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Observar a vida e expressar desejos na arte punk

Conheça Pedro Brandão, artista punk que observa a cidade e expressa seus desejos em artes na II Mostra de Arte Punk.

Pedro Brandão, assim como o próprio afirma, é “apenas mais um punk da cidade de São Paulo”, mais um dos artistas que expõem suas obras na II Mostra de Arte Punk. @CamaradaPedroPunk no TikTok, o artista tem experiência em edições do fanzine (revista de fã) da União do Movimento Punk, além de ter participado em bandas como Desarme a PM e Terror Agressão, tocando e produzindo material gráfico.

Camarada Pedro Punk

Pedro se envolveu na cena punk no ano de 1999, aos 14 anos. Aos 13, esteve atuante na pichação e, por esse motivo, foi afastado desse contexto da cena urbana de São Paulo pela mãe. No ano seguinte, quando voltou à capital, conheceu novos colegas da vizinhança e se envolveu com o “rolê”. Já era ouvinte assíduo de bandas como Bad Religion e Ramones, então, começou a frequentar shows e eventos dessa cena: a maioria na Zona Sul de São Paulo, organizadas pela Caos Punk, além de reuniões da União do Movimento Punk de São Paulo (UMPSP).

Arte 1

O artista conta que, dentro do ambiente da UMPSP, teve maior acesso à cultura de fanzine, a revista de fãs (fanatic magazine, no inglês) – materiais produzidos por pessoas para fãs de algum tipo de conteúdo específico, como a própria cultura punk. Na União, Pedro editou fanzines e participou da organização de eventos. De acordo com o quadrinista, a UMPSP pretendia promover uma organização entre os punks, na intenção de transformar a cena em um movimento, com uma característica organizacional.

Politização

O artista conta que o movimento punk teve grande influência na sua formação social, política e acadêmica. Além de ter estudado no Centro do Audiovisual de São Bernardo do Campo, produziu a HQ “Memórias Fotográficas”, contando a história do Jardim Angela, bairro de São Paulo, e, atualmente, produz quadrinhos e animações para o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, o MTST.

Nos anos seguintes ao envolvimento com a União do Movimento Punk de São Paulo, Pedro Brandão se envolveu na luta antiglobalização, em um movimento forte de protestos na capital paulista, liderado por uma organização chamada Ação Global dos Povos. Nesse contexto, o artista punk afirma que se formou culturalmente e politicamente.

Luta Antiglobalização
A Luta Antiglobalização é um termo genérico para descrever o movimento dos anos 1990 de luta contra abusos de grandes corporações e as condições de trabalho a partir de um ponto de vista de mundo multipolar – em decorrência da queda do Muro de Berlim, em 1989. Pessoas que se identificam como antiglobalistas manifestam preocupação com danos aos direitos humanos e ao meio ambiente, entre outros fatores que resultam da globalização liberal. Como proposta, antiglobalistas sugerem alternativas ao regime capitalista neoliberal econômico, como o comunismo, o socialismo e até mesmo a anarquia.

Ser Punk

É consenso que a definição de ser punk é diferente para cada punk. Para Pedro Brandão, ser punk significa ter um olhar sempre à margem, com uma vivência sempre à margem.

Todo mundo que vive o punk de verdade tende a isso. Eu sou uma pessoa que usa óculos, e eu costumo dizer que essa visão punk é como um óculos que eu coloquei e eu não consigo mais tirar.

Pedro Brandão

Inspirando na cidade e nos afetos, e em desejos que o atravessam, a série exposta na mostra expressa a violência como vontade de mudança

Na II Mostra de Arte Punk, o artista expõe uma sequência de cinco gifs. Quatro deles mostram situações de violência, e, em formato quadrangular, uma cena de calmaria – na qual foi retratado o contexto de pandemia no qual as artes foram produzidas. De acordo com o artista, as primeiras refletem a pulsão de resistência violenta à autoridade fascista.

“Na ocasião que tá a realidade à minha volta agora, os sentimentos são aqueles: dessa pulsão de resistência violenta. Isso diz respeito a um cotidiano político, social e econômico que eu sinto sendo imposto em mim”, afirma.

Um ponto importante a se apontar é que, em uma das artes, o personagem principal é o próprio Pedro. “Tem essa coisa que eu gosto muito de me colocar ali enquanto um personagem mesmo”, conta.

