Trabalhar novas artes que não sejam sua zona de conforto pode ser, na maioria das vezes, algo complicado. Porém, FBC se mostra criativo ao fazer isso. Juntamente dos talentos de VHOOR, um produtor musical que costuma apresentar gêneros diversos em seus projetos pessoais, o artista traz em Dias Antes do Baile uma mistura de música eletrônica com sons latinos e africanos.
O EP Dias Antes do Baile, projeto que conta com composições que não foram utilizadas em seu último álbum, Baile, foi lançado pelo artista mineiro FBC em 24 de fevereiro, em mais um trabalho em parceria com VHOOR. Como uma última visita aos bailes das capitais por meio das músicas, o projeto abre caminho para as novas vertentes que Fabrício e Victor Hugo irão experimentar nos próximos sons.
FBC é Fabrício Soares, um artista criado nas batalhas de rima de Belo Horizonte. Ex-membro do extinto grupo de rap DV Tribo, o Padrin, como é chamado por seus fãs, tem investido em projetos solos e colaborativos. Já Victor Hugo, o VHOOR, é um beatmaker da região de Venda Nova que vem ganhando destaque nacional e internacional com suas músicas e trabalhos de DJ.
A parceria entre os dois vem desde 2021 mas, durante esse tempo, já mostrou que pode nos dar grandes frutos. O primeiro trabalho colaborativo entre eles, Outro rolê (2021), já nos mostra um entrosamento em suas referências e musicalmente. Mais tarde, naquele mesmo ano, o álbum Baile chegou ao público carregado de expectativas após o single Se tá solteira, e as supera.
Respirando novos ares
Ainda que a mistura de funk e elementos da vertente musical do hip-hop esteja saturada, os dois mineiros conseguem tirar novas formas de fazer essa fusão. O produtor busca em suas referências os instrumentos das músicas afro-brasileira e o ritmo sul-africano Amapiano. Com isso, temos um EP cheio de ritmos e bons momentos no mais novo projeto da dupla.
EP ou LP?
A diferença entre os dois está na quantidade de faixas e duração. O Extended Play (EP) tem entre 4 e 6 músicas, com duração de 30 minutos. O Long Play (LP ou álbum) tem mais de 6 faixas e maior tempo de reprodução.
Percurso até o baile
Demônio da Lata – Nessa faixa, o rapper traz em sua letra sua preparação para um baile, desde suas expectativas até sua forma de se estilizar e se arrumar para curtir o momento. Ao passar pela música, FBC utiliza de um flow já visto anteriormente, porém, a forma de contar uma história e a produção deixam o ouvinte hipnotizados. Isso resulta em uma boa música de abertura para contar o ontem ao baile, e preparar o ouvinte para o que está por vir.
Lindo – A partir daqui o artista já se encontra no baile, seu sentimento com o movimento é afetuoso. Sua percepção do ambiente é traduzida em versos, a sensação de pertencimento é nítida e mostra como ele se sente à vontade naquele lugar. Novamente, os tambores de VHOOR conduzem o ouvinte mas, dessa vez, com uma performance mais animadora do rapper.
É Vilão – Dando novo significado para o que é ser vilão e usando de várias referências do funk, FBC se junta a Abbot em um som que fala sobre autoestima e conquistas. A mudança do flow de Fabrício para seu convidado é grande, mas é feito de forma que traz mais energia para a faixa. Tudo isso sendo feito enquanto o beat os acompanha, deixando com que os vocais, mesmo que em sintonias diferentes, conversem entre si.
Fofoca – Nessa track, FBC parece desperdiçar a produção suave e envolvente de seu companheiro. Aqui, o rapper mineiro não soube aproveitar os vocais do trio Tuyo e se mostra pouco criativo ao fazer sua letra, de modo que a faixa soa apenas como algo reciclado. A escolha de fazer dessa música seu single parece um acerto, tendo em vista a diferença desse som para o que já foi apresentado pelo artista, o que pode trazer novos ouvintes para Fabrício.
Clareou – Aqui FBC tem um belo acerto ao dar maior destaque para Tuyo. A química entre os artistas é notória e traz um ritmo que faz uma mistura de leveza e animação da produção eletrônica. A letra íntima e sentimental é uma forma de finalizar o projeto com alívio e tranquilidade sem perder a vibração dos tambores tão bem pensados por VHOOR.
Ao fim do Baile
Após ouvir o EP diversas vezes, nota-se um trabalho coeso e pouco tedioso. Mesmo que o ouvinte escute incontáveis vezes, a produção do artista de Venda Nova mostra novas camadas sempre, o que torna o consumo prazeroso. Os convidados compõem muito bem o time e a forma de contar histórias de Fabrício mais uma vez chama a atenção. Para quem não está acostumado com o ambiente do baile funk, a festa possa causar acovardamento, para a dupla, a festa é um refúgio de criatividade.
Adicionar comentário