Classificado pela legislação brasileira como o “ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho em instituições de educação superior”, o estágio é considerado como uma etapa fundamental para a formação acadêmica. Ganhar experiência, fazer networking e ter oportunidade de colocar em prática o que é ensinado na graduação são alguns dos pontos positivos para aqueles que já passaram por esta experiência. Mas quais são os principais desafios e perspectivas para estudantes que já estagiam ou desejam estagiar?
De acordo com a última pesquisa realizada pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE-MG), em agosto de 2022, o Brasil possui 726,6 mil estagiários em atividade, sendo que dez mil destes residem em Minas Gerais. A pesquisa ainda revela que os jovens com mais necessidade de rápida inserção no mercado de trabalho pertencem às classes C e D.
Sobre tais dados, o porta-voz da Secretaria de Comunicação e Marketing do CIEE/MG, Ramon Sergio dos Santos Sena, comenta que as atividades socioeducativas e socioassistenciais do CIEE são importantes para os estudantes, já que “são muitos os jovens que não fazem ideia de como dar os primeiros passos na vida profissional.”
Para Ramon, o estágio é tão importante quanto o próprio curso. Na visão do representante do CIEE em Minas, a oferta da formação teórica e prática ao estudante contribui para que as tendências e discussões circulem do campo profissional para o campo acadêmico e vice-versa. Mas, tendo em vista o processo de transformação acelerado do mercado de trabalho, o sucateamento de algumas profissões e a alta concorrência nos processos seletivos, alcançar um estágio em área de interesse e promissora se torna um desafio.
Segundo a doutora em administração Raquel Furtado, é importante que o estudante invista no autoconhecimento, tenha clareza dos seus pontos fortes e fracos, saiba o que gosta de fazer, o que tem facilidade, o seu estilo e valores. A professora da PUC Minas nas áreas de liderança, comunicação, competências comportamentais e carreiras ainda ressalta que desmistificar a existência do “trabalho perfeito” e focar na procura de um trabalho com conexão pessoal, facilita experiências positivas.
Ter em mente que o conhecimento técnico é um ponto de destaque em processos seletivos e que as qualificações o diferenciam dos demais candidatos, também é essencial. O investimento em cursos extras que possam complementar a formação, podem garantir o contato rápido do aluno com o estágio na visão da Raquel Furtado. “O inglês e domínio do Excel são dois requisitos que continuam sendo importantes para qualquer aluno. Além disso, o conhecimento para a montagem de planilhas, gráficos e o acompanhamento de dados é importante”, relata Furtado.
Outro ponto forte e valorizado é o desenvolvimento comportamental. Nas palavras de Raquel, “as competências comportamentais ou soft skills (habilidades comportamentais relacionadas à maneira como o profissional lida com o outro e consigo mesmo em diferentes situações) são cada vez mais valorizadas pelas empresas. O aluno deve buscar desenvolver sua inteligência emocional, capacidade de trabalhar em equipe, pensamento crítico, capacidade de enxergar uma situação como um todo, fazer análises, conseguir se comunicar com clareza e ser proativo.’’
Como as diferentes realidades dos universitários influencia na busca por vagas
Em busca do primeiro estágio, Lucas Gomes Passos, aluno do quinto período de Jornalismo na PUC Minas, relata que a procura por vagas tem sido um processo complicado. Trabalhando oito horas por dia como técnico em química em uma indústria farmacêutica da região metropolitana de Belo Horizonte, o estudante de 27 anos afirma ter o desejo de estagiar na área em que está se graduando, mas devido às baixas remunerações salariais e falta de benefícios como vale-transporte ou alimentação, no momento é inviável sair do seu atual emprego para se manter apenas com a bolsa-estágio.
Além disso, para Passos, a exigência de prévia experiência na área de oferta das vagas, é um requisito descabido e injusto com aqueles que procuram por uma primeira oportunidade. “Eu acho um respeito com os estudantes, porque exigir de uma pessoa que está estudando, que quer ter experiência na área, pra ela já ter experiência, é inconcebível.”, opina Lucas. O estudante ainda acrescenta que este tipo de prática, vai de encontro com exploração dos estagiários em benefício das empresas contratantes. “Elas querem ter simplesmente um funcionário que vai trabalhar menos horas, mas que não tem um vínculo empregatício e que eles podem pagar um salário muito menor do que se pagaria por um profissional contratado.”, finaliza.
Já na visão da aluna do 8º período de Jornalismo na PUC Minas, Isabela Lana, que relata ter se sentido despreparada e frustrada quanto a quantidade de empresas que flertam com a exploração do estagiário, esperar o momento perfeito da graduação ou a vaga perfeita para começar a estagiar, é um grande erro. Para ela, que estagiou em quatro áreas distintas do jornalismo, o segredo está em saber lidar com esta triste realidade filtrando as propostas de estágio e pensando no ganho de experiência desde o início do curso, se possível.
