Colab
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de pé, usando terno cor azul marinho e gravata vermelha, em frente a um telão escrito “Trump Will Fix It” (“Trump irá consertar tudo”, traduzido do inglês).
O recém eleito 47° presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump pretende restringir a política migratória e dificultar a entrada de novos imigrantes no país. Reprodução: Instagram

Efeito Trump: os impactos da vitória na vida dos imigrantes

Após Donald Trump vencer as eleições estadunidenses, surge onda de falas anti-imigrantes

“Vamos colocar esses criminosos sanguinários na prisão ou expulsá-los do nosso país”, ressaltou Donald Trump durante discurso da campanha presidencial de 2024 nos Estados Unidos. O presidente eleito no último dia 5 de novembro teve como carro chefe de campanha o posicionamento anti-imigração, deixando clara a aversão a parcelas dos estrangeiros que vivem no país, acusando-as de serem criminosas. 

Trump promete executar a maior deportação da história dos Estados Unidos no próximo mandato, que se inicia em 20 de janeiro de 2025. Ainda afirma que busca salvar aquelas cidades que foram invadidas por imigrantes, o que destaca seu discurso xenofóbico. 

Migrante, imigrante, emigrante, refugiado, estrangeiro: qual termo usar?

O vocabulário relacionado ao deslocamento humano – como migrante, imigrante, emigrante, refugiado e estrangeiro – reflete as várias facetas desse fenômeno complexo. Embora pareçam semelhantes, todos esses termos têm diferenças, e são utilizados em contextos específicos.

Imigrante e emigrante

O imigrante é aquele que entra em um país para viver, enquanto o emigrante se refere à pessoa que sai de seu país de origem. No Brasil, o termo “imigrante” remonta à chegada de estrangeiros em massa no final do século XIX, como exemplificado pela Hospedaria de Imigrantes, inaugurada em 1887. Por outro lado, a emigração brasileira ganhou força nas décadas de 1980 e 1990, com muitos cidadãos buscando oportunidades em países como Estados Unidos e Japão.

Migrante

O termo migrante é mais abrangente e engloba deslocamentos tanto internacionais quanto internos. Recentemente, ganhou um enfoque humanitário, enfatizando os direitos das pessoas que se movem, independentemente de cruzarem fronteiras nacionais. 

Refugiado

Refugiados são pessoas que deixam seus países devido a perseguições ou ameaças. No Brasil, o status de refugiado permite acesso a direitos garantidos pela Lei de Migração, sendo a proteção internacional central nesse conceito. 

Estrangeiro

O termo estrangeiro, anteriormente associado a uma visão excludente, hoje é usado de forma mais neutra. É um termo jurídico e político usado para designar indivíduos que, por sua origem, não pertencem ao território nacional onde se encontram, independentemente de sua condição migratória (legal ou irregular) ou do motivo de sua permanência.

Estados Unidos: um país de imigrantes

Antes de mais nada é necessário lembrar que os Estados Unidos é um país que nasceu de imigrantes ingleses. O território estadunidense começou a ser ocupado em meados do século XVII, quando um grupo de cristão puritanos desembarcou do navio Mayflower na costa leste do país. Fugindo de perseguições religiosas e até mesmo em busca de trabalho, os primeiros imigrantes se tornaram os “pais fundadores” da nação norte-americana e são celebrados até os dias atuais no feriado de Ação de Graças. 

No século XIX, os Estados Unidos protagonizaram um movimento migratório em massa.
A marcha para o Oeste e a conquista de novos territórios contribuíram para o deslocamento interno do país. Já a situação vivida na Europa à época, marcada por pobreza, guerras e conflitos, fez com que diversos europeus buscassem melhores condições de vida nos EUA. 

