem.
Andar de metrô é se deparar com uma verdadeira galeria humana, com diferentes tipos de gente, embora seja possível encontrar histórias semelhantes em meio à diversidade. Não é difícil encontrar, por exemplo, estudantes, funcionários públicos, mães solteiras acompanhadas de seus filhos e até mesmo turistas. Essa característica ilustra como o metrô também é uma vasta fonte de repertórios socioculturais, e como podemos conhecer, todos os dias, pessoas com os mais diversos tipos de ocupações profissionais.
No meio de tanta desordem, minha atenção se volta para a pureza de uma criança, de aproximadamente 6 ou 9 anos. Com cabelos loiros e um vestido florido, a menina observa atentamente os cenários da viagem como se estivesse se desconectando do mundo, enquanto sua mãe, uma jovem mulher que aparenta ter entre 25 e 30 anos, também de cabelos loiros, com a presença de um terço em uma das mãos e de algumas moedas na outra, reza com um semblante abatido.
Algum tempo depois, um senhor de cabelos grisalhos, com o auxílio de uma muleta, embarca no trem e pede dinheiro para conseguir pagar o tratamento de sua filha. Essa situação acontece com certa recorrência nos diferentes espaços urbanos, o que faz com que, muitas vezes, as pessoas duvidem da veracidade desse tipo de história e hesitem antes de oferecer ajuda. Mesmo com pouco dinheiro, a mulher resolve ajudar o senhor, entregando-lhe metade das moedas que possuía.
Às vezes me pego pensando muito em uma analogia feita pelo meu psicólogo, entre uma viagem de metrô e a vida, e o quanto essa afirmação faz sentido para mim. Ele me disse que, assim como uma viagem de metrô, a vida tem várias estações, e ao longo do trajeto, inúmeras pessoas passam sem deixar marca alguma em nós, enquanto outras nos acompanham por muito tempo e deixam lições valiosas. Do mesmo modo, passamos por lugares inesquecíveis e outros que rapidamente são apagados de nossa memória. Os atrasos e imprevistos também mostram como a vida é repleta de surpresas e nem sempre segue a rota definida por nós.
Como um futuro jornalista, tento diariamente entender o papel dessa profissão na construção da sociedade, e cada vez mais sinto o compromisso de não apenas informar, mas dar visibilidade a vozes e pautas silenciadas, além de denunciar as injustiças do poder público. Apesar de tantos problemas, aprendo todos os dias no metrô, e são as pequenas coisas que me fazem acreditar na presença da humanidade nas pessoas. Hoje, com esse simples gesto de gentileza dessa senhora, sigo meu dia com o coração um pouco mais aquecido. Agora me resta esperar novas aventuras em mais um dia no metrô.
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