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Ethel Corrêa olhando para frente e sorrindo com os braços sobrepostos
Legenda/Créditos: Jornalista Ethel Corrêa /Youtube

Ethel Corrêa: ícone do jornalismo policial

A jornalista é contratada desde 2007 pela TV Alterosa, e se destaca na cobertura de casos policiais em BH e na Região Metropolitana.

Em uma quinta-feira ensolarada, no prédio onde é sediado o conglomerado dos Diários Associados e, mais especificamente, do jornal Estado de Minas, Ethel Corrêa passa apressada pela portaria, cumprimenta nossa equipe  brevemente e sobe para descarregar uma notícia que acabara de realizar em uma comunidade de Belo Horizonte (BH). Estava investigando uma empresa que, aparentemente, está atuando de maneira ilícita  comenta.

Subimos até o andar da TV Alterosa, local onde Ethel trabalha há mais de 15 anos e, de maneira descontraída, iniciamos nossa entrevista. Tínhamos 50 minutos (cedidos de seu almoço), um gravador e muitas perguntas na ponta da língua. E assim começamos. Ethel já se adiantou e iniciou seu relato. Jornalista por formação, ela conta que sempre gostou da escrita e ainda pequena se interessava pelas aulas de português e redação da escola. 

Um grupo de pessoas em pé e sorrindo para a câemra, com a jornalista Ethel a esquerda e os alunos Antonio, Rinaldo e Letícia, dispostos da direita para a esquerda.
Legenda / Créditos: Foto do grupo com a Ethel | Antônio Cardoso

A jornalista é contratada desde 2007 pela TV Alterosa, e se destaca na cobertura de casos policiais em BH e na Região Metropolitana. Em seu currículo constam  grandes reportagens, um vasto repertório e experiências na cobertura do jornalismo investigativo.

A jornalista é contratada desde 2007 pela TV Alterosa, e se destaca na cobertura de casos policiais em BH e na Região Metropolitana. Em seu currículo constam  grandes reportagens, um vasto repertório e experiências na cobertura do jornalismo investigativo.

Infância

Ethel deu seus primeiros passos profissionais, encontrando inspiração na jornalista Glória Maria, que foi a primeira identificação que a atraiu, ainda pequena, para o mundo da comunicação. A espontaneidade de Glória encantava Ethel, que ainda criança pensava: “Jornalista com aquele cabelo? Crespo, curtinho?”

 Não havia espaço para mulheres negras naquela época

Ethel Corrêa, jornalista.

Com sua primeira inspiração na TV vindo de Glória, Ethel encontrou mais uma ferramenta que a ajudaria em seu papel como jornalista, a escrita. Ela conta que sempre gostou de escrever, fazer redações, poemas, e tinha uma facilidade com as letras, e aí juntou uma coisa com a outra. Quando encontrou uma referência na TV, entendeu que também poderia ser jornalista, e não tirou essa ideia da cabeça mais. 

Na infância, que se passou em uma periferia da capital mineira, cresceu em uma família simples, sendo a primeira de seu núcleo familiar a acessar o ensino superior. Seu pai era motorista, a mãe, dona de casa. Tinha cinco irmãos, além dela. Estudante de escola pública durante a juventude, teve que lidar com a precoce morte de sua mãe, quando Ethel tinha 13 anos. 

Juventude e formação

Após a morte de sua mãe, Ethel se encontrava num cerco de dúvidas quanto ao futuro. Esse período foi decisivo para sua carreira. No intervalo de 3 anos, ela começou um curso técnico de contabilidade no ensino médio e tentou, sem sucesso, vestibular para jornalismo na UNI-BH (naquela época, Fafi-BH). Estudando com livros emprestados, Ethel obteve êxito na aprovação para o vestibular de jornalismo em sua segunda tentativa.