Uma das maiores ondas de imigração que aconteceu no país norte-americano foi marcada pela chegada de italianos, alemães, espanhóis, poloneses, entre outros, entre os anos de 1890 e 1930. Na virada do século XIX para o XX, habitantes de países asiáticos e de países nórdicos da Europa chegaram aos Estados Unidos. Devido à Segunda Guerra Mundial, houve uma importante onda migratória, muitos fugitivos da guerra eram qualificados e contribuíram para o mercado de trabalho e economia americana.  

Tais fluxos migratórios contribuíram para que os EUA fossem chamados de um país de imigrantes. Em 2022, os Estados Unidos chegaram a cerca de 47 milhões de imigrantes, segundo uma pesquisa do grupo Center for Immigration Studies (CIS), validando 14,3% da população do país como estrangeira. 

 O gráfico apresenta a variação percentual da população dos Estados Unidos nascida no exterior entre os anos de 1900 e 2023. A proporção era elevada no início do século XX, atingindo cerca de 15% em 1910, mas declinou de forma constante até meados do século, chegando ao menor ponto nos anos 1970. A partir de 1965, quando ocorreu uma reforma nas leis de imigração, que ampliou o acesso de imigrantes de regiões fora da Europa, observa-se um aumento consistente na proporção de imigrantes.
Fonte: Reprodução:BBC

Para os brasileiros, o desejo de morar na América do Norte começou nos anos 80, uma época de ascensão econômica nos Estados Unidos e de inflação no Brasil. A quantidade de brasileiros no país chega a mais de 2 milhões, de acordo com dados divulgados pelo Ministério de Relações Exteriores (MRE) em levantamento de Comunidades Brasileiras no Exterior, um documento com estatísticas enviadas de postos Itamaraty no exterior no ano de 2023. 

Por mais que o país norte-americano concentre a maior comunidade brasileira espalhada pelo mundo, a porcentagem maior de imigrantes nos EUA vem dos chineses, indianos e mexicanos. 

Buscando sempre se mudar para “a terra das oportunidades”, imigrantes de todo o mundo buscam melhorias na qualidade de vida, segurança e estabilidade financeira. Mas, muitos deles não conseguem ou não procuram entrar da maneira correta, resultando em atos extremos e preocupantes como o de Donald Trump. 

Capa da revista digital Vanity Fair, que tem como foco central o rosto de Donald Trump. Ele é um homem branco, idoso, tem cabelos loiros e usa um terno azul marinho com gravata de mesma cor, porém de tonalidade mais clara. O olhar é fixo para frente com semblante de seriedade. À esquerda da imagem a revista traz a cobertura dessas polêmicas, como nos blocos “casos pendentes”, “Impeachments” e “falências”.
Donald Trump foi capa da revista Vanity Fair após ganhar as eleições americanas
mesmo perante controvérsias de seu último mandato / Reprodução: Instagram

O esquema político de Donald Trump

Em fevereiro deste ano, houveram discussões no Congresso dos Estados Unidos sobre uma possível proposta bipartidária em relação à fronteira dos EUA com o México. Na ocasião, Donald Trump, solicitou aos republicanos que votassem contra o texto que evitaria a vitória política do até então presidente Joe Biden. Durante seus discursos, Trump prometeu reintroduzir políticas migratórias que foram implementadas no seu primeiro mandato, incluindo a maior deportação em massa do país. 

Trump justifica a postura anti-imigrante com a alegação de que a entrada de imigrantes ilegais nos EUA tem levado a uma onda de crimes, embora não haja dados que sustentem suas falas. Provando o contrário, um grupo de economistas analisou 150 anos de dados do Censo dos EUA e chegou a conclusão que imigrantes tinham estavelmente menos chances de serem encarcerados do que pessoas nativas dos Estados Unidos. 

Durante o primeiro mandato, Donald Trump focou na ideia principal na construção de um muro na fronteira entre Estados Unidos e México, chegando a afirmar que o país vizinho pagaria pela obra. As regras consideradas mais rígidas, impostas por Trump, para a entrada de trabalhadores estrangeiros resultaram em numerosas recusas na emissão ou renovação de visto, afetando especialmente o visto H-1B destinado a empregos mais qualificados. De acordo com a NBC News, tais medidas prejudicaram empresas no setor rural, que perderam mão de obra estrangeira. 

