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Foto em preto em branco de um adolescente utilizando câmera analógica de impressão instantânea.
Via Freepik.

Hobby para uns, trabalho para outros

Câmeras analógicas voltam aos holofotes no mundo das fotografias

O ato de fotografar e gravar momentos para além da memória é algo especial. Com o surgimento das mídias sociais e o fácil acesso às câmeras digitais em smartphones, tirar fotos se tornou ainda mais comum na rotina da população. Câmeras digitais simples se tornaram cada vez mais baratas desde sua popularização nos anos 1990. 

De acordo com a companhia Dantaintelo, o mercado de analógicas gerou 4,6 bilhões de dólares em receita em 2021, e a procura por trabalhos nesse nicho é crescente. Porém, estar nessa área, seja profissionalmente ou por hobby, requer poder aquisitivo alto, fazendo com que o ramo da fotografia continue elitizado.

Um dos apelos das fotos analógicas é a estética do rolo de filme. O fato de as fotografias ficarem com aspecto antigo depois de reveladas chama a atenção e faz parecer arte, como afirma a fotógrafa e diretora de arte cenográfica de Belo Horizonte, Marina Reis.

Aquário com peixes dourados. Crédito: Mari Reis

Comprando filmes e câmeras

Consenso entre os fotógrafos, o preço para se conseguir material para fotografar em câmeras analógicas é o que mais dificulta o trabalho. Quem consegue os melhores equipamentos, como lentes e outros acessórios para a câmera digital ou analógica, ou os melhores filmes, é quem faz parte da elite.

Marina Reis e Victor Hugo Augusto, mais conhecido como Torugo são fotógrafos de shows e compartilham o amor pelas analógicas. Ela começou a tirar fotos digitais, porém, migrou para o filme após sua câmera digital quebrar e não poder consertar. Já Toguro diz fazer suas fotografias há cerca de cinco anos, quando saiu do ensino médio. Para ela, “a fotografia digital é um meio caro e, agora, a analógica também se tornou”. A fotógrafa percebe que as fotos com filme se tornaram uma prática elitizada, em grande parte, devido ao custo do material.

Casal se abraçando na Festa da Gruta. Crédito: Mari Reis
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Para driblar os altos preços, os fotógrafos se juntam e adquirem seus filmes juntos. Mari diz que ela e seus colegas fotógrafos conseguem um montante de filmes e dividem o custo para que o preço saia mais barato. Eles procuram, principalmente, em plataformas de compra por afiliados, como Shopee, Mercado Livre ou Aliexpress.

Já Torugo gosta de garimpar suas câmeras em sites de revenda, como a OLX, ou então em grupos de fotógrafos nas mídias sociais. O ponto positivo de comprar câmeras usadas para o fotógrafo é que, segundo ele, “você consegue pegar coisa boa que passou pelo crivo de alguém”. O negativo, lamenta o fotógrafo, é que às vezes pode ocorrer prejuízo, já que a máquina fotográfica pode vir com defeitos.

Problemas das analógicas

Infográfico com preço atual dos filmes da Kodak, em dólar. Fonte: Site da Kodak.

Em relação à dificuldade de estar nesse meio, Torugo comenta que o preço é o principal. O artista diz que os filmes são produzidos fora do Brasil e, quando chegam aqui, tornam-se “duas vezes mais caros”. 

Marina Reis fala que a volatilidade do preço, além da falta dos filmes no mercado, atrapalham a fotografia analógica. De acordo com ela, “a mudança [de preço] é muito nítida, quando comecei, quatro anos atrás, você comprava um filme a R$25, agora filme é R$50, R$60”.

O preço das máquinas fotográficas também é elevado. Torugo comenta que “o ramo da fotografia sempre foi muito caro”. As câmeras analógicas giram na faixa dos R$ 700, sendo as mais caras e utilizadas profissionalmente em torno dos R$ 1.100. Câmeras digitais usadas saem na faixa dos R$ 4.000, sem contar outros materiais que podem ser acoplados nas câmeras.

Porém, ainda que tenha seu apelo artístico, a velocidade com que as digitais entregam suas fotos e a maior facilidade no processo de edição, fazem com que o mercado das analógicas fique nichado.

O ritmo acelerado para se fotografar e a capacidade de ver como as fotos estão ficando instantaneamente faz com que o uso das câmeras digitais, apesar de seu preço, sejam as principais no mercado, relata o fotógrafo: “na hora que você fotografou [com digital], uma hora depois você consegue entregar a foto para a pessoa”.

Atrativo das analógicas

Os fotógrafos Victor Hugo Augusto e Marina Reis percebem diferenças ao fotografar em suas câmeras analógicas. Torugo diz que apesar das tentativas de se replicar o efeito dos filmes nas digitais, a analógica “possui um charme único e que a faz ser atrativa”. Já Mari Reis diz que a diferença é mais perceptível no sentimento de se fotografar, pois é necessário ter o “olhar afiado para saber o momento certo para o clique”. 

Esse trabalho, que acaba se tornando um feeling na hora de fotografar, vai se aperfeiçoando ao longo do tempo, como fala a fotógrafa: “Com a prática é possível se desfiar tirar fotos, fazer um clique em uma luz que não parece propícia, tentar criar uma cena a partir de algo que não parecia bom para se fotografar e assim trabalhar o lado artístico”.

Relógio do prédio da Praça da Estação. Crédito: Torugo

Beleza dos filmes

Ainda assim, a profissão é algo que, tanto Mari quanto Torugo, têm um grande prazer em exercer. Para a artista, as câmeras analógicas têm o dom de deixar todas as fotos “mágicas”. Já Torugo não se vê parando de tirar fotos com filmes e espera explorar vários segmentos com os quais ele ainda não trabalha, tais como editais de moda e, quem sabe, expor em uma galeria.

Devido ao processo de entrega somente após a revelação dos filmes, o trabalho acaba se tornando mais artístico. Por vezes, mais íntimo, pois mostra o olhar do profissional na hora e não o de várias tentativas e erros que se pode ter em uma digital, concordam Torugo e Mari Reis.

Danilo Valadares

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