No próximo domingo, 6 de outubro, além do pleito para eleição de vereadores e prefeito, os cidadãos de Belo Horizonte também vão participar de uma terceira votação: a que vai aprovar, ou não, a nova bandeira da cidade.
O designer Ronei Sampaio, que participa da agência responsável pela proposta, conta que o referendo foi alocado no mesmo dia das eleições por uma decisão da Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte. “Propuseram um referendo para que houvesse participação popular na decisão. Imagino que a eleição tenha sido o momento escolhido uma vez que os eleitores já estarão mobilizados para estarem diante das urnas e por uma questão de otimização de recursos”, explica.
A proposta
Ronei Sampaio explica que a bandeira oferece uma releitura criativa e minimalista dos elementos já contidos do brasão da cidade (abaixo, à direita).
De certa forma, ela [a nova bandeira] é uma celebração das ideias nele contidas. Ao contrário do brasão, ela cria um símbolo a ser incorporado de maneira mais amigável no cotidiano dos moradores da cidade”.
Ele afirma que a nova proposta de bandeira (abaixo), do ponto de vista do design, tem um símbolo simples, o que é um ponto a favor. “Isso permite que as formas sejam facilmente assimiladas e reconhecidas, contribuindo para a difusão e até eventuais apropriações criativas. A página da bandeira no Instagram já apresenta uma série de possibilidades criativas partindo do mesmo desenho”, explica.
Sampaio ainda defende que o uso da nova bandeira facilita a identificação com a cidade. “Sua forma simples e atemporal permite a aplicação nos mais diversos suportes e produtos, tornando-se uma estratégia interessante de place branding – que é esse esforço concentrado em criar uma relação significativa e afetiva entre a marca da cidade, seus moradores e visitantes”.
A mudança
O projeto independente “Uma bandeira para Belo Horizonte”, liderado pelo designer Gabriel Figueiredo, sugere a implementação gradual de uma nova bandeira para a cidade. A proposta prevê que a substituição ocorra à medida que as bandeiras atuais se deteriorarem. Segundo os idealizadores, essa mudança pode gerar uma economia significativa para o município, pois o novo design é mais simples e menos custoso de ser produzido.
Os idealizadores defendem que o verdadeiro potencial econômico da nova bandeira vai além de seu uso oficial, que é o único contemplado pela bandeira atual. Para eles, um design bem elaborado pode se transformar em diversos produtos, brindes e souvenirs, impulsionando a geração de renda e movimentando a economia local. A campanha de financiamento coletivo lançada para viabilizar o projeto é um exemplo desse potencial.
Vale destacar que a prefeitura, em seus documentos, uniformes e veículos oficiais, utiliza predominantemente o brasão da cidade, que continuará a ser o símbolo oficial do governo, sem alterações em seu design. Informações divulgadas no perfil do Instagram do movimento apontam que a troca do brasão pela nova bandeira nos uniformes e documentos oficiais custaria R$11.625,00. Essa mudança poderia representar uma inovação significativa na identidade visual da cidade, mantendo o brasão como símbolo oficial.
No entanto, não há unanimidade em relação aos aspectos culturais, econômicos e políticos do processo de desenvolvimento da bandeira. Nas mídias sociais, é possível encontrar campanhas contrárias, com denúncias de que a versão de Belo Horizonte é uma cópia da bandeira de Nova Aurora, no Paraná.
Controvérsias
Pablo Moreno, professor do curso de Publicidade e Propaganda e do PPGCOM da PUC Minas opina sobre o design da proposta, que não inclui a referência ao triângulo vermelho da bandeira de Minas Gerais. “Eu acho que na construção de sentido de uma cidade que foi feita para ser a capital do estado, mesmo sendo moderna, republicana e com todos os valores que Belo Horizonte tem, a perda desse elemento tradicional que simboliza o triângulo da nossa mineiridade e da nossa bandeira, que é tão singular dentro do nosso estado, me parece uma perda muito significativa”.
Para ele, que pensa Belo Horizonte com toda sua efervescência, cultural, criativa, política e republicana, poderia ter havido propostas mais plurais e diversas para a eleição da bandeira da cidade. “As propostas poderiam vir de algum concurso realizado nas escolas, algum concurso cultural realizado com designers, ou até mesmo da contratação de profissionais que iriam apresentar essas propostas, e que, ao invés de um referendo, a gente ‘botaria’ em uma consulta pública, em um plebiscito mesmo, em mais de uma proposta na qual a maioria da opinião, a maior parte dos votos, ‘decidiria’ qual seria a nossa escolha”, defende o professor.
Pablo Moreno relembra a escolha do animal símbolo da cidade, a capivara, na década de 1990, que contou com um série de consultas e votações populares: “Nossa cidade tem essa história de participação popular na construção dos seus símbolos, e seria importante que nessa questão da bandeira, a população tivesse mais participação e pudesse ser mais ouvida”.
Reportagem produzida por João Vitor Rangel, Rayssa Moura e Marina Saddi.
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