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Quais são os hábitos de leitura dos brasileiros?

Perfil médio do leitor no Brasil é revelado pela pesquisa Retratos da Leitura

A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural, traz informações detalhadas sobre os hábitos literários da população desde 2011. Por meio de análises qualitativas e quantitativas, a última edição, realizada em 2019, reuniu uma base de mais de 8 mil pessoas em 208 municípios de todas as regiões do país. Perfil dos leitores (por renda, cor, gênero e escolaridade), penetração de livros, fatores e motivação, número de bibliotecas públicas e autores mais conhecidos/lidos foram alguns dados apurados ao longo do processo, que possibilitaram a construção de um perfil do leitor médio brasileiro.

Panorama literário no Brasil

A pesquisa entende como leitor “aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos três meses” anteriores à coleta dos dados.

Entre as regiões com maior número de leitores, destacam-se o Sudeste (41,6 milhões) e o Nordeste (25,3 milhões). Esta, inclusive, concentra o maior número de bibliotecas públicas do país: são 1807 instituições. Além disso, vale destacar a região sul, que concentra o maior índice de livros lidos por ano (5,9).

O que e por que leem?

Ainda segundo a pesquisa do Instituto Pró-Livro, as pessoas leem mais literatura de não-ficção (54%), autores do sexo masculino (62%) e brasileiros (55%). Dentre eles, os mais citados pela base de análise foram Machado de Assis, Monteiro Lobato e Paulo Coelho.

Benefícios da literatura

Que ler é um hábito saudável – tanto para o corpo quanto para a mente – já tornou-se fato indiscutível e sem margem para dúvidas. Especialistas de diversas áreas apontam a leitura diária como exercício fundamental para a preservação da boa memória, bem como na construção de repertório sociocultural  que auxilia na comunicação e expressão pessoais.

Segundo Silvana Teixeira, professora de língua inglesa (ensino básico, técnico e tecnológico), por meio da leitura podemos “ampliar nossa visão de mundo, ter acesso ao conhecimento, vivenciar realidades diversas e perceber o outro, seus pensamentos, sentimentos e suas experiências de vida”. Ela defende que a leitura também permite conhecer e compreender as diferenças entre as pessoas e a diversidade sociocultural, bem como as inquietações, os problemas e os desafios da sociedade. “É um hábito que nos ajuda a refletir sobre quem somos, o que pensamos, o que fazemos e o que podemos fazer para transformarmos o mundo; sonhar e conhecer a nós mesmos”.

A leitura nos faz mais humanos e altruístas.

Silvana Teixeira, professora

O psiquiatra Reginaldo Henrique dos Santos aponta a leitura como meio seguro de “fortalecer nossa inteligência e nos aproximar da sabedoria”. Ele explica que o conhecimento produzido pelo hábito de ler “tirou o homem das cavernas e o levou até a lua”, metáfora para sua funcionalidade prática. “Ler nos equipa e, estando mais equipados intelectual e emocionalmente, reagimos melhor às ansiedades e estados ou episódios depressivos”, afirma.

Criamos ou descartamos afinidades o tempo todo. E mantemos aquelas com as quais nos identificamos mais. Ler também é uma afinidade, fundamental e sadia!

Reginaldo Henrique dos Santos, médico psiquiatra

Desafios na educação

Apesar da quantidade de benefícios, o estímulo à leitura vem se tornando um desafio cada vez maior dentro das salas de aula. De acordo com Meire Bernardes, professora de língua portuguesa e linguagens, “o principal desafio na hora de cobrar leitura dos alunos é fazê-los entender que não é castigo, que leitura não é punição, que o hábito estimula o cérebro e permite o discernimento das várias informações, principalmente em um mundo onde o conhecimento é tão volátil”.

Por meio da literatura é possível exercitar o hábito da boa leitura, conduzindo o aluno a interpretar, analisar um texto, além de aprender a escrever com atenção regras gramaticais e à ortografia.

Meire Bernardes, professora

Meire acredita na internet como ferramenta auxiliar na aprendizagem, caso usada com moderação e equilíbrio. “A internet pode ser uma aliada  para o professor, se esse não usar de muito rigor e deixar de lado uma aula tradicional para aceitar caminhos modernos e mais atrativos para os jovens estudantes”, sugere.

Em contrapartida, a professora de línguas portuguesa e inglesa Suede Narciso Soares acredita que os meios digitais causaram um tipo de migração negativa na vida dos estudantes: “A maioria deles deixará de ler conteúdos que estariam presentes nas bibliotecas por leituras informais, memes, fake news, redes socias, na sua maioria, e outros gêneros que estão inseridos em suas vidas atualmente”, comenta.

Para Silvana Teixeira, “os avanços tecnológicos nos fazem repensar os espaços tradicionais de leitura, como a sala de aula e as bibliotecas”. Ela chama atenção para a leitura feita nas plataformas digitais ao explicar que “os estudantes leem o tempo todo em seus celulares e produzem conhecimento ao reagirem, editarem e publicarem textos diversos na internet. Entretanto, isso não quer dizer que eles estejam se tornando leitores críticos. Essa é uma questão que precisamos refletir enquanto professores, pois, formar leitores críticos para o mundo atual é um papel que a escola não pode se esquivar”, conclui.

A leitura deve fazer parte de um projeto institucional. Ela precisa ser trabalhada tanto nas atividades em sala de aula quanto em atividades extraclasse, como, por exemplo, em projetos de extensão que integrem a escola à comunidade externa.

Silvana Teixeira, professora

Carlos Eduardo de Noronha

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