Gangrena Gasosa é uma banda de heavy metal e hardcore formada no início da década de 1990 no subúrbio do Rio de Janeiro. Os aspectos visuais e sonoros da banda são únicos, com uma mistura de elementos da Umbanda e da cultura afro-brasileira, e letras que fazem referência a sociedade carioca e suas peculiaridades.
Em entrevista para o Colab, o vocalista Angelo Arede (Zé Pelintra) e a percussionista Gê Vasconcelos (Pomba Gira) falaram da evolução da banda, das particularidades do estilo musical e do reconhecimento.
Confira a entrevista, que foi editada para fins de clareza e concisão.
Vocês são uma banda veterana do underground brasileiro, estão desde os anos 1990 fazendo o “saravá metal”. De onde surgiu esse estilo que une a Umbanda com o rock pesado e qual a visão de vocês sobre a relevância dessa mistura sonora para o rock brasileiro?
Angelo: No começo, essa história de “saravá metal” era para desviar a atenção de que ninguém tocava bem. É engraçado como uma coisa vem tão despretensiosa mas, no começo, era isso, era uma coisa para causar aquele impacto visual, que fosse brasileira e que fizesse sentido para a galera do subúrbio do Rio de Janeiro. No final da década de 1980 e início de 1990, o subúrbio do Rio de Janeiro era um despacho [oferenda] a cada esquina. Onde eu morava, pelo menos, tinha muito despacho na rua, era bem difundido, e todo mundo que era religioso ia na igreja mas, durante a semana, ia lá tomar um passe [prática umbandista para limpeza espiritual]. Então, esse ambiente do cultismo, que faz todo sentido dentro do heavy metal, desviava a atenção de que ninguém tocava bem. Depois, como isso é mexer com uma coisa muito forte, acabou tomando uma outra forma na Gangrena Gasosa. O primeiro impacto foi bacana, só que tinha gente dentro da banda que tinha os pais evangélicos, e estava começando a se cristalizar o neopentecostalismo americano no Brasil. Mesmo a banda fazendo isso só na galhofa, já foi capa da Folha Universal mais de uma vez, lá no comecinho da década de 1990. Mesmo na brincadeira, isso mexe com uma coisa tão poderosa que, no final das contas, você acaba se cercando de outras coisas que têm relevância. Hoje em dia, [a proposta] tomou um corpo diferente e, ao meu ver, muito mais interessante, muito mais legal e muito mais forte do que fazer o negócio na zoeira. Até porque a gente aprendeu a tocar um pouquinho mais.
No rock nacional pouco se vê citações à umbanda. Eu lembro um pouco do Planet Hemp mas, mesmo assim, era muito esporádico. Como vocês enxergam essa característica única que vocês têm? Existe uma responsabilidade por trás disso?
Angelo: Eu acho que a gente é mais influência do que qualquer outra coisa. Porque, na verdade, a responsabilidade dessa abordagem e dessa representatividade nós não temos muito horizonte, o que a gente pode fazer é influenciar as pessoas. O caso do Planet Hemp é basicamente o mesmo motivo, são suburbanos com mestiços e negros na banda e que não se prendiam só ao rock. Quando essas bandas começam a acontecer, como é o caso do Planet Hemp e da Gangrena Gasosa, que aconteceram de uma forma muito obtusa, mais desorganizada e mais radical, elas vinham de um contexto suburbano, de dureza, que não tinha grana. É diferente de uma galera, por exemplo, da Barra da Tijuca, que tem sua grana para comprar um instrumento maneiro. Quando isso começou a ser quebrado, a umbanda e o candomblé começaram a aparecer mais nas músicas do rock.
