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Exposição valoriza a cultura quilombola e o Rio das Velhas 

Mostra aborda religiosidade, resistência e as tradições quilombolas n a manutenção da memória de um povo

As exposições de arte configuram-se como um verdadeiro espaço de ligação entre artistas e o público. As proposições visuais e sensoriais exploradas em uma exposição dialogam com diferentes concepções de arte e de organização da sociedade. As mostras artísticas são importantes espaços do fazer político, militância, mudança de paradigmas e manutenção de memória, como é o caso da mostra “Terreiros – As Margens do Velha“, desenvolvida pela artista Massuelem Cristina, que esteve em cartaz no período de 22 de setembro a 06 de novembro, na Galeria de Arte do BDMG Cultural.

Essa produção encerrou o Ciclo de 2022 do BDMG, com instalações que recriaram a estética e simbologia da atribuição de valor afetivo aos objetos e espaços físicos sagrados nas tradições afro-brasileiras. As  obras visavam resgatar a memória ancestral da artista, uma homenagem às mulheres do Quilombo Xavier, em Sabará, que, sob as margens do Rios das Velhas, contribuíram para a consolidação espiritual de Massuelen.

parede pintada de vermelho em que se lê; " Massuelem cristina - terreiros ás margens do velha"
Entrada da exposição no BDMG Cultural. Foto: Paula Barreto

Vitú Souza, curador da exposição, reforça a ideia de que falar de religiões de matriz africana é importante, mas também um desafio na sociedade atual e, em especial, na capital mineira. Segundo ele, “Em Belo Horizonte não é um bom cenário de abertura, mas foi o cenário que tivemos, sabendo que falar sobre terreiro é sempre um tabu, porque até existem trabalhos e divulgação de informações sobre cultura negra e terreiros, mas poucas vezes esse trabalho é desenvolvido por pessoas que realmente performam essas identidades’’.

O curador também comentou sua perspectiva sobre possíveis reações do público visitante à exposição, tomando como base o cenário sociopolítico vivido no Brasil. “Já estávamos cientes que seria uma exposição que causaria incômodos. Nesse momento de galerias fechadas e de uma censura mais ativa, eu consigo ver um cenário onde a reação dessa exposição será um pouco difusa. Vejo dois caminhos possíveis, sendo um de uma reação violenta de uma classe que verbaliza um discurso neofascista e racista, e outro que vai lidar com a banalidade e o distanciamento dessas pessoas de posição contrária”. 

Sacerdotisas da Família Xavier expostas em um varal e bordadas com linha vermelha
Peças da exposição de Massuelem Cristina. Foto: Paula Barreto

Vitú Souza também reforçou a ideia de que falar de religiões de matriz africana é importante, mas também um desafio na sociedade atual e, em especial, na capital mineira. Segundo ele, “Em Belo Horizonte não é um bom cenário de abertura, mas foi o cenário que tivemos, sabendo que falar sobre terreiro é sempre um tabu, porque até existem trabalhos e divulgação de informações sobre cultura negra e terreiros, de modo geral, mas poucas vezes esse trabalho é desenvolvido por pessoas que realmente performam essas identidades’’.

O curador também comentou sua perspectiva sobre possíveis reações do público visitante à exposição, tomando como base o cenário sociopolítico vivido no Brasil. “Já estávamos cientes que seria uma exposição que causaria incômodos. Nesse momento de galerias fechadas e de uma censura mais ativa, eu consigo ver um cenário onde a reação dessa exposição será um pouco difusa. Vejo dois caminhos possíveis, sendo um de uma reação violenta de uma classe que verbaliza um discurso neofascista e racista, e outro que vai lidar com a banalidade e o distanciamento dessas pessoas de posição contrária”. 

Altar coberto com trama de crochê vermelho. Sobre ele há diversas imagens de objetos sagrados para a Umbanda
Representação de objetos sagrados para a Umbanda. Foto: Paula Barreto

Ao construir e analisar exposições cuja temática seja alvo de preconceitos, é necessário se atentar à importância dos debates plurais. Leonardo Godinho, aluno de administração, em visita à exposição, trouxe sua visão sobre o papel de produções como a de Massuelen para a memória e a manutenção da cultura do povo quilombola. “Sou cristão, mas acredito na pluralidade. Acho muito importante que as galerias abram espaço para artistas que falam sobre política, religião e outros assuntos polêmicos de maneira respeitosa, podendo mostrar, com os olhos de quem vê por dentro, a perspectiva de determinada cultura”.

Ter esse espaço faz com que artistas de diferentes ideologias possam trazer suas histórias, seus relatos e a cultura de seu povo para espaços de destaque”

Leonardo Godinho

Assim como Godinho, o curador da exposição, tratou da importância da memória pelo viés de outro elemento: o Rio das Velhas, fundamental para a consolidação da história e da cultura da comunidade quilombola Xavier. Segundo Vitú Souza, “Nesse processo de assentamento que o quilombo passou por sete décadas, o rio se torna parte da vida dele, da casa dele, se torna oferenda, logo, o rio se torna sagrado. Além também de remeter a uma tradição de várias culturas africanas em que as águas são sagradas, o que faz com que o Rio das Velhas tenha sido amplamente valorizado”.

Por fim, o curador relata sua vivência junto a artistas como Massuelem: “O trabalho é de Massuelem, mas a curadoria que eu realizei com ela é fruto de uma pesquisa nas artes da museologia e nas ciências do patrimônio que venho desenvolvendo há cinco anos”. Ele ressalta a importância de participar desse processo de valorização da arte advinda de pessoas pretas.

Me sinto um facilitador da arte dela, ajudando a curar certos conceitos, no sentido também literal. É um grande benefício estar vivo e experienciando o que esses artistas negros potentes fazem, e também a forma como eles conseguem performar suas próprias referências, algo muito positivo e muito potente’’. 

Vitú Souza
Reportagem produzida por Paula Barreto e Iuri Cerqueira, na disciplina de Política e Comunicação, sob supervisão da professora Antônia Montenegro.

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