Inspiração e início de carreira

Ethel na TV Alterosa, apresentando o jornal em frente a um telão com a logo do Jornal Alterosa, com uma vestimenta branca.
Legenda / Créditos: Ethel Corrêa apresentando o Jornal Alterosa | TV Alterosa

Além de Glória, a jornalista Maria Helena dos Santos também foi uma grande inspiração para sua carreira como jornalista. A jornalista sentiu-se representada e inspirada pelas comunicadoras e elas trouxeram motivação para que Ethel seguisse seu sonho. Em suas palavras, ela afirma “ao olhar para aquelas jornalistas, que eram tão parecidas comigo, eu pensava, se elas podem, eu também posso”

Mais tarde, enquanto cursava jornalismo, começou a se interessar pelo tipo de cobertura jornalística investigativa (área em que trabalha hoje em dia) e com isso, passou a admirar outros jornalistas e se inspirar neles, como Ana Paula Padrão e Paulo Henrique Amorim trabalhavam A maneira de apurar, de tentar se aprofundar mais no assunto, a firmeza na fala e a forma de se colocar, por exemplo, foram características que a repórter observou neles que a inspiraram e ajudaram a encontrar seu estilo e moldá-la como jornalista.

Além disso, Ethel buscou se aproximar mais do estilo de jornalismo do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) do que da Rede Globo, pois achava que a forma de conversar e abordar certos assuntos era mais parecida com suas características.

Oportunidades e preconceitos

Durante nossa entrevista, a questão de gênero e raça não poderiam ficar de fora, afinal, Ethel ainda é uma das únicas mulheres negras em posição de destaque em sua emissora, e é vista como um símbolo de inspiração para jovens – de todas as raças -, dentro do jornalismo. Ethel participa de sua emissora atual há mais de 15 anos, e antes disso foi colaboradora em outros canais de TV. Ela conta que, em uma de suas experiências profissionais, foi demitida por não se enquadrar na nova política da empresa, que visava pessoas mais jovens. Mesmo sendo a melhor repórter dali, segundo as palavras do seu então chefe, não foi poupada do seu desligamento.

Ethel ainda pontua sobre as políticas de diversidade encontradas hoje em emissoras de TV. Na sua visão, há uma política macro, que é de ter profissionais negros nos espaços de trabalho, mas isso, infelizmente, não traz a visibilidade necessária para os profissionais negros, nem garante a eles credibilidade profissional. Essa política, adotada por muitas emissoras, não faz com que uma grande parte dos jornalistas admitidos sejam negros ou retintos, apenas estabelece que irão ter profissionais negros em determinadas áreas, cumprimindo a politica estabelecida pela empresa, mas esses jornalistas ainda são minoria dentro destes espaços. 

Quando questionada sobre como essas decisões ou segmentos são tomados, ela nos explica que depende da emissora e qual o rumo que os diretores de jornalismo desejam tomar. Se é ter um grupo diversificado, manter a bancada do jornal nas mãos de pessoas mais experientes ou dar espaço para pessoas mais novas, o modo de fazer jornalismo vai depender do espaço onde o jornalista está inserido e qual o segmento a diretoria do jornal deseja seguir.

Ethel em uma rodovia, em frente a uma placa de transito que indica a diração para as cidades de Bento Rodrigues e Catas Altas. Usa uma blusa vermelha e cabelos soltos curtos.
Legenda / Créditos: Ethel Corrêa em trabalho de campo | Divulgação/Youtube

Trabalho da Apuração

Quando questionada sobre sua maneira de apurar, Ethel explica que sempre seguiu uma linha fiel e clara na sua apuração, desde o começo de sua carreira. Sua vontade, desde o início, era realizar um trabalho de apuração que a deixasse próxima do seu público, sem a distância imposta entre repórter – público. Desde seu primeiro contato com a vítima ou entrevistado, até a apuração de sua reportagem e como ela conta essa história para o público, Ethel traz consigo um jornalismo claro, sucinto e acessível. Para ela, é importante que todas as pessoas a compreendam, desde um político em Brasília até um trabalhador no campo.