A Gangrena Gasosa tem aí uma parcela forte dessa influência, mas eu não gosto de pensar como responsabilidade. Não para fugir de responsabilidade nenhuma, mas porque nós não somos uma banda gospel. Para nós, só o fato de, mesmo não sendo gospel, ter gente que diz que achava que a macumba era outra coisa e depois que nos conheceu passou a curtir, e até a frequentar, já é o suficiente de responsabilidade. Porque essa coisa de responsabilidade em um mundo tão fundamentalista, é do governo. Dentro da nossa parte, o que a gente pode fazer, por exemplo, é tornar mais visível que isso é uma expressão muito importante da cultura do Rio de Janeiro, já que a umbanda nasceu ali. É a gente divulgar isso de uma forma bem forte e significativa, mas “responsáveis”, não sei.
Eu adoraria ser responsável por uma mudança qualquer de pensamento nem que fosse de um cara que ficasse menos reacionário. Mas isso daí já é um ideal que eu não sei se a gente alcança.
Angelo Arede (Zé Pelintra)
Gê: Antes de começar essa coisa toda da polarização política, a gente estava “vamos tocar, vamos encher a cara e f***-se”, até que as coisas foram ficando mais esquisitas e a gente veio sentindo uma necessidade de se posicionar contra alguns absurdos. Acho que isso veio também com o avanço da internet, as pessoas começaram a se expressar mais. E, assim, levando o significado de responsabilidade, o que a gente pensou como banda? O que a gente tem de responsabilidade como artista? Eu acho que, resumindo, é não falar nada que não acreditamos. Até porque teve o caso do “Se Deus é 10” [“Se Deus é 10, Satanás é 666” é o terceiro álbum de estúdio lançado pela banda, em 2011], que tinha a música “Emboiolada”, que é uma música com piadas homofóbicas, que são piadas que eu faço com meu amigo gay e ele faz comigo. Mas tem uma diferença grande de você fazer uma piada de mal gosto com alguém que você tem intimidade e você colocar isso em um álbum. Isso trouxe alguns problemas para a gente e aí vimos que estávamos nos defendendo das pessoas que pensavam igual a gente, e sendo defendidos por pessoas que a gente não quer por perto. Vimos que nós temos responsabilidade sobre o que dizemos. É uma piada, mas elas têm impacto, influencia as pessoas. A partir daí, a gente vem tentando ser mais responsável nesse sentido, não pegando leve ou perdendo o humor. Mas ser mais responsável no sentido “que mensagem a gente tá passando?”. Porque a gente assumiu um compromisso de não falar o que a gente não acredita mais
O Angelo comentou que antes a ideia da banda era mais voltada para a rebeldia e a zoeira mas, hoje, vocês têm uma visibilidade muito maior e uma sonoridade mais robusta. Nas letras, apesar de ainda serem cômicas, dá pra perceber que elas são mais elaboradas. “Rei do Cemitério” e “O Saci” são diferentes das músicas do álbum “Smells Like a Tenda Spirita” mas não perdem a essência. Como foi essa evolução? Como é representar os terreiros do Brasil com essa visibilidade crescente?
Angelo: Isso veio de forma mais natural. Foi muito orgânico, sabe? Por minha mãe ser mãe de Santo, quando entrei na banda, eu já tinha em mente que existia um potencial ali muito inexplorado. Que era exatamente a riqueza de todos os assuntos que poderia ser explorado com essa temática. Essa mudança de comportamento, pode-se dizer com certa segurança, deve-se à internet. Você quer ver um exemplo? Antigamente havia na TV aberta o Programa Pânico. Ele colocava as mulheres de biquíni para se submeterem a situações vexatórias, aviltantes e degradantes, não só para uma mulher, mas para um ser humano, pelo entretenimento, mas na base da humilhação e com uma exploração absurda. É sexista e tudo mais. Só que todo mundo via, porque isso não era amplificado como uma coisa condenável. O que ditava, mais ou menos, o que o povo via, era só a TV. A coisa era tão normalizada e só a TV tinha esse monopólio sobre a opinião, daí isso virava uma coisa normal. Quer dizer, nunca foi normal, mas era normalizado na época ver aqueles quadros do Pânico, coisa inimaginável hoje em dia. E ainda bem, porque hoje em dia todo mundo tem voz. Hoje, você vê até mesmo que o cara que é mais preconceituoso sabe que se ele for para as redes para falar m***a, ele vai sofrer as consequências. Então, assim, eu atribuo essa mudança da postura da banda principalmente pela popularização da internet. Porque isso acaba mudando tudo, isso mudou o mundo e a Gangrena Gasosa muda junto. E a única forma da banda continuar existindo é sendo honesta com esses princípios. “Cara, eu não quero fazer uma letra que seja homofóbica”, por exemplo, porque isso é condenável. Que se é condenável, sempre foi, mas isso mudou bastante com a internet. Eu sou hétero e óbvio, eu fazia as brincadeiras, mas eu via na TV o Caju e Castanha cantando e, de certa forma, era engraçado por causa das rimas, mas não tinha esse entendimento de que era zuado. Isso não passava pela cabeça de ninguém e depois da internet começou a passar, entendeu? E ainda bem que sim.