Perguntada sobre como tomou conhecimento das vagas de estágio em que se inscreveu, Isabela afirma que os grupos de WhatsApp, onde muitas são divulgadas, foram grandes aliados durante a procura. Segundo a estudante, a sua atuação como monitora do Jornal Marco e do site Colab e os estágios como assessora de comunicação, social media e repórter a ajudaram no amadurecimento para driblar os pontos fracos da sua formação como jornalista. No entanto, ela afirma que também existe outra forma de realizar a procura por vagas estágios: por meio das agências.
Agências de estágio: auxílio para os estudantes
Com cinco mil contratos ativos atualmente, a Agiel é uma das agências mais procuradas por estudantes do ensino superior e ensino médio em território nacional. O gerente comercial Guilherme Amada Moraes explica que a análise rigorosa das propostas de estágio feitas pelas empresas que desejam anunciar é um dos motivos do êxito da agência. “Uma série de vagas que estão para serem abertas não são. Nós devolvemos para os clientes fazerem a adequação da oferta de vaga antes de divulgá-la. Afinal, existe a Lei do Estágio a ser seguida”, pontua.
Afirmando que “os estagiários oxigenam as empresas”, Moraes considera que o auxílio no processo de contratação é algo benéfico tanto para os estudantes quanto para as empresas que estão ofertando o estágio. A agência faz o intermédio entre a empresa contratante e o candidato à vaga, auxiliando na realização de provas, entrevistas, entrega de documentos e adequações no currículo, o que ele diz tornar os processos seletivos mais ágeis e certeiros.
Amante do empreendedorismo, a jornalista Milena Amorim, 24 anos, passou por quatro empresas durante a sua graduação e relata que, devido à liberdade de se desenvolver de forma flexível e com autonomia, a sua melhor experiência como estagiária foi em uma startup de tecnologia focada em inovação na qual pode aprimorar suas softs skills (habilidades comportamentais relacionadas a maneira como o profissional lida com o outro e consigo mesmo em diferentes situações). Trabalhando com a assessoria curricular de universitários desde 2021 em sua empresa, Assessoria Curricular & Empregabilidade, Amorim relata que o objetivo de colocar mais estudantes no mercado de trabalho, ajudar universitários a criar currículos, utilizar o Linkedin, entre outros, tem funcionado bastante.
Milena finaliza dizendo que, apesar de compreender que o processo seletivo de vagas pode gerar insegurança, é importante que, se possível, o aluno busque oportunidades assim que ingressar na faculdade. O aluno não deve ter medo de testar e errar, mas sim usar esse momento a seu favor para se desenvolver e buscar destaque na carreira.
Dicas para quem busca estágio
Melhores plataformas
O primeiro passo é buscar a plataforma de serviços de carreiras da faculdade onde você estuda. A PUC Minas oferece a PUC Carreiras, plataforma onde são postadas vagas gerais e vagas exclusivas para os alunos, além de conteúdos sobre desenvolvimento de carreira.
Networking
Crie um perfil no LinkedIn e se inscreva em sites de vagas confiáveis. É importante fazer um perfil bem-feito, ativar as notificações e conferir os sites pelo menos uma vez por semana para ver se surgiram novas vagas.
Invista em portfólio
Há maneiras de se destacar em meio aos candidatos despreparados. Mesmo sem experiência, você pode passar no processo seletivo demonstrando interesse pela atividade a ser exercida naquele estágio. Por exemplo, se a vaga é para produção gráfica, que tal criar um portfólio? Se envolve produção textual, que tal montar um exemplar com textos que já produziu ou publicou ou escrever um texto propondo suas habilidades ou vendendo o produto da empresa?
Atente-se à montagem do seu currículo
Para vagas acadêmicas, o ideal é ter um currículo Lattes. Para vagas do mercado em geral, um currículo mais conciso é melhor. Erros de português e a descrição incorreta de informações não podem acontecer. Atente-se à montagem do seu currículo, pois “muitos alunos perdem uma oportunidade por erros básicos de escrita”, segundo o gerente comercial da Agiel.
Se autoconhecer facilita a procura
A “vaga ideal” é aquela que se encaixa aos seus objetivos pessoais e profissionais. Leia a descrição das atividades a serem realizadas no estágio, compare essas atividades com suas pretensões. São habilidades que você quer praticar? Se sim, envie o seu currículo!
Preparação para a entrevista
Prepare-se para a etapa de entrevistas. “Pesquise bastante sobre a empresa (instituição) e sobre a área. Entenda se você tem um fit cultural com ela e principalmente analise se você possui habilidades nessas áreas e quesitos técnicos comportamentais que aquela vaga pede. É importante ir preparado e, quando chegar lá, ter certeza e segurança do que você está desenvolvendo, dos seus estudos”.
Reportagem produzida por Cristiane Cirilo e Giovanna Minarrini