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Dona de Mim: fundo apoia empreendedorismo feminino em MG

Pesquisa aponta motivações e desafios das empreendedoras em MG.

O empreendedorismo feminino no Brasil está ganhando cada vez mais destaque e visibilidade. Mulheres em todo o país estão abrindo novos negócios, trazendo inovação, criatividade e uma abordagem diferenciada para o mundo empresarial. Em Minas Gerais, o negócio próprio é a principal fonte de renda para sete em cada 10 dez mulheres que empreendem, conforme mostra a segunda edição da Pesquisa Mulheres Empreendedoras, realizada pelo Sebrae Minas de 2024.

Quando o assunto é empreendedorismo feminino, a busca por realização pessoal e a paixão pela atividade desempenhada são as principais motivações para as empreendedoras. De acordo com o levantamento, mais de 60% das empreendedoras mineiras afirmam que as principais motivações para investir no próprio negócio são a realização pessoal e a maior flexibilidade de horários e independência, contra 48% dos homens. Entretanto, enquanto os homens tendem a empreender quando identificam oportunidades de mercado ou para complementar renda, as mulheres frequentemente veem o empreendedorismo, muitas vezes, para melhor conciliar o trabalho com outros compromissos pessoais, como o cuidado dos filhos..

Apesar do aumento da participação das mulheres em diversos setores da sociedade, quando se trata de empreendedorismo, ainda há muitos obstáculos a serem vencidos, como a necessidade de equilibrar as responsabilidades profissionais e domésticas.  Os dados revelam disparidades na maneira como homens e mulheres administram suas tarefas cotidianas, destacando um problema estrutural que afeta profundamente o desempenho e a saúde das empreendedoras. 

Mais da metade (53%) das empreendedoras relataram ter dificuldade moderada a alta para conciliar a gestão de um negócio com os afazeres domésticos, enquanto o percentual entre os homens foi de 28%. Este dado evidencia  uma desproporcionalmente, o que impacta as mulheres na capacidade de dedicar tempo e energia para atividades empreendedoras. Além disso, a sobrecarga de tarefas pode aumentar os níveis de estresse e de esgotamento, o que tem implicações diretas no bem-estar e na produtividade. 

Desafios do Empreendedorismo Feminino 

A pesquisa realizada pelo Sebrae em 2024 revelou os seguintes pontos sobre os desafios enfrentados pelas empreendedoras mineiras:

Influência da maternidade:

44% das empreendedoras que têm filhos que dependem de seus cuidados, não têm com quem deixar os filhos enquanto trabalham, já o percentual entre os homens é de 24%.

Sobrecarga de responsabilidades:

Mais da metade (53%) das empreendedoras entrevistadas relataram ter dificuldade moderada a alta para conciliar a gestão de um negócio com os afazeres domésticos, enquanto o percentual entre os homens foi de 28%

Sacrifício do tempo pessoal:

A maioria expressiva (70%) das empreendedoras afirmaram ser a principal pessoa responsável pelos afazeres domésticos na residência, enquanto o percentual entre os empreendedores foi de 26%, demonstrando que persiste o papel tradicionalmente e culturalmente atribuído às mulheres, de serem as cuidadoras do lar.

Autoconfiança e realização de sonhos:

Os homens tendem a ser mais autoconfiantes do que as mulheres (28%) na maioria das vezes.

Tarefas domésticas:

Mais da metade (53%) das empreendedoras entrevistadas relataram ter dificuldade moderada a alta para conciliar a gestão de um negócio com os afazeres domésticos, enquanto o percentual entre os homens foi de 28%.


Fundo Dona de Mim

A pesquisa do Sebrae revelou discrepâncias de gênero no que diz respeito ao suporte financeiro para iniciar um empreendimento. Um número importante de mulheres empreendedoras busca e recebe apoio financeiro de suas mães (11%), filhos (6%) e outros membros da família (6%) Na contramão das estatísticas, Eliana Pereira, 54, empreendedora no ramo de pasteis para festas, residente na cidade de Araçuaí, recorreu ao microcrédito fornecido por meio  do projeto “Donas de Mim”.

O Fundo Dona de Mim é uma iniciativa do Grupo Mulheres do Brasil que tem como propósito impulsionar o negócio de Microempreendedoras Individuais (MEI) e Empreendedoras de Comunidades ou mulheres que não têm acesso ao crédito. Através de financiamento acessível e apoio financeiro, o programa visa empoderar mulheres, promovendo a independência econômica e fortalecendo suas capacidades empresariais. Além do crédito, as participantes recebem orientação e capacitação para melhor gestão de seus empreendimentos, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e a redução das desigualdades de gênero no mercado de trabalho.