Ela se coloca no lugar da vítima, com muita empatia, e se solidariza com ela. Para Ethel, é importante ouvir o lado dos envolvidos e dar voz para que se possa cobrar a justiça. Ela garante a oportunidade das vítimas chegarem até ela, ao mesmo passo que garante a credibilidade de seu trabalho com os investigadores, e recebe informações que poderiam ser um furo de reportagem, teve oportunidade de ouvir um dos envolvidos primeiro, mas manteve a informação privada, segura, a fim de não atrapalhar as investigações policiais vigentes. Ethel já contribuiu diretamente com o andamento de alguns casos que cobriu em sua carreira. Certa vez, a vítima chegou até ela em um momento em que a polícia não podia ouvi-la. Seu trabalho se mostra de extrema importância quando as vítimas a procuram para dar a sua versão, fazendo de Ethel um elo seguro para as investigações. O fato de ser uma jornalista ética e íntegra, nunca colocando os interesses de um possível furo jornalístico acima da importância da investigação, a colocam em uma posição de confiança, tanto por parte das fontes quanto por parte da investigação.  

Durante 15 anos de TV, ela acompanhou e realizou várias coberturas de casos notáveis, como o do Goleiro Bruno ou o Maníaco de Contagem. O do Bruno marcou profundamente a jornalista. Ela esteve na mídia nacional, e teve uma ampla cobertura por parte das emissoras de todo o país. 

É um caso que, judicialmente ele foi encerrado, mas está aberto, permanece aberto, pois diversas perguntas continuam sem respostas.

Ethel Corrêa, jornalista.

As controvérsias do caso, segundo ela, irão acabar e o caso se dará por encerrado no dia em que algum dos acusados envolvidos na trama resolverem contar a versão do que de fato aconteceu naquela noite. Até isso acontecer, o caso permanece em aberto, mesmo que os culpados estejam presos, segundo Ethel. 

Capa do livro de Ethel, com uma favela ao fundo desfocada e ela, em primeiro plano, com um microfone na mão, com agasalho bege e um microfone escrito “SBT” na mão.
Legenda / Créditos: Foto da capa de seu livro “Histórias que contei e você assistiu na TV” | Editora Pomar das Ideias

Futuro do jornalismo

Seu objetivo, a partir de agora, é inspirar pessoas a partir do que se tornou como jornalista, através de sua história, Para Ethel, ela é o que é, pois foi atrás do seu sonho. 

Em seu livro Histórias que eu contei e você viu na TV , da editora Pomar de Ideias, Ethel descreve sobre suas histórias de matérias investigativas, de crimes que marcaram a sociedade e marcaram pessoas. No livro ela conta como esses casos começaram e terminaram. É algo que muitas vezes não vemos no jornalismo diário, porque não conseguimos acompanhar o andamento da investigação, ela diz. Então, o livro é um resumo para o leitor e o telespectador que acompanhou seu trabalho na televisão possam se inteirar sobre o caso mais profundamente, a partir da sua tática de apuração. 

No final da entrevista, ela nos conta que, quando criança, não tinha construído em sua mente o que gostaria de fazer ao certo, mas entendeu que gostaria de ser uma jornalista ao ver Glória Maria. Seu livro é um material para as pessoas que assistem e acompanham ela pela televisão e outros meios de mídia. É um material para, além de mostrar a vasta cobertura jornalistica que Ethel fez durante os anos, possa florescer esse sentimento de identificação, inspiração e admiração, que ela teve com Glória e a levou a ser a jornalista de hoje. O livro passa uma mensagem aos leitores, que entende que mesmo quando tudo corre contra você, ainda há uma chance. Quando você quer, você vai atrás para conseguir. Além da nostalgia de relembrar os casos de sua carreira. 

Uma dica aos futuros jornalistas?

Para os jornalistas em formação, Ethel sugere o foco. Seja o jornalista que deseja trabalhar com cultura, esporte ou política, um bom profissional deve ter manter seu foco firme e se especializar. Conhecer o setor de atuação.

Se especialize, abra os olhos para o que acontece no seu entorno. Sobretudo, leiam e acompanhem os repórteres e  jornalistas de hoje. E sejam éticos acima de tudo.

Ethel Corrêa, jornalista.
Conteúdo produzido por Letícia Nogueira, Rinaldo Robson e Antônio Cardoso com supervisão da professora e jornalista Fernanda Sanglard.

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