Outras propostas feitas por Trump:

  • Assinatura de ordem executiva via decreto, proibindo a entrada de cidadãos de sete países, incluindo Síria, Iraque, Irã, Líbia, Sudão e Iêmen, de maioria muçulmana em território estadunidense. “Proibição de Viagem”.
  • Implementação da política “Intolerância Zero”, na fronteira com o México.
  • Rescisão do programa  DACA (Ação Diferida para Chegadas na Infância).
  • Tentativa de encerração do programa de Visto H-1B.

A economia majoritariamente imigrante dos EUA

Um fato é claro, os Estados Unidos dependem da mão de obra imigrante para manter a economia. A chegada dos imigrantes na América do Norte em busca de oportunidades impulsionou a infraestrutura e a inovação do país, trazendo impactos positivos para a economia.  

Segundo o relatório Efeitos do Aumento da Imigração no Orçamento Federal e na Economia, divulgado pelo Gabinete de Orçamento do Congresso (CBO, sigla em inglês para Congressional Budget Office), o aumento da imigração no país pode trazer mudanças no Produto Interno Bruto (PIB), na inflação, nos juros e no orçamento dos EUA. Estima-se que poderá acontecer um aumento das receitas federais, com impostos sobre a renda e contribuições para  a seguridade social paga pelos imigrantes, além do aumento da atividade econômica e das receitas tributárias. Como resultado, tem se um ganho nominal de US$8,9 trilhões para o PIB americano durante o período de 2024 a 2034.

O CBO, elaborou dois cenários diferentes: no primeiro, a imigração se mantém no mesmo ritmo dos anos antepassados, com a chegada média de 200 mil pessoas por ano. No segundo, pressupõe-se um aumento significativo no número de imigrantes por ano, com cerca de 1,7 milhões de estrangeiros chegando anualmente.

O gráfico acima mostra a variação percentual da população nascida no exterior dos EUA, em comparação ao total da população americana no período de 1850 a 2017. Observa-se um pico entre os anos de 1870 a 1910, seguido por uma queda abrupta, chegando a seu menor nível em 1970. Desde então o gráfico segue uma crescente constante até chegar nos valores atuais.
 O gráfico exibe a evolução da porcentagem de imigrantes na população dos EUA entre 1850 e 2017. Torna-se evidente períodos de crescimento no século XIX, queda acentuada no século XX e recuperação significativa nas últimas décadas. Fonte: BBC

Para analisar os impactos econômicos referente ao aumento na imigração, o estudo leva em consideração os efeitos dos dois fluxos de entrada de estrangeiros no período de 2024 a 2034,  destacando as influências que nas receitas federais, nos gastos obrigatórios e nos juros da dívida. Uma das conclusões do estudo mostra que o aumento da imigração impacta de forma considerável nos itens mencionados acima, resultando em uma redução dos déficits em US$ 900 bilhões de dólares. As receitas federais poderiam crescer em US$ 1,2 trilhão no período de 10 anos, principalmente devido aos impostos sobre a renda e contribuições para a seguridade social pagos pelos imigrantes. 

Ainda de acordo com os estudos feitos pelo CBO, existe uma influência no salário dos nativos com a chegada de imigrantes, contudo, somente nos primeiros anos. Com o decorrer do tempo, os norte-americanos também iriam se beneficiar do aumento geral da produtividade da economia. Isso porque eles continuariam como preferência para cargos mais qualificados, à medida que trabalhadores com menos anos de estudo entram no mercado. Como resultado, a taxa de desemprego geral não seria afetada, pois os dois fatores se compensam. 

Por outro lado, o aumento do crescimento da força de trabalho gerada pela chegada de novos imigrantes, e da demanda por investimento residencial resultaria em uma elevação da taxa de retorno sobre o capital, o que impõe força sobre as taxas de juros. Esse aumento nas taxas é apontado como um fator importante para o crescimento dos gastos federais.