Gê: Passou, porque a gente passou a ouvir a voz das pessoas que apanhavam, que se sentiam oprimidas. E vamos combinar, né? A gente não é mais moleque, ninguém tem mais de 20 anos aqui. Pô, vou fazer 40 anos mês que vem, uma hora a adolescência tem que passar e a gente tem que começar a se comportar como adulto. Quando eu tinha 15 anos eu achava lindo ser revoltada e fazer bullying e piada com todo mundo. Hoje em dia eu vejo “que pessoa com problemas de auto estima”. E a gente vai evoluindo, a gente vai envelhecendo, a gente vai descobrindo o que tem importância nessa vida e vai tentando adaptar o nosso trabalho a isso. Os resultados são bons e a gente vê que esse é o caminho que tem que seguir.
Eu sou ateia, eu não sou da umbanda, eu não sou do candomblé. Já fui muito só para comer e para participar de algum evento, mas eu acredito que quando a gente direciona a nossa energia para alguma coisa que vá para o lado da diversão, do lazer e do entretenimento saudável, é retribuído. Porque acho que todo mundo quer isso. O mundo já é horrível demais, então vamos fazer uma brincadeira saudável.
Angelo: Eu não quero ser um fator de “bad vibe” para as pessoas. E, claro, ninguém aguenta aquela positividade tóxica que é o outro extremo.
Gê: A gente tem a nossa “negatividade tóxica”.
Angelo: Isso, a gente tem o nosso “ódio festivo”. Só que até mesmo esse ódio festivo tem que ser bem direcionado, porque se você vai zoar alguém, você tem que zoar aquele que tem, primeiro, como se defender e, segundo, que tem alguma coisa errada. Alguma coisa que você diga para você mesmo que aquela pessoa é execrável.
O nome do último álbum “Gente Ruim Só Manda Lembrança pra Quem Não Presta”, fala um pouco disso, não é?
Gê: É, foi bem pessoal.
Angelo: É, e foi para uma coisa que a banda estava passando. Por um negócio de processos e tudo mais, e que acabou se personalizando nisso. Mas acabou que veio numa época também que, pô, em uma das letras do disco faz referência ao nome do Bolsonaro. Eu me senti obrigado a falar que era sobre os “bolsominons” na música “Jogo do Bicho”.
Gê: Vamos ser “tiozão” da política. “Eu já falava mal do Bolsonaro antes de virar modinha”.
Angelo: A gente foi vendo isso durante [as eleições]. A gente participou do [evento] “Metal Contra o Fascismo”, que foi no segundo turno e ainda estava aquela coisa do “ele vai ganhar ou não vai?”. E aí teve o evento no Circo Voador e a gente participou sem ganhar nada, só pra ver se botava na cabeça [das pessoas] porque estava aquele movimento como está agora. É meio desesperador você imaginar que é possível que metade do país apoie um fascista.