Eliana Pereira dos Santos, do projeto “Sou Dona de Mim” / Acervo pessoal

Eliana Pereira dos Santos ficou sabendo do microcrédito no valor de R$2.000,00 (dois mil reais) direcionados a mulheres das cidades de Araçuaí e Itinga, em Minas Gerais, com seis meses de carência para começar a pagar em parcelas de 18 vezes fixas. No início, pela facilidade, sentiu medo mas logo pensou: “Vou lá, vou arriscar, e se der certo para mim, todo mundo vai”, visando encorajar outras mulheres empreendedoras de Araçuaí a buscarem o microcrédito. Pouco tempo depois, o dinheiro do microcrédito caiu na conta e ela investiu no seu negócio.

Eu sei que nesse meio tempo eu consegui levar para o projeto ‘Donas de mim’ mais de sessenta  mulheres. Muitas tinham vontade de alavancar seus negócios ou começar o próprio negócio, e dois mil reais significa muita coisa”

Eliana Pereira dos Santos

O Fundo Dona de Mim é uma parceria entre o Grupo Mulheres do Brasil, a Rede Mulher Empreendedora (RME) e o Banco Pérola. Ele oferece créditos sem juros de R$ 2 mil ou R$ 3 mil, com uma carência de nove meses e um prazo de pagamento estendido de 15 meses, exclusivamente para microempreendedoras individuais (MEIs). O objetivo é fornecer suporte financeiro para mulheres que buscam manter ou iniciar suas atividades empreendedoras, evitando assim o acúmulo de dívidas. O Fundo visa impulsionar ou iniciar negócios, promovendo o empoderamento econômico das mulheres em diferentes regiões do Brasil.

A ação foi idealizada por Sônia Hess, vice-presidente do Grupo Mulheres do Brasil, que tem no comando Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza —, para oferecer microcrédito para ajudar mulheres impactadas pela crise provocada pela pandemia a empreender. Segundo Sônia Hess, para o site Istoé, o programa nasceu de um sonho e de uma inquietação frente ao cenário de instabilidade econômica imposto pela pandemia.

A inspiração de Sônia para o programa é o modelo de empreendedorismo social criado pelo economista e banqueiro de Bangladesh Muhammad Yunus. Autor de livros como Um Mundo sem Pobreza: A Empresa Social e o Futuro do Capitalismo, Yunus recebeu o prêmio Nobel da Paz em 2006. Sua filosofia pode ser resumida em uma frase: “O microcrédito é a cristalização da esperança indicando o caminho para que as mulheres em situação de vulnerabilidade possam sair da armadilha da pobreza”.

Como funciona?

O fundo oferece microcrédito para que mulheres empreendedoras iniciem ou mantenha sua atividade, garantindo sua fonte de renda. Além do crédito, as participantes recebem orientação para abertura e administração do seu negócio.

Quem pode solicitar o microcrédito? 

O microcrédito é exclusivo para mulheres empreendedoras individuais. É necessário ter  CNPJ (empresa aberta) como microempreendedor individual (MEI) para solicitar o crédito. Também é preciso participar das atividades de qualificação e mentoria oferecidas pelos parceiros dessa iniciativa.

Capacitação é fundamental

Eliana passou por um programa de capacitação para gerir o próprio negócio, onde aprendeu a fazer planilhas e controle de caixa:  “Eu nunca soube o que entrava e o que saia no caixa do meu negócio. Hoje, depois da capacitação, eu separo o que é para capital de giro, esse outro valor é para mercadoria, e esse eu guardo para mim. Eu estou conseguindo guardar um dinheirinho, coisa que antes eu não fazia e hoje eu já faço”.

Durante o processo, Eliana conheceu novas mulheres empreendedoras, e juntas, criaram uma rede de apoio e networking. “Estou com 54 anos e eu pensava em parar, já não estava com tanta disposição, e após ter acesso ao microcrédito, deu uma levantada. Hoje eu vejo que eu com os meus 54 anos estou apenas começando e tenho muito orgulho de falar sobre esse projeto”, diz animada.  Para o futuro, Eliana pretende trabalhar com delivery de salgados, comprar um fogão novo e continuar contando com o apoio do projeto e convidando mulheres a empreender. 

Mulheres do projeto Dona de Mim / Arquivo pessoal.

Leia também: Conheça histórias do empreendedorismo jovem no Brasil.

Janaina Veloso

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