O sonho da medicina nunca esteve próximo de se concretizar para a jornalista Edilene Lopes, que é colunista, analista e correspondente em Brasília da Rádio Itatiaia, onde trabalha há 18 anos. Como muitos adolescentes por aí, ela também almejava a área da saúde, anseio que foi deixado de lado ao tomar consciência da realidade social. Vinda de uma família humilde, precisou colocar na balança as dificuldades para ingresso e manutenção em um curso de medicina. Foi então que resolveu estudar Jornalismo.
Nascida em 25 de dezembro de 1981 e criada em Taquaril, na Região Leste de Belo Horizonte, Edilene estudou na faculdade UniBh. Ela relata que a universidade foi fundamental para a sua formação, pois foi o que permitiu estagiar como monitora na equipe Lagoinha, uma rádio laboratório. Ela ressalta a importância dessas experiências nas faculdades de comunicação, destacando que foi onde aprendeu quase tudo que sabe hoje.
Ao se formar, Edilene foi morar em Ponte Nova, na Zona da Mata mineira, por um ano. O pai de um amigo tinha rádios na cidade e acreditava que ela era a pessoa certa para coordená-las.
A Itatiaia surgiu depois, em 2006, quando entrou como produtora. Por lá, desempenhou diversos papéis, como apresentadora e repórter. Com o foco em fazer entrevistas exclusivas e conseguir furos, ela diz ser viciada naquilo que faz e em descobrir coisas novas.
A paixão pelo trabalho se uniu ao gosto pela cobertura política e, assim, Edilene construiu desde 2015 trajetória na editoria. Ela conta eufórica que não escolheria outra área, já que adora política.
Acho que política é a coisa da vida, o diálogo, a conquista do espaço. É lá que a gente tem que tá. Quem não faz política é comandado por quem faz, e isso é em qualquer micro espaço, na sua casa […], e isso é política. Então, acho fundamental que todos entendamos o que é política.
Edilene Lopes, jornalista
Morando em Brasília, ela afirma que, para um repórter de política, ali é o lugar certo. Como principal diferença entre a cobertura mineira e a da capital federal, está a maior responsabilidade perante suas ações, que agora causam impacto em âmbito nacional.
Saudade da família
Junto à mudança de cidade, em julho de 2021, e à realização profissional, veio também a saudade. Edilene relata que a distância é dolorosa, já que a família é muito apegada. Mas ao menos uma vez por mês ela vem a Belo Horizonte, seja a trabalho, seja para celebrar aniversários e datas comemorativas em família. Para ela, quando você encontra a vocação e se realiza, também está fazendo o que a sua família gostaria que você fizesse.
A irmã de Edilene, Ediglênia Lopes de 33 anos, confirma a ligação familiar. “Aqui em casa a gente apoia qualquer movimento que seja para o melhor daquela pessoa. Assim como a família inteira me apoiou ainda nova a mudar de cidade, quando a gente soube que ela mudaria para Brasília, a gente apoiou também, entendendo que era uma oportunidade, era uma mudança […].”
Considerada uma pessoa extremamente “família”, Edilene diz amar estar rodeada pelos familiares, sendo grata por tê-los na sua vida. Di, como é carinhosamente apelidada pela família, também é religiosa. “Ela tem uma fé muito bonita”, diz Ediglênia.
Amante dos esportes e da culinária
Edilene Lopes também é entusiasta de exercícios físicos. Ela pratica remo e stand-up, atividades que começou em Brasília, por conta do Lago Paranoá, musculação e corrida. Esta última modalidade, segundo a irmã, costuma fazer escutando rap, apesar de também curtir pagode e samba.
Como boa mineira, Di adora um bar e comida gostosa, mas não deixa de preparar suas marmitinhas fit. Receber amigos e família em casa é uma de suas paixões. Além disso, Edilene adora cozinhar, tendo transformado o gesto em terapia. Gosta também de viajar, o que facilita a exigência de estar sempre em trânsito pela profissão.
Capricorniana, Edilene afirma não torcer para nenhum time de futebol, uma surpresa para muitos. Ela também é esforçada, disciplinada, comprometida, determinada, carismática e divertida, características que são admiradas pela irmã . “É difícil ver alguém tão comprometido e disciplinado. Eu fico sempre pensando: Como é que ela faz isso? Como é que ela dá conta? […] Se ela vai fazer, ela vai fazer.”. Mesmo com a rotina extremamente puxada, a repórter consegue dar conta de tudo, inclusive concluiu um mestrado em ciência política recentemente.