Gê: A gente foi bem xingado em 2018, perdemos vários seguidores. Mas, enfim, deu uma limpada na casa. Perdemos um e chegou muito mais gente que pensava igual.
Angelo: Você perde de um lado, mas você ganha de outro também. É a mesma coisa de você estar num bar, só com gente maneira do teu lado, e um babaca vem. E o que você faz? Você aguenta o babaca até o final ou tu faz alguma coisa? Então isso foi bem natural.
Além das músicas, vocês fazem toda uma performance em cima dos palcos com a base religiosa. Fazem ebó e têm os pontos também. De onde veio essa ideia e qual a importância disso na valorização dessa religião que é 100% brasileira?
Gê: Eu acho que é bem interessante, especialmente nesse momento de intolerância e demonização das religiões [de matriz africana], da cultura em geral, que a gente possa levar e apresentar uma performance que tem essas figuras [da umbanda]. No começo, a escolha de tocar vestido de entidade foi para fazer uma paródia com o “black metal”, fazer o “black metal brasileiro”. E, como eu comentei antes, a gente parou de querer zoar com as coisas e passamos a levar mais a sério. A sério em questão de respeito, não tem porque você desrespeitar a cultura, as identidades. Assim que eu entrei na banda, eu fui em um terreiro e eu perguntei, “vem cá, como é que é esse negócio aí?” e me recomendaram a não usar determinados tipos de adereços. Conversando lá com o seu Zé Pelintra, ele pediu pra dar um agradinho de vez em quando por usar as cantigas e tal. E, cara, a galera “do lado de lá”, está tranquila. Eu acho que não tem porque a gente querer pagar de rebelde, anti-tudo, se é uma coisa que não faz mais sentido para a gente. O Davi [um dos vocalistas da banda], é ogã, ele é sacerdote da umbanda, ele toca em vários terreiros e ele é um dos caras que entrou para a religião por causa da banda.
Arede: Não somos uma banda gospel, “siga umbanda”, “siga o candomblé”. A gente não faz isso, até porque é auto explicativo. A gente está aqui que nem o Chacrinha, a gente não vem para explicar, a gente vem para confundir. A gente gosta de botar a pulga atrás da orelha da galera. É muito mais legal você fazer uma pergunta desafiadora do que dar uma grande resposta. Então, quando a gente sobe no palco, o que eu pretendo com a temática da umbanda e do candomblé é tornar aquilo uma viagem, uma experiência catártica e emocionante, porque é rico demais.
Tem banda nacional falando de viking, de coisas nórdicas e tudo mais. É uma cultura riquíssima também, ninguém está questionando isso, mas e a cultura daqui?
A cultura onde as pessoas pedem um negócio para uma entidade que é uma caveira de cartola, por que não se aprofundar nisso? Porque não se aprofundar numa religião que acaba misturando outras coisas brasileiras e que tem uma deusa, que é a deusa do trovão? Tem aí o Thor, mas dentro da mitologia iorubá, que depois os brasileiros, pelos escravizados que vieram para o país, acabaram incorporando e acabou virando a nossa macumba, tem deuses do raio, deuses da natureza, deuses da cura, da guerra. Na verdade, a pergunta deveria ser voltando ao passado. Perguntar lá no passado: “por que vocês não exploram melhor essa vertente da coisa mística brasileira?”. Na verdade, essa pergunta é que a galera não se fez no começo, mas que eu sempre vi esse potencial e sempre quis trazer isso, que é épico. E ao mesmo tempo que é épico, você vê que todas as histórias de orixás que representam as forças da natureza, não tem errado ou certo. O leão não é errado porque come a hiena, ele só está sobrevivendo.
