Ícone do site Colab

Favela: apropriação sem reconhecimento

Imagem ilustrativa / Brasil com S

A estética das favelas brasileiras passou a ocupar um espaço central na moda, na publicidade e nas redes sociais. Chinelos Kenner, camisetas de time, cortes de cabelo descoloridos, correntes douradas e os famosos óculos Juliet, símbolos do famoso estilo “chavoso”, se tornaram símbolos do “Brazilcore”: elementos antes marginalizados que viraram tendências globais, adotados por influenciadores, celebridades internacionais e marcas de luxo.

Entretanto, por trás dessa estética que virou moda, existe uma evidente contradição. Enquanto o visual da quebrada é exaltado nas vitrines, os corpos periféricos que as originaram seguem sendo alvo de preconceitos e da violência do Estado. A recente megaoperação policial no Rio de Janeiro, que deixou dezenas de mortos e foi amplamente criticada por organizações de direitos humanos, expôs o abismo entre o discurso fashion da “brasilidade periférica” e a realidade social das comunidades que inspiram essa estética.

Aquilo que sempre foi uma expressão identitária só ganhou o status de ‘estética’ quando foi incorporado por pessoas de fora das comunidades. O que antes era taxado como “cafona” ou “coisa de pobre” hoje é celebrado como sinônimo de autenticidade. A diferença está em quem veste. Quando um jovem negro usa correntes de ouro e bermuda larga é visto como “favelado” mas, o mesmo visual  em corpos brancos e privilegiados ganha status de “sofisticação urbana”.

Imagem meramente ilustrativa / Brasil com S

Um exemplo dessa apropriação é a Lacoste. Tradicional símbolo de status nas comunidades e frequentemente mencionada em letras de funk, lançou em 2021 uma coleção chamada “Crocodilos Jogam Juntos”. A campanha utilizou elementos da estética das periferias, mas não incluiu nenhum artista, criador ou representante das comunidades que foram responsáveis pela popularização da marca no cenário nacional. Lucrou com a estética, mas ignorou a origem. 

Ou seja, o mercado valoriza a exploração da estética sem reconhecer as vozes e as raízes que à originaram. Enquanto o “Brazilcore” lança tendências globais com roupas e acessórios, as mesmas nas ruas são justificativas para abordagens policiais e julgamentos raciais e sociais. Isso evidencia que a favela é apropriada apenas como referência estética, sem que haja reconhecimento pelos moradores que criam e vivem essa cultura.

Sair da versão mobile