Belo Horizonte vem ganhando importantes reforços na segurança pública. Em dezembro de 2023, a Prefeitura da capital implementou um novo sistema de monitoramento inteligente, conhecido como monitoramento 3.0. Esse modelo conta com tecnologias avançadas, como drones, câmeras de alta definição, sistema com leitura de placas de veículos, sensores e inteligência artificial, que permitem a captura de dados e imagens em tempo real.
Esse novo sistema complementa a plataforma Belo Horizonte + Segura, lançada em 2022 pelo governo do Estado para ampliar a capacidade de monitoramento da cidade. A plataforma permite que clientes de empresas particulares de segurança eletrônica integrem seus sistemas ao Centro Integrado de Operações de Belo Horizonte (COP-BH), fortalecendo a vigilância urbana. A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Assessoria de Comunicação, explicou que o uso das imagens respeita a privacidade da população.
“A Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção assegura que o uso das tecnologias respeita a privacidade da população, seguindo os princípios da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). As imagens de crimes capturadas pelas câmeras sob responsabilidade do município são entregues às autoridades policiais, de corregedoria e judiciais somente mediante o respectivo ofício da autoridade competente”.
Segundo a PBH, a capital mineira conta, atualmente, com 72 câmeras, divididas em três grupos de acordo com os recursos de cada uma: “40 câmeras com analíticos de cercamento virtual e detecção de objetos abandonados; 20 câmeras com analíticos de detecção de faces e contagem de pessoas; e 12 câmeras com recursos de leitura de placas”.
Para a pesquisadora Jenifer Cappellari, mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e especialista em segurança urbana, o avanço tecnológico representa mais do que uma modernização operacional. “Tecnologias como câmeras inteligentes e sistemas de reconhecimento facial são os elementos mais visíveis de um ‘dispositivo sociotécnico’ mais amplo. Esse dispositivo articula elementos técnicos, políticos e culturais, moldando o que se entende como segurança pública — e como ela deve ser exercida”.
Folia em segurança
No carnaval, a tecnologia não só vigia. Ela organiza a cidade, define o que é ‘seguro’ e quem deve ser vigiado. É um controle que parece neutro, mas carrega escolhas políticas e sociais”, Jenifer Capellari, pesquisadora.
Durante o carnaval de 2025, que reuniu aproximadamente 6,05 milhões de foliões em Belo Horizonte, os sistemas de vigilância inteligente foram usados de forma estratégica. O capitão da Polícia Militar de Minas Gerais, Rafael Veríssimo, destacou o impacto das tecnologias no evento. “Com o uso da tecnologia, conseguimos uma resposta mais rápida e eficaz. Durante o Carnaval, o sistema de monitoramento inteligente contribuiu diretamente para a captura de 75 foragidos da Justiça”, afirmou.
Os dados divulgados pelo governo estadual confirmam a efetividade da medida: foram registradas 1.443 ocorrências de roubos e furtos de celulares durante os quatro dias de festa. Isso representa uma média de 360 por dia e uma redução de 30% em comparação ao mesmo período de 2024. Para o capitão Veríssimo, esse resultado se deve à atuação conjunta: “A redução de crimes como furtos e roubos pode ser diretamente atribuída à integração entre os diversos sistemas de segurança e a atuação conjunta da polícia e da comunidade”.
Leia também: Dados online: a segurança em pauta.
Capellari explica que sistemas de monitoramento e centros de comando e controle de diferentes municípios brasileiros têm particularidades locais mas expressam, todos, uma racionalidade pautada sob pilares comuns: integração, eficiência e tecnologia. “É importante mencionar que a eficiência dos elementos sociotécnicos não está em questão, já que eles realmente ampliam a capacidade humana de operação, conferem mais produtividade e mais recursos para a operação dos agentes humanos. Mas, é preciso evidenciar que a tecnologia não é autônoma ou superior à atuação humana e deve ser aplicada como complemento a uma série de outras ações direcionadas à formação e capacitação dos agentes de segurança em todos os níveis”.
A confiança absoluta nos elementos utilizados para vigilância e monitoramento nesses eventos pode deixar lacunas e evidenciar vieses políticos, principalmente quando a ação humana é reduzida à simples operação dos sistemas ou atuação a partir de ‘decisões’ de sistemas automatizados” – Jenifer Capellari, pesquisadora.
População vê com bons olhos uso de artefatos de segurança
Usuária do transporte público, a estudante Stella Maris também comentou sobre o impacto da vigilância em sua rotina. Segundo ela, há locais onde se sente mais segura. “Nunca tive nenhum problema nas estações, seja de metrô ou nas estações grandonas como a Vilarinho e a Pampulha”. No entanto, Stella Maris apontou que ainda existem trajetos que geram preocupação. “Quando pego a linha 51 do ônibus à noite, fico mais receosa porque passo por regiões em que o roubo de celulares é mais comum”.
A estudante também ressaltou outro desafio frequente no transporte coletivo: o assédio. “Ainda é muito frequente, principalmente com comentários de cunho sexual e toques indesejados, que ainda é algo difícil de combater”, disse. Segundo a prefeitura, no transporte público, a operação Tolerância Zero atua desde o ano passado com ações conjuntas entre Sumob, BHTrans e Guarda Municipal. A fiscalização, que já realizou mais de 5,5 mil ações, é monitorada pelo SITBUS, sistema conectado ao GPS dos ônibus, que acompanha os trajetos em tempo real. Além disso, o aplicativo da PBH permite que passageiros denunciem casos de importunação sexual.
Outra medida adotada para reforçar a segurança pública foi a sanção da Lei 25.156, de 2025, que permite a criação de redes de segurança colaborativas entre escolas e as polícias civil e militar, com presença de sistemas de vídeo monitoramento. A proposta busca prevenir a violência no ambiente escolar e garantir a segurança de estudantes e profissionais da educação.
Na área da Saúde, a Prefeitura implementou, em 2023, pontos fixos da Guarda Municipal nas nove UPAs da cidade. A medida visa garantir mais segurança para usuários e profissionais, com agentes atuando 24 horas por dia. Servidores e porteiros também recebem treinamentos, e a estrutura de apoio poderá ser feita por meio de uma Unidade de Segurança Pública (USP) ou container. As ações incluem a intensificação das rondas e a criação de um grupo de WhatsApp para resposta rápida em emergências.
Para Jenifer Capellari, a crescente presença de empresas privadas na cadeia de monitoramento urbano exige atenção. “Quando agentes privados participam da concepção, operação e até da tomada de decisões a partir dos sistemas de segurança, temos uma mudança profunda na forma como a segurança pública é pensada e praticada. Isso inclui importação de valores e interesses privados para dentro de uma esfera que deveria ser exclusivamente pública”.
Prefeitura projeta expansão do monitoramento e presença da Guarda
A Prefeitura de Belo Horizonte e o governo estadual seguem investindo na ampliação do monitoramento inteligente como estratégia de segurança pública. Para 2025, estão previstas novas ações com foco na integração entre as forças de segurança e no uso de dados em tempo real.
A gestão do atual prefeito, Álvaro Damião (União Brasil), prevê a ampliação da presença da Guarda Municipal, o reforço da frota e do efetivo, além da instalação de unidades móveis de Segurança Preventiva na Praça Sete e na Praça Rio Branco. Também está prevista a modernização do parque de câmeras já existente.