Sempre foi uma coisa muito subutilizada na banda e eu ficava maluco. Eu era amigo do guitarrista na época e a banda ficou sem baixista, aí eu falei: “cara, tenho que entrar nessa banda, ela tem um potencial incrível”. Quando você passa a ver a riqueza do assunto, a riqueza poética e também a riqueza “deathona”, como a gente costuma chamar as coisas, no sentido de “death metal”, como um verbo. Esse tema é muito rico por si só, e é muita idiotice que seja discriminado. Se não fosse uma religião fundada por escravizados e se não tivesse vindo da África, certamente não sofreria tanto preconceito. Tem essa coisa da tentativa do apagamento das religiões de matriz africana e que, de certa forma, eles estão sendo efetivos, porque diminuiu bastante o número por causa dessa coisa [neopentecostalismo] das igrejas evangélicas.
Recentemente vocês tocaram no Rock in Rio no Palco Favela, que carrega a ideia de dar visibilidade para artistas suburbanos do país. Como foi esse processo até chegar ao palco do festival?
Gê: A gente foi fazendo o nosso e as coisas foram acontecendo. Nós temos quem dá uma força na questão de negociar shows, mas o Rock in Rio veio por nós mesmos. Nós chamamos atenção suficiente e vieram direto na gente. Entraram em contato com o Ângelo [Arede] direto. Na maioria dos grandes eventos que a gente tocou, foi sempre assim. Como você não tem dinheiro, você tem que chamar atenção, tem que ser impossível te ignorar. Mas foi tudo orgânico, trabalhando, e sem querer ter muito controle sobre tudo.
Recentemente, até para lançarmos perto do Rock in Rio, gravamos três singles. Nos preocupamos em fazer um estúdio maneiro com a galera que entende de som pesado e a gente ficou mais confiante que daríamos conta do processo de produção. Eu nunca tive uma gravação em que eu tenha participado tanto. A gente ficava, às vezes, naquela insegurança de “tem que deixar na mão de quem entende”, mas não, [agora] a gente entende. Vamos dar opinião, apontar dedo e dizer que isso tem que ser assim.
Angelo: Nós não temos uma equipe que faça prospecção para a gente. Eu adoraria ter uma equipe de assessores como algumas bandas têm, uma produtora que fizesse contato ativo com os festivais. Mas a gente é só do jeito passivo mesmo. Normalmente a gente não faz um pitch: “tô mandando material aí para vocês levarem a gente [para tocar]”. Nós nunca fizemos isso, e se fizemos, foi dentro de algum contexto que eu não lembre e que com certeza não deu certo, porque isso normalmente não dá certo. Nós não temos esse trampo de pitching, mas a gente vem desde o “Se Deus é 10” [em 2011] tocando. Depois a gente lançou o “Gente Ruim”, que foi em 2018, mas teve o “Desagradável” [documentário sobre a banda] no meio. Teve o DVD, teve revista, teve trilha sonora, teve curta metragem, teve um monte de coisa que a banda foi fazendo que acabou se tornando impossível ignorar a gente. Quer dizer, impossível não, pode ignorar, só que, no mínimo, vai perder um pouquinho de grana. Então acabou que chegou um certo ponto, lá pelo “Gente Ruim”, principalmente, que nós começamos a fazer um shows muito agressivos, no sentido profissional, bem tocados, fortes, pesados. Nós começamos a fazer uns shows muito legais e isso foi multiplicando. Na pandemia a gente também não parou. Fizemos live dentro das nossas dificuldades, perdemos familiares também, mas mantivemos a banda e as redes funcionando.
E como a banda reagiu à pandemia?
Gê: A gente não se encontrou, não ensaiamos, nós respeitamos bastante essa coisa do isolamento e o ensaio foi só depois de ter a vacina. A gente ficou quase dois anos sem se ver, mas nesses dois anos o pessoal ficou trabalhando remotamente. Eu confesso que eu participei muito pouco disso, não estava bem, eu perdi meu irmão – mas que bom a banda não sou só eu. Mas saímos [do isolamento] e voltamos a ensaiar já com um monte de base para para o álbum novo.