Ainda de acordo com a CBO, a população de imigrantes apresenta taxas de conformidade fiscais menores em relação a população total, o que gera uma arrecadação menor de impostos sobre a renda e a folha de pagamento. No entanto, mesmo os imigrantes sem autorização para trabalhar, mas que acham emprego, acabam contribuindo com montantes em impostos sobre o próprio ganho.

A mão de obra imigrante é um fator de dependência dos Estados Unidos. Com a escassez de mão de obra qualificada para as áreas de saúde, tecnologia e construção civil enfrentada no país, os imigrantes assumem essas funções, desempenhando papéis fundamentais em diversos setores da economia. A agricultura, por exemplo, necessita desse tipo de mão de obra para manter o abastecimento interno e as exportações. Já na área da saúde, os imigrantes ocupam lugares de enfermeiros, assistentes domiciliares e médicos, destacando a qualidade do serviço ofertado. Na tecnologia a contribuição dos imigrantes serve para acelerar o ritmo de inovação e a competitividade em escala global. 

Com os impactos econômicos possíveis, um dos países mais afetados seria o México. Esse, que é considerado um país estratégico, sofrerá o impacto direto, devido a fronteira com os Estados Unidos, onde milhares de latino-americanos atravessam de forma legal e ilegal. Quase metade da população irregular presente nos Estados Unidos é mexicana, de acordo com dados do Departamento de Estado, e ocupa lugares evitados por muitos americanos, como o de construção civil, hotelaria e agricultura, o que auxilia a manter a economia estadunidense. Segundo o jornal Globo, a deportação em massa e a promessa de tarifas em cima de produtos vindos do México, em que 80% da produção vai para os EUA, contribuirá para a agravação de criminalidade e pobreza no país latino-americano e para a falta de mão de obra no norte americano. 

Direitos humanos e políticas anti-imigração

A relação entre os direitos humanos propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU) e a política anti-imigração promovida por Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, escancara um confronto entre princípios universais e abordagens políticas nacionalistas. 

Enquanto a ONU defende a dignidade e a igualdade como pilares da convivência global, as ações de Trump evidenciam um foco na soberania nacional, muitas vezes em detrimento dos direitos de populações vulneráveis.  

Os direitos humanos, estabelecidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948, asseguram que todos os indivíduos possuem direitos inalienáveis, independentemente de nacionalidade, raça ou condição migratória. No entanto, políticas como a separação de famílias na fronteira, a restrição de entrada de cidadãos de determinados países, conhecida como “banimento muçulmano”, e a construção de um muro na fronteira com o México demonstram a priorização de barreiras nacionais e a exclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade.  

O Artigo 14 da DUDH afirma que “todos têm o direito de buscar asilo em outros países para fugir da perseguição”. Apesar disso, o governo Trump implementou medidas que enfraqueceram esse direito, como a política de “Remain in Mexico”, que obrigava solicitantes de asilo a permanecerem no México enquanto aguardavam o processamento de seus pedidos. Essa prática os expunha a condições precárias e perigosas, em contradição com os padrões internacionais de proteção humanitária.  

Outro princípio essencial da ONU é o da não discriminação, garantido pelo Artigo 2º da DUDH. Entretanto, o discurso de Trump frequentemente associava imigrantes a ameaças à segurança e ao mercado de trabalho norte-americano, reforçando estigmas e promovendo uma visão xenofóbica. Essa retórica não apenas contradiz os valores de igualdade e dignidade humana, mas também alimenta uma cultura de exclusão.  

A ONU, por sua vez, defende a cooperação internacional para enfrentar desafios como migração e crises de refugiados. Contudo, Trump se afastou de pactos globais importantes, como o Pacto Global para Migração Segura, Ordenada e Regular, enfraquecendo iniciativas coletivas para gestão migratória. Esse afastamento demonstra um descompasso entre as políticas norte-americanas e os esforços globais de solidariedade.  

