Apresentador do BH Todo Dia, radialista conhecido pelo programa “Casa Aberta”, da Rádio Inconfidência, conta experiência com comunicação pública privada
“Porque o sol brilha e o sol brilha democraticamente. Brilha pra todos e todas, independente das suas ideias, independe do seu dinheiro, é Sunshine pra todo mundo” – Elias Sunshine, jornalista
É verão em Belo Horizonte. Dezenas de pessoas saem de suas casas para se refrescar sob as árvores do Parque Municipal. Algumas crianças correm e brincam sorridentes, outras se enfileiram para comprar pipoca em um carrinho em frente ao lago. Os pais observam os filhos enquanto passeiam pelo parque e conversam nos bancos de madeira. Ao longe, um casal posa para uma foto. De trás da máquina caixote, um homem sorri e, minutos depois, entrega a fotografia para o par. O fotógrafo lambe-lambe organiza o equipamento depois de um longo dia de trabalho e chama o filho, Elias, que se divertia jogando bola com os amigos, para ir para casa. O pequeno se despede e vai embora com o pai. Seguem a pé até o apartamento no centro da cidade, onde a mãe já os espera em casa assistindo o programa do Chacrinha, que se tornaria uma referência para a futura voz da rádio pública mineira.
Elias Santos, mais conhecido como Elias Sunshine, ganhou tal “alcunha” ao realizar um trabalho de faculdade no qual fez um programa de rádio juntamente com seus os colegas, que o incentivaram a apresentar. “Sunshine, né? Tropical, essa coisa meio Chacrinha, Sunshine! Então surgiu o Elias Sunshine, pra mim é lindo. Por quê? Porque o sol brilha e ele brilha democraticamente. Brilha pra todos e todas, independente das suas ideias, independe do seu dinheiro, é ‘Sunshine’ pra todo mundo”, enfatiza o radialista.
Apesar de ser reconhecido principalmente pelo seu trabalho na rádio, essa nem sempre foi a sua área de atuação. Após passar na faculdade, trabalhava na loja de materiais fotográficos de seu pai, onde ficou por seis anos e pretendia continuar trabalhando. Porém, um professor mandou-lhe um recado, em 1995, pedindo ao jovem para procurá-lo. “Elias, na Rádio Inconfidência tem uma pessoa que eu conheço, procura ela lá, você gosta muito de rádio”, foi como Sunshine descreveu, nostálgico, a ligação que mudou completamente o rumo de sua vida.
O rapaz foi “na cara e na coragem”, levando apenas seu currículo da faculdade e uma fita cassete com programas feitos no laboratório da UFMG. Ao chegar, foi recebido pelo presidente da rádio, Róbson Câmara. O executivo disse a ele que tinha um horário – de meia noite às quatro da manhã – do qual o antigo locutor havia falecido de câncer e precisavam de alguém para substituí-lo. Porém, não poderiam pagar o jovem Elias, pois estavam “quebrados”. “Bicho, tô no inferno, abraço o capeta”, pensou o radialista ao aceitar a proposta. Então, Sunshine e um colega passaram um ano fazendo um programa chamado Acordados à Noite, baseado nos programas que tinham feito no laboratório da UFMG: “Foi uma experiência maravilhosa”, ressalta.
Prêmio “Jornalista Amigo da Criança”
Em 1999, Elias apresentou o Feira Moderna, no qual lia um artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente em todo início de programa. “Eu sou uma pessoa dos direitos humanos, sou alguém que fala de um outro lugar e que não é lugar de fala dessas pessoas, mas isso, de certa forma, chega mais próximo de quem também não tem esse lugar de fala, para sensibilizar as pessoas.” Esse posicionamento fez com que o radialista recebesse o prêmio nacional de Jornalista Amigo da Criança, em Brasília, assumindo o compromisso de defender o direito da criança e do adolescente no seu trabalho como jornalista. A premiação é uma iniciativa da ONG Rede Andi, uma rede de agências de notícias focada nos direitos da infância.
Rádio pública e privada
O sucesso de Elias foi tão grande dentro da Rádio Inconfidência que o público pediu para que ele voltasse ao ar, surgindo assim, o Casa Aberta. O programa, que tratava de cultura, cidadania e educação, também contava com a participação dos ouvintes e representou um marco na trajetória do radialista.