Angelo: Eu não criei muito negócio de composição, eu fiquei mais nas redes. E sou eu até hoje que tomo conta das redes. É um trabalho muito importante e eu não sei se uma banda independente como a Gangrena Gasosa teria a possibilidade de alguma vez na sua vida tocar, por exemplo, no Rock in Rio. A gente sempre manteve a máquina funcionando, mesmo na pandemia. Quando os shows voltaram, a gente fez a turnê no Sul, e aí sim foi a agência que organizou e fizemos muita questão de divulgar. E eu não sei se por conta disso ou por conta de outras coisas, mas no meio da turnê, estávamos viajando de uma cidade para outra e o Diego Padilha [fotógrafo que trabalha para o Rock in Rio] ligou para a gente. E nessa intermitência do festival, nunca teve uma prospecção, mesmo que amadora, do Padilha.
Gê: Até porque se fizer, ele toma um pé na bunda. Eu conheço muita gente que trabalha lá, que é músico também, e é terminantemente proibido fazer propaganda dessas coisas. Divulgar o seu trabalho artístico durante seu trabalho lá. Enfim, eu realmente achava que a gente nunca iria tocar no Rock in Rio, nunca, nunca na minha vida.
Angelo: Eu tinha convicção disso!
Gê: Eles vão botar a Gangrena Gasosa falando de Satanás? Vão botar a gente para tocar no Faustão, com as famílias brasileiras num domingo à tarde? Não faz sentido! Eu achava que com o Rock in Rio ia ser a mesma coisa. Eu não tinha esperança nenhuma que a gente fosse tocar, mas as coisas aconteceram direitinho e tocamos.
E como foi representar o “saravá metal” no Palco Favela, no berço da umbanda, que é o Rio de Janeiro, e com uma visibilidade mundial?
Angelo: O que foi mais legal é que o show foi no Palco Favela. E eu não ia no Rock in Rio já algum tempo, por lance de grana mesmo.
Gê: Eu só fui porque fui tocar!
Angelo: É uma prata, o ingresso é caro, mas não é só ingresso, é tudo para ir até lá. Mas essa coisa do Palco Favela, quando surgiu, a galera meio que torceu o nariz: “tá estereotipando a quebrada”. Mas eles foram amadurecendo a ideia para não ser só aquela coisa de explorar uma estética. Hoje em dia envolve um monte de outras coisas, não só o cuidado com a estética, mas o cuidado com a técnica do palco mudou bastante. E é engraçado que essa coisa do suburbano, da religião de matriz africana, da gente falar da cultura underground, do rock’n’roll e abordar esses temas com uma linguagem muito carioca, não poderia ser de outro jeito. Se fosse de outro jeito eu poderia assumir uma linguagem mais formal nas letras, eu sei fazer assim também, mas não é para ser assim. O que muita gente falou é que “parece que aquela cenografia era para um show de vocês”.
Foi um elemento fortíssimo! Aquilo conversou tão bem com a galera [da banda] fantasiada e o tamborzão tocando naquele cenário, que realmente parece ter sido feito para vocês.
Gê: Créditos também para nossa iluminadora.
Angelo: Para nossa equipe toda! Por sermos underground, nossa equipe é muito compacta e raramente levamos os roadies nas viagens. No Rock in Rio a gente fez questão de levar técnico de monitor de palco, técnico de PA [Public Address], técnico de iluminação, roadies, fizemos o clipe, gravamos a música e não sobrou nada do cachê. O dinheiro não deu para o que programamos reinvestir, mas a nossa equipe foi incrível.
Ouça Gangrena Gasosa
A banda está ativa nas mídias sociais e fazendo shows pelo país. Além disso, segue trabalhando em seu novo álbum, que tem data de estreia prevista para 2023. Já foram lançados três singles, Headboomer, o mais recente Boteco-teco e Rei do Cemitério, publicado no dia do show no Rock in Rio e que conta com um vídeo clipe alucinante, confira:
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