As consequências das políticas anti-imigrantes de Trump foram amplamente documentadas. Detenções em massa, deportações arbitrárias e condições degradantes nos centros de detenção violaram direitos fundamentais, como o direito à dignidade (Artigo 1º da DUDH) e à proteção contra tratamento cruel ou degradante (Artigo 5º). Esses episódios reforçam o contraste entre a proteção universal promovida pela ONU e as práticas nacionalistas e restritivas do governo Trump.

ACNUR

A parcela ilegal dos imigrantes 

Os democratas dizem: ‘por favor, não os chame de animais, eles são humanos’. Eu digo: ‘Não, eles não são humanos, eles não são humanos, eles são animais’

Ele ainda destaca que aqueles que cruzaram a fronteira com o México ilegalmente escaparam de manicômios e prisões em seus países e estão causando crimes violentos nos EUA. Com falas como essa o presidente eleito descumpre mais uma vez os  direitos humanos propagados pela ONU, sendo essa a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, em que o artigo 5 diz: “Os Estados Partes proibirão qualquer discriminação baseada na deficiência e garantirão às pessoas com deficiência igual e efetiva proteção legal contra a discriminação por qualquer motivo.”. 

Com um discurso extremista, Trump afirma que com o mandato atual acontecerá a liberação, pintando o quadro apocalíptico do país “ocupado” pela  gangue venezuelana Tren de Aragua (TdA). Tal facção criminosa nasceu nas prisões da Venezuela e foi se espalhando até alcançar os EUA, onde hoje atua em 16 estados. Envolvida em assassinato, roubos, assaltos, tráfico de drogas e sexual, contrabando humano, atirar contra policiais, invadir propriedades privadas e abrigos de imigrantes armados. Amedrontando os estadunidenses, os integrantes da gangue infiltram no território americano cada vez mais, e em todos os cantos do país patrulheiros vão a procura de membros da gangue identificados por tatuagens de. Trump acusa Kamala Harris, vice-presidente de Joe Biden, ex-presidente norte americano, de ter importado “um exército de membros de gangues estrangeiros ilegais e imigrantes criminosos das masmorras do Terceiro Mundo” destacando os membros da TdA, visto que milhares de imigrantes atravessaram a fronteira com o México durante o mandato. 

Com exagero, Donald Trump espalhou informações falsas relacionadas à gangue, acusando-os de terem assumido o controle da cidade de Aurora, Colorado. Essa informação foi desmentida pelo prefeito da cidade, Mike Coffman, afirmando que os membros da gangue operaram em casos isolados e delatando que Trump utilizava de “um puro teatro político”. Houve outro exagero de Trump ao dizer que imigrantes haitianos em Ohio comiam animais de estimação. 

 Durante debate, Trump acusa imigrantes de estarem se alimentando dos animais de estimação da população e diz que isso é uma vergonha para as cidades norte americanas.

Sempre comentando acerca de casos individuais de crimes realizados por imigrantes nos Estados Unidos, Donald Trump generaliza todos os imigrantes ilegais no país como “animais” responsáveis por “envenenar o país” ao invés de utilizar dados concretos que fomentem os crimes ou a maior probabilidade de imigrantes  se envolverem em tais.  Sendo considerado por muitos desumano, incluindo o presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, Trump encaixa na acusação, visto seu comportamento diante dos imigrantes.

O cidadão americano Jeffrey T. Storms, 58 anos, especialista em Segurança Corporativa e Investigador da BMW e ex-policial norte-americano, acredita que desumano é ser sem compaixão ou crueldade, algo que a política de Trump e os Estados Unidos não é. Ele ainda afirma sua esperança para aqueles que atravessaram a fronteira em busca de melhores condições, mas deixa claro sua insatisfação e o que acredita ser desumano.

“Eu acho que é desumano entrar no país ilegalmente e distribuir fentanil para outros seres humanos resultando na morte deles. Eu acho que é desumano entrar no país ilegalmente e cometer estupro, roubo, assalto, e assassinato. Eu acho que é desumano entrar no país ilegalmente e traficar seres humanos. Eu acho que é desumano entrar ilegalmente no país e cometer atos de terrorismo”, opina Storms.

