Os jornalistas escritores Daniel Daher, Lola Cirino e Maria Vitória Bernardes são ex-alunos de Jornalismo da PUC e já têm livros publicados. Saiba como foi escrever e publicar um livro a partir da experiência desses ex-alunos da PUC Minas.
O Vaso
A vontade de publicar um livro surgiu na infância de Maria Vitória Bernardes: “Acho que comecei a escrever com doze anos, e demorou cerca de 10 anos para eu publicar um livro”. Sua recém-lançada obra “O Vaso” começou a tomar vida quando ela ainda circulava pelos corredores da PUC como estudante: “Foi no laboratório do prédio 42, eu pensei ‘quer saber? Vou começar a escrever e ver no que dá’. Eu estabeleci uma meta para escrever cerca de 1500 palavras por dia, usei o site NaNoWriMo, é bom para motivação.”
Sinopse: O estranho edifício da rua esmeralda, com seus vitrais de igreja e azulejos verdes, foi por muito tempo a casa perfeita para Clarissa. Até que o reencontro com uma amiga de infância e a chegada de um novo morador expõem as lacunas de sua vida; entrincheirando-a entre os vivos e os mortos, entre a solidão e a companhia, entre passado e futuro. Impelida pelo choque, Clarissa começa a traçar um caminho diferente feito de escolhas erradas pelos motivos certos, enquanto constrói uma nova vida criada com as memórias dos que amou e as possibilidades oferecidas por aqueles que virá a amar.
O processo de escrita de “O Vaso” foi rápido. Maria Vitória começou a escrever em setembro de 2019: “O prazo que eu tinha colocado era de cerca de dois a três meses para terminar o livro, mas terminei em janeiro de 2020. Eu não tinha planejado muita coisa. Tentei montar um esqueleto, mas os personagens que mandaram na história, tomando decisões.”
Muita coisa que ela assistiu ou leu influenciaram muito sua escrita, e principalmente um filme que se chama “Amor à flor da pele.” O romance conta a história de Chow (Tony Leung Chiu Wai) e sua mulher, que acabaam de se mudar. Logo, ele conhece Li-Zhen (Maggie Cheung), uma jovem que também acabou de se mudar com o marido. Ele trabalha para uma companhia japonesa, o que significa que está freqüentemente viajando. Como sua mulher também fica, muitas vezes, longe de casa, Chow passa muito tempo com Li-zhen. Eles se tornam amigos e, um dia, são forçados a encarar os fatos: seus respectivos parceiros estão tendo um caso.
“A história do filme, mas também a estética influenciaram muito na escrita do meu livro.”
“O Vaso” é uma história sobre conflitos internos e reconhecimento que se passa no final dos anos 50. Clarissa lida com o medo das pessoas acharem que ela é puritana, ou uma mulher à frente de seu tempo e independente, um escândalo ser assim nessa época. No decorrer da história, serão encaradas situações onde Clarissa terá de agir de alguma forma, e sempre em torno desse debate sobre quem ela é e quem quer ser.
Acesse o livro aqui.
Ecos da Tempestade: inquietude dos crânios
Daniel Daher se formou em jornalismo em 2020 e publicou seu primeiro livro “Ecos da Tempestade: Inquietude dos Crânios”, em julho de 2020.