Além das obras expostas na II Mostra de Arte Punk, Pedro Brandão produziu um curta metragem com o tema “Procrastinação”, que também apresenta uma cena do cotidiano, e mantém em seu portfólio digital do TikTok.

Processo de criação

O processo de criação da arte punk não é necessariamente glamuroso, como é esperado em outro tipo de arte. No caso das artes do @CamaradaPedroPunk, o sentimento mais presente é o incômodo. “O meu processo de criação é um bagulho completamente tortuoso e horrível: sempre acho que tudo vai ficar péssimo, então, tenho que atravessar essa zona de arrebentação e fracasso”, comenta o artista.

Eu observo a cidade ou observo desejos que eu tenho.

Pedro Brandão

Um grande ato de Pedro é a demonstração de sentimentos e desejos que sente durante o processo de criação. Suas artes têm uma característica recorrente, que é a violência, e trazem um sentimento de subversão e força contrária a forças autoritárias. O sentimento é mobilizado também contra o sistema capitalista e forças menores de controle social, como a polícia, além de demonstrar um descontentamento com a situação política do Brasil atual.

Observa-se um destaque de elementos contemporâneos na criação dos gifs, marcados pela repetição e rapidez, com um fragmento de informação direta em cenas curtas e objetivas. Por fim, diante da arte finalizada, o artista confessa: sente uma epifania solitária, na qual ele acerta e erra, feliz e triste.

Animação e concentração

“A melhor parte é esse momento de: animação e concentração. Eu acabo sendo um animador solitário, diferentemente das produções de longa metragem de animação. A hora que me deixa em êxtase é geralmente no meio da madrugada, quando eu estou no limite da minha mão”, conta Pedro.

Por ter sofrido um acidente de moto, Pedro não aguenta longas jornadas de criação. Mas, mesmo com dor, gosta de continuar a criar, tamanho o envolvimento e a vontade de ver a materialização da realização, até como um escape do tédio.

A comunidade punk vista de fora

Para Pedro Brandão, houve um tempo em que a comunidade punk sofreu preconceito. Hoje em dia, ele os vê como parte da identidade de uma grande metrópole como São Paulo, que é onde ele vive. Porém, é um grupo que ainda provoca estranhamento a pessoas “normalizadas”, segundo ele – que não se encaixam na estética punk. “A gente (comunidade punk) tem uma série de valores e entendimentos, além de convenções sociais dentro da cultura punk que não fazem parte do resto. Conforme as pessoas vão conhecendo, as pessoas vão estranhar”, conta.

Ao mesmo tempo, o punk conta que sente um estranhamento, um preconceito, dentro mesmo da comunidade. Ele conta que a ideia de ser punk está muito atrelada a um indivíduo que está inserido em uma sociedade, biopoliticamente feito nesse “software”, e que tende a romper esses pré-conceitos. No entanto, é possível ser punk sem romper com nada – e aí entram várias ambiguidades.

Assim como lembrado pelo artista, no livro “Filosofia Punk: Muito Mais Do Que Barulho”, Craig Ohara analisa a abordagem da mídia em afirmar que os punks são indivíduos que viram na comunidade a oportunidade de praticar violência, o que nem sempre é assim. Pedro afirma que isso faz com que pessoas com tendências violentas se encontrem nesse meio, fazendo com que a imagem punk tenha sempre esse teor – o que atravessa muitos imaginários e gera preconceitos.

Arte 5

Significância do Movimento Punk

Para Pedro Brandão, o significado de ‘ser punk’ se alterou muito dos seus 14 aos 37 anos de idade. Ao longo desse tempo, o artista se aproximou da militância política. Atualmente, é militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), e teve atuação no Movimento Passe Livre nos anos de 2005 a 2013.

O artista hoje não vê mais o Punk como um movimento social organizado, muito menos como um movimento, e acredita que se enganou muito com essa utopia ao longo da vida. Hoje, ele o vê como uma “somatória de indivíduos que buscam se organizar em alguns conglomerados; esses alguns conglomerados formam uma cena que tem diálogos entre si, sendo essa uma rede de pessoas que sustenta uma forma de vivência cultural na cidade”.

Confira as obras de Pedro Brandão na II Mostra de Arte Punk clicando aqui.

Giovanna de Souza

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