Realizações profissionais
Edilene é uma jornalista reconhecida na área, tendo sido premiada algumas vezes. Quando questionada sobre o Troféu Mulher Imprensa, na categoria melhor repórter de rádio do Brasil, concedido pela Revista e Portal Imprensa, disse que foi uma surpresa ter ganho o prêmio de 2016. Ela destaca que ter sido escolhida por voto popular, mesmo sem ninguém de Minas Gerais no júri, é um indicativo de que “está no caminho certo” e que o título trouxe mais força para continuar.
Contando do orgulho e respeito por certas coberturas, Edilene destaca as do rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho. Tais trabalhos merecem o devido valor, visto que foi um momento de dor e desespero, não só para as vítimas, mas também para quem esteve na linha de distribuição das informações e se manteve o mais firme possível para levar consolo àquelas pessoas.
Edilene foi exemplo de humanidade, preocupando-se com os atingidos, com quem ela diz manter contato até hoje para se certificar de que estão bem. A jornalista acredita que fez o máximo pela cobertura, demonstrando respeito, compaixão e empatia, postura que ela considera ser essencial para qualquer bom jornalista.
Como resultado do trabalho com afinco, estão as entrevistas exclusivas conseguidas por ela e o bom relacionamento com as fontes. Após um desentendimento com um deputado federal, o então presidente da Assembleia, para defender Edilene, comentou: “Olha, a Mesa Diretora chamou o deputado e falou: ‘A Assembleia tem 77 deputados, 76 tem relação boa com a Edilene e você é o único que não tem. [..] Ela trata a gente com muito respeito.”
Edilene consegue transitar entre direita e esquerda com respeito e cuidado, o que é visível em entrevistas com o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro e com o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Este foi entrevistado oito vezes pela jornalista, comentando na mais recente: “primeiro é uma alegria poder dar mais uma entrevista para você. Eu acho que você é, inexoravelmente, a jornalista de Minas Gerais que mais me entrevistou, […] se você quiser fazer dez vezes, eu faço dez vezes a entrevista.”
Lidando com o preconceito
Edilene não esconde as dificuldades que passou durante a carreira, enfrentando preconceitos, principalmente por ser mulher negra. Demonstrando incômodo, a repórter relatou que, para conquistar espaço, foi necessário muita luta e persistência, enquanto outras pessoas alcançavam o mesmo patamar com mais tranquilidade. Edilene conta que, como mulher, por vezes tentam diminuí-la e atrapalhá-la, mas defende ser necessário persistir, e que se é possível para eles, também é para as minorias.
Se a gente reparar, nas redações, temos muitas mulheres, mas os cargos de chefia, de principais programas, sempre (estão com) os homens. Ou seja, eles estão sempre ganhando mais que as mulheres e muitas vezes tendo mais visibilidades que as mulheres.
Edilene Lopes, jornalista
Buscando aperfeiçoar o seu trabalho, ela procura se destacar no mundo do jornalismo, acreditando que sua maior realização profissional está sempre por vir. Mas nada a impediu de se tornar uma das maiores referências da sua área.
Para os futuros jornalistas
Edilene aconselha pessoas que passam por situações semelhantes, de preconceito, indicando a tendência crescente de mulheres e negros nas grandes redações. Refletindo sobre a desigualdade de gênero, o contexto do mercado jornalístico e a nova onda de integração racial, ela deixa um recado para futuros jornalistas:
Não tenha medo, faça muito bem o que você faz, tente se aperfeiçoar todos os dias, porque isso é imperativo e por mais que alguém tente te atrapalhar, quando você faz bem você não fica invisível.
Edilene Lopes, jornalista
Este perfil foi produzido por Ana Júlia Paiva, Davi Luiz Santos, Luana Martins, Maria Clara Ottoni, Maria Luíza Mendes e Pedro Henrique Galvão, sob supervisão da professora e jornalista Fernanda Sanglard na disciplina Apuração, Redação e Entrevista. O monitor João Augusto colaborou com a edição digital.
Adicionar comentário