Sinopse: A cada duzentos e cinquenta anos, o pecado do mundo é expurgado com fogo, ou pelo menos era pra ser assim. A "Colheita dos Dragões" para de acontecer, mas o reino de Arkeny não vê descanso. Traficantes e terroristas se estranham nas ruas, piratas aposentados retornam ao mar e misteriosas melodias assassinas assombram as florestas. Inquietude dos Crânios narra a jornada de Pedro, um pirata aposentado pela idade, que é obrigado a se contentar com a pesca. Porém, ele mata a saudade do mar para ajudar um amigo. Ao mesmo tempo, o enredo também traz outros dramas. Enquanto Gwen (uma criatura da floresta que deveria odiar os humanos) se compadece ao adotar uma criança perdida, Rodrick é obrigado a assistir a até então incurável doença de Melter deteriorar o corpo de Sinéria, sua mãe. Todos eles estão dispostos a arriscar tudo para mudarem o rumo de seus entes queridos. Ecos da Tempestade é uma saga de fantasia épica e sombria com elementos mágicos e malditos. Ao mesmo tempo em que o livro apresenta um mundo fantástico com florestas assombradas, reinos perdidos e mares perigosos, a história trata, sobretudo, de arrependimento, desejos e consequências. O enredo conversa tanto com quem está determinado a realizar seus maiores sonhos, quanto com quem já os realizou e sente a amargura da falta de propósito na vida. Em um mundo onde a magia cobra caro, qual o preço que você estaria disposto a pagar pela realização de suas vontades?
Daniel Daher sonhava em ser escritor desde a infância, quando leu a saga de Harry Potter pela primeira vez, uma inspiração para se apaixonar pela literatura fantástica: “Inclusive, escolhi cursar jornalismo por ser uma área que exige bastante escrita. Foi uma maneira que encontrei de conciliar algo que gosto com a faculdade.” O processo de escrita de Daher foi longo. Ele começou o livro em 2013 e só terminou no começo de 2020. Nesse meio tempo, passou por diferentes fases da vida, como ensino médio, vestibular, e enfim, a faculdade.
“O curso me ajudou muito a focar no tipo de escrita que eu queria. Quando se começa um livro do zero, existem tantas opções para tudo que fiquei perdido, sem saber para onde levar a história. Em contrapartida, o jornalismo nos faz escrever sobre determinados temas, e isso exige bastante da criatividade. Serviu como exercício para que eu conseguisse escrever sobre qualquer coisa e ter contato com realidades diferentes da minha”, conta Daniel Daher.
O escritor ainda destaca que, durante o curso, fez amizades importantes e abriu a mente para o processo de autopublicação: “Era algo que eu tinha preconceito. Depois que conheci melhor como funcionava o esquema da Amazon e de outras empresas, como a Uiclap, me apaixonei pela oportunidade de publicar. Tudo isso aconteceu porque pessoas do curso apontaram essa direção para mim.”
Veja o livro de Daniel Daher aqui.
O próximo da lista
O primeiro livro de Lola Cirino foi lançado em 2017, quando ela estava no 8° período de jornalismo na PUC Minas. Bem antes de ingressar no curso, ela já tinha vontade de se tornar escritora: “Acho que eu tinha uns nove anos quando escrevi um poema sobre um pão, era para um concurso municipal. Desde então, escrevi muita música, crônica e descobri esse site LGBT [Lettera], onde eu publicava. Percebi que tinha gente procurando meus textos, o que me fez escrever um livro e vendê-lo.”
Sinopse: Murphy alerta: tudo sempre pode piorar. Felícia acaba de levar um pé na bunda. O que, cá entre nós, não é o fim do mundo. Mas, junto de uma carreira fracassada, uma conta negativa no banco e uma rotina daquelas, o fim do namoro é como receber um depósito na conta e perdê-lo para o banco, que cobrou uma dívida. E, para completar, seu estúpido coração se apaixonou outra vez. Só um pequeno detalhe: por uma mulher. E outra coisinha: Felícia é hétero. O Próximo da Lista é um romance que, mais que contar uma história de amor, vai fazer você se divertir no processo. Afinal, é sempre melhor rir do que chorar, não é?
A obra de Lola Cirino foi publicada por uma editora em 2017, mas ela conta que o processo não foi como o esperado e, atualmente, seu livro não está disponível. Porém, em 2019, ela recebeu uma mensagem de outra pequena editora que teve interesse em publicá-lo novamente: “A pessoa que entrou em contato comigo trabalhava na empresa que publicou meu livro pela primeira vez. Ela leu e queria editá-lo na época, mas não foi seu projeto. Eu cancelei o contrato com a primeira editora, por isso o livro está fora do ar. Estou em processo de edição agora para publicá-lo novamente”. Lola Cirino compartilha que o bom de poder relançar tem seu lado positivo é que ela pôde reler esse livro. O lançamento ainda não tem data.