Logo, os estadunidenses são, em grande maioria, contra a criminalidade e a ilegalidade, o que levou a vitória de Trump. Storms ainda comenta que os cidadãos americanos possuem “um apetite muito pequeno por criminalidade”, destacando a cometida pela parcela ilegal da população, acreditando que, caso não tivessem entrado, não haveria criminalidade.

Eu não sou um ‘Trumper’, mas sou um estadunidense, e eu acredito que temos que ser solidários com aqueles que precisam de nossa assistência, independente do seu status de imigração. Eu também acredito que temos o direito de proteger nossos cidadãos e aplicar a lei, especialmente contra os elementos criminosos, incluindo cidadãos dos EUA e imigrantes ilegais.

Apesar do posicionamento de Donald Trump contra os imigrantes , pesquisas desenvolvidas pela Universidade de Stanford afirmam que a taxa de criminalidade para imigrantes ilegais nos Estados Unidos é menor que a dos cidadãos nativos. O estudo liderado pelo economista Ran Abramitzky da Universidade de Stanford, ao analisar os dados desde 1960 descobriu que imigrantes têm 60% menos chances de serem encarcerados por eventuais crimes, ao contrário dos nativos. Outro estudo realizado em 2019 pelo Instituto Cato e focado no Texas chegou à conclusão que imigrantes irregulares tinham 37,1% menos probabilidade de serem condenados por crimes. É desmentida também a correlação entre os imigrantes sem documentados e o aumento da criminalidade. 

Desse modo, comunidades imigrantes sofrem da angústia e do medo de serem repreendidas, da deportação e de enfrentar repercussões legais. Muitos também compartilham o sentimento de “por causa de um, todos sofrem”, apontando mais uma vez o discurso generalista de Donald Trump e de diversos norte-americanos. 

A parcela legal dos imigrantes

Em contraponto às falas carregadas de xenofobia e preconceitos contra os imigrantes ilegais, Donald Trump preza por aqueles que estão legalmente no país, reconhecendo suas contribuições financeiras e intelectuais. 

Atualmente, cerca de 70% dos vistos de trabalho concedidos pelos Estados Unidos são destinados a indianos que são engenheiros de software no Vale do Silício. Esses indianos compõem hoje um pequeno grupo considerado o mais rico e bem educado do país. 

Além disso, brasileiros têm preferido entrar no país de forma legal, principalmente através de programas de intercâmbio. Segundo dados da Belta (Associação Brasileira de Agencias de Intercambio), os Estados Unidos é um dos três países mais procurados pela população do Brasil. Em recente entrevista, Donald Trump disse que os estudantes que se formam nos EUA através de programas de intercâmbio deveriam receber Green Card automaticamente, como se fosse parte do diploma, para poderem permanecer no país e se tornarem trabalhadores. 

Além disso, algumas áreas de trabalho têm dependido majoritariamente da mão de obra estrangeira. Cerca de 40% dos enfermeiros que trabalham no país são pessoas vindas de outros países. Outro setor que não funciona mais sem que os imigrantes é a agricultura. Sem o trabalho latifundiário, haveria um déficit nas exportações e no PIB do país, como já citado anteriormente.  

Esta reportagem foi produzida por Ana Júlia Paiva, Davi Reis, Maria Luíza Mendes, Pedro Henrique Galvão e Yago Marques sob supervisão da professora e jornalista Fernanda Sanglard na disciplina Apuração, Redação e Entrevista. O monitor Wallison Leandro contribuiu com a edição digital.

Leia também:

Caos planejado: as cortinas de fumaça produzidas pelo governo

Os dois lados da imigração: uma denúncia do descaso contra imigrantes e refugiados

Sinofobia: entenda o preconceito contra a China

Wallison Leandro

Adicionar comentário