A Rádio Inconfidência é uma rádio pública, e, segundo Elias, a principal diferença entre esta e a privada, é que a rádio privada tem como foco principal as coisas que trarão maior ibope ou lucro para a empresa. Já a rádio pública proporciona uma maior liberdade para criar e inovar, abrindo “espaço para o novo”. Porém, na opinião de Sunshine, para a rádio pública, os desafios – vividos por todas as rádios – são maiores. Uma vez que não há grande valorização por parte do público, fica ainda mais difícil adaptar-se para novas mídias, como as redes sociais. Porém, apesar de todas essas dificuldades, ele nunca pensou em desistir.
Passou por diversas empresas e ocupou diferentes funções, das quais a única semelhança era a cidade. “Belo Horizonte é fundamental na minha trajetória”, assume Sunshine. Na TV Alterosa, participou dos programas Feminina, TV Verdade, Teleton e Alterosa Esporte. Já na Rádio Inconfidência, foi radialista de vários programas, diretor artístico e até presidente da Empresa Mineira de Comunicação. Na UFMG, além de fazer bacharelado, mestrado e, atualmente, doutorado, foi o responsável pela criação da Rádio UFMG Educativa, que define como o projeto da sua vida.
Convidado em fevereiro de 2004 por uma ex-professora, ficou, inicialmente, receoso. “Eu falei com ela ‘Eu não sei fazer isso, professora. Nós não aprendemos isso no curso, a senhora sabe muito bem. Eu trabalho em rádio e televisão, mas elas já estão lá prontas’.” Ao ouvir isso, a professora afirmou que precisava de alguém da sua confiança e que conhecesse a UFMG. A confiança se mostrou certa, em setembro de 2005, após ficar um ano e meio cuidando de questões burocráticas, administrativas e técnicas da rádio, Elias conseguiu colocá-la no ar. “Tudo que eu aprendi com essa professora era: ‘Elias, você não tá pedindo nada para você, você tá pedindo para a UFMG’.”
Educação como marca de sua história
A educação marca a história de Sunshine. Foi o que o estimulou a querer transmitir o que sabe para novos jornalistas. Elias voltou para onde tudo começou, a faculdade. Dessa vez não como aluno, mas sim como professor. Agora, como docente da UNA, ele vive “equilibrando a loucura de sua vida”, como ele mesmo gosta de afirmar. Durante aproximadamente dez anos trabalhou na rádio pela manhã, na TV à tarde e à noite dando aulas. Apesar de estar em outra “vibe”, ele continua na correria: ministrando aulas, coordenando projetos da universidade e fazendo doutorado na UFMG. Participa também de um grupo de pesquisa sobre comunicação, vulnerabilidades e territórios. Além disso, apresenta o programa BH Todo Dia, no Canal Viver Brasil.
O BH Todo Dia surgiu há um ano, em 2021, quando Leandro Neves, que trabalhou com Elias na TV Alterosa e dirigia o novo programa, convidou-o para apresentar. É um programa diário com uma hora e meia de duração que leva convidados para falar sobre cultura, negócios e comportamento. Para Elias, o trabalho representa um grande desafio. “É um programa pesado, em uma TV que está começando, com um público que ainda não havia explorado”. Apesar da responsabilidade, ele faz com muito orgulho: “eu acho que o momento do país é para construir pontes, e a construção da ponte foi essa; essa foi a construção.”
Para novos comunicadores
Ao falar sobre os jornalistas que estão começando a atuar na área da comunicação, Sunshine ressalta que é essencial ter sempre em mente aquilo que gostamos e queremos para nossa vida.
“Velho, você vai ralar mesmo, então rale naquilo que você gosta. Lute sempre para que a nossa profissão seja digna, então valorize. Uma dica que eu dou, é, assim, não pare de estudar não. Nem que seja um cursinho de inglês, mas, tem que fazer, esteja sempre estudando, isso é importante.”
Conteúdo produzido por Ana Cecília Araújo, Beatriz Pereira de Castro, Júlia Maria Sousa Ribeiro, Lorena Araújo Marcelino, Marcel Navarro, Mariana Maia, Sara de Jesus Freitas na disciplina Apuração, Redação e Entrevista, sob a supervisão da professora e jornalista Fernanda Sanglard. A edição foi realizada por ngela Rocha, Lorrane Reis e Samuel Marques na disciplina Edição em Jornalismo, sob a supervisão da professora e jornalista Maiara Orlandini.
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