“Você já quis fazer algo de diferente antes?” Perguntamos à Alice, mas a resposta veio rápida e bem humorada, “até queria gostar de outra coisa”, mas sempre foi a moda que a interessou. Alice, por mais que não viva no país das maravilhas, é uma jovem de carreira promissora e bagagem cultural surpreendente. Ela faz da moda no jornalismo a maravilha de viver nesse mundo profissional, que envolve da alta costura aos textos cotidianos.
Alice Coy é atualmente editora assistente de moda da Vogue Brasil, um dos braços das Edições Globo Condé Nast, tendo sido previamente repórter na revista por três anos. Nascida e criada em Campinas, a jovem editora de 28 anos é formada em jornalismo de moda pela University of the Arts London (UAL), curso reconhecido mundialmente na área. Graduada em 2017, também já trabalhou como assistente de produção para o canal americano NBC News em duas oportunidades: durante as Olimpíadas do Rio, em 2016, e no casamento da realeza britânica, em 2018. Além do trabalho na Vogue, Alice mantém uma newsletter sobre leitura, intitulada Bacana Bacana, sem as firulas do universo acadêmico.
Uma criança de curiosidade voraz, Alice passava sua infância pesquisando a história da moda em livros e transcrevia seus aprendizados para um caderno. Ela lia compulsivamente repetidas vezes cada uma das revistas de moda de sua coleção. Com o passar do tempo, Alice começou a consumir sites e blogs de moda, como o Style.com, Style Rookie e Man Repeller. Apesar de não possuir referência do jornalismo ou da moda na família, a jovem admirava e lia sobre grandes críticos, como Tim Blanks, Vanessa Friedman e Cathy Horyn.
A jovem iniciou seus estudos na Central Saint Martins, faculdade de artes de Londres. Ela entende que foi um privilégio e que, no mundo ideal, essa oportunidade seria uma possibilidade para todos, não só para um pequeno grupo de pessoas. A jornalista de moda nos conta que sua alma mater tem um histórico por prezar muito as experiências práticas e que, apesar de uma defasagem no aprendizado mais teórico, como por exemplo o estudo da história do jornalismo, essas vivências de produção real se tornaram lições valiosas para sua trajetória profissional.
Alice morou em Londres durante seis anos e nunca deixou de ir a exposições, shows, performances. Para ela, essas experiências engrandeceram seu repertório como jornalista de moda. Ela destaca que essa diversidade cultural foi o que mais a impressionou quando chegou na capital da Inglaterra. A jornalista qualifica a cidade como “multicultural, pela massiva quantidade de eventos que promovem a cultura”, bem diferente da realidade de Campinas, sua cidade natal.
A carreira da jovem começa bem antes da entrada para a Vogue Brasil. Além de ter trabalhado como repórter nas olimpíadas e no casamento real britânico, ela também participou de trabalhos significativos para sua carreira ainda na faculdade. Mas o que de fato contribuiu para sua posição atual foi a sua colaboração com Sarah Mower, renomada crítica de moda e colunista britânica. Mower trabalha para a Vogue americana, o que rendeu a Alice uma importante carta de recomendação, muito útil ao currículo. Além disso, somou-se ao seu portfólio o trabalho desenvolvido na sucursal britânica do Women ‘s Wear Daily.
A sua entrada na Vogue Brasil, como a própria Alice coloca, foi na cara e na coragem. Ela conta que enviou um e-mail diretamente para Vívian Sotocórno, editora sênior de moda da revista. Coincidentemente, havia uma vaga na equipe e logo foi preenchida pela jovem. Apesar de relatar que evita fazer planos que possam futuramente gerar frustrações, a empolgação com a possibilidade de estar inserida em um grande veículo da comunicação de moda é inevitável. A jornalista era uma leitora antiga da revista, um vínculo estabelecido bem antes da carteira assinada.
Tendo iniciado a trajetória na Vogue Brasil como repórter antes de se tornar editora assistente, Alice conta que, dentre as novas responsabilidades, agora trabalha pautando colaboradores e editando textos para a revista. Neste momento, em uma posição mais elevada, durante o processo de modificações do jornalismo de moda, Alice Coy acredita ser essencial percebermos as mudanças do mundo e nos adequarmos. Ela cita como exemplos os termos de imposição “quero já” e “tem que ter”, que, atualmente, não fazem mais parte do vocabulário do mundo da moda. “A moda precisa fazer sentido de acordo com o estilo de vida de cada pessoa, e não ser prescrita.”
Ao ser perguntada sobre a sua posição como mulher dentro do jornalismo, Alice Coy ressalta ter uma vivência privilegiada e longe da realidade de muitas outras. Nesse universo da moda, ela já teve a oportunidade de trabalhar com chefes, diretoras e CEOs mulheres.
Com um hábito de leitura forte herdado da mãe, Alice, além do seu emprego na Vogue, também possui a Bacana Bacana. O projeto é uma newsletter, criada por ela, durante o período da pandemia de covid-19. Alice relata que, por causa do isolamento, deparou-se com mais tempo livre e ocioso e muita criatividade, o que a fez criar a newsletter. Além disso, a iniciativa vinha também da sua vontade de ter um espaço mais pessoal e sem as limitações da Vogue.
Como jornalista, Alice Coy deixa uma dica para a nova geração de profissionais da área: “Eu acho que o conselho mais importante que eu já recebi é o de escutar muito e falar pouco. Um bom repórter nunca para de se questionar e nem pensa que já sabe todas as respostas. Lembre-se sempre que você está servindo ao leitor e não a pessoa que te deu uma entrevista ou que você está perfilando.”
Conteúdo produzido por Larissa Cavalcante, Larissa Guimarães, Lavina Moreira, Maria Eduarda Mariano, Mariana Coelho e Pedro Biondini na disciplina Apuração, Redação e Entrevista, sob a supervisão da professora e jornalista Fernanda Sanglard.
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