Leitora voraz, ela comenta que é importante chamar atenção para o fato de que os personagens são, geral, brancos e padrões: “Eu não reparava, era tão normal que minhas personagens eram sempre brancas e loiras. Essa segunda edição está sendo muito importante, porque estou conseguindo rever isso.”
O processo de escrita de Lola Cirino é baseado na espontaneidade. “Eu comecei a escrever porque eu senti. Não foi porque eu planejei, só comecei a escrever.” Ela afirma que sempre gostou da prosa que conversa com o leitor e que com humor consegue mostrar um ponto importante, entre eles, um dos mais relevantes de sua obra, a luta LGBTQIA+: “Eu tinha passado por um término e a família da garota era muito preconceituosa. Foi um misto de emoções que eu estava sentindo na época. O livro não é sobre mim, mas sobre as questões que eu tenho”.
Jornalistas escritores
Antes de cursar jornalismo, Maria Vitória já tinha passado por dois outros cursos. Ela conta que nunca pensou em ser, de fato, uma jornalista: “Isso para mim sempre foi um dilema, porque eu gosto de inventar. A grade era o que mais me interessava, e sempre gostei muito da parte de documentários. Agora estou focada no livro, na literatura.”
Após se formar, Daniel Daher acabou não exercendo a profissão de jornalista e, para ele, isso teve um lado bom, porque pode focar 100% no lançamento do livro. Ele já começou a escrever o segundo da trilogia. “Comparando o Daniel de 2016, que iniciou o curso, com o Daniel de 2020, já formado e com o livro publicado, eu diria que há muitas diferenças na maneira de se perceber uma história. É preciso ‘virar uma chavinha’ do escritor para o jornalista, pois o primeiro cria histórias e o segundo as percebe e evidencia.”
Até o início do curso, Lola conta que tinha uma visão muito menos estratégica sobre o que é o jornalismo. “Eu entendia a importância, mas não esse compromisso que a gente tem com a profissão. Não trabalho com jornalismo, mas ainda quero. Quero escrever coisas mais factuais, levando o jornalismo como ferramenta importante para a sociedade.”
Novas publicações
Daniel Daher conta que possui muitas ideias novas: “Costumo colocar numa planilha pra não esquecer nada.” Sua intenção é explorar seus gêneros literários favoritos, que são fantasia e terror. Mas compartilha uma reflexão de criar histórias como a do diretor Quentin Tarantino: “Sou muito fã de seus filmes e acho que ele tem um estilo único. Seria muito legal tentar criar uma história ‘Tarantinesca’ para um livro”, comenta.
Maria Vitória Bernardes também reflete sobre ir para outros gêneros literários: “Se eu fosse escrever uma fantasia, seria mais para mim mesmo. Acho muito legal a construção de um novo mundo, eu até comecei, em 2018, mas estou escrevendo até hoje e não tenho muita coisa. Eu acho que tenho mais facilidade para escrever romance, gosto mais.”
“Depois que comecei a trabalhar com a escrita, foi muito mais difícil amar a escrita. Ficou tudo muito ligado ao meu trabalho, e eu só pensava nisso. Agora estou escrevendo mais coisas no Instagram para realmente voltar a escrever”, o relato é de Lola Cirino. Ela completa dizendo que não sabe se vai para o suspense, ou se escreve um roteiro. “Gênero para mim é um mistério.”
Publicação coletiva
Em 2019, estudantes de Jornalismo da PUC Minas lançaram o livro “Sou Mulher e Não Mereço ser Violentada: reportagens, histórias e denúncias”, sob a orientação e organização da professora Maura Eustáquia de Oliveira. A obra é a coletânea de reportagens feitas pelos alunos no segundo semestre de 2018 e está disponível aqui.