No mundo pós-moderno o uso de aplicativos de namoro ganhou um grande número de adeptos que desejam iniciar novos relacionamentos, conhecer novas pessoas, fazer amizades ou até mesmo expandir o networking no mundo digital a partir de um simples download pelo celular.
Desde os tempos remotos o ser humano possui a necessidade de se relacionar com o outro. Segundo a teoria das necessidades humanas, a Pirâmide de Maslow identifica que as necessidades sociais estão no terceiro nível das necessidades humanas, dada a importância da sociabilidade para os indivíduos.
As revoluções digitais e o aumento do uso de aplicativos de relacionamento
A partir das revoluções digitais, o uso de redes sociais transformou as formas de se relacionar com o outro. Orkut, MSN, Facebook, Instagram e Twitter: a lista se estende por diversas épocas, estilos e gostos, o que ajudou a trazer as pessoas para um novo modelo de interação. Até que, buscando atender demandas de pessoas que desejam relações mais específicas, com intenções voltadas para namoro, amizades e negócios de trabalho, foram criados aplicativos para atender esses grupos.
Existe uma explicação a nível de fenômeno social e tecnológico proveniente dessa transformação. Para os cientistas sociais, esse modelo de interação que é fomentado pelos aplicativos de relacionamento também é resultado da sociedade em que estamos inseridos na atualidade. Segundo o sociólogo polones Zygmunt Bauman, estamos vivendo o contexto social provocado pela modernidade líquida, em que tudo é fugaz, acelerado, superficial e não feito para durar.
Aplicativos como Tinder, Bumblee e Happn são extremamente criticados pela lógica que os seus algoritmos propõem. Se um usuário se deparou com o outro e gostou de suas fotos e de sua descrição, é preciso “curtir” o perfil. Caso o “like” seja recíproco, gera-se uma combinação: pronto, os usuários já podem trocar mensagens e avaliar se a relação irá evoluir ou não.
Os aplicativos funcionam como um ‘’mercado’’ e você escolhe aquilo que te agrada. O Tinder, por exemplo, analisa “curtidas” e “não curtidas” utilizadas por cada usuário e utiliza da inteligência artifícial para identificar quais perfis poderiam ter interesse em comum, tudo isso para gerar possíveis matchs no aplicativo.
Diante da busca por outras conexões, a fase do isolamento social exigido pela pandemia do Covid-19 intensificou o uso dos aplicativos de relacionamento, com um aumento de 82% nos números globais em março de 2020, quando as medidas de isolamento entraram em vigor em diversos países. Ainda após o cenário da pandemia, os números de adeptos aos aplicativos de namoro são altos e ganham diversos novos usuários.
Há, no entanto, apesar das críticas, algumas pessoas que se encontraram exito utilizando os aplicativos de relacionamento. Joyce Rodrigues, gerente comercial de 27 anos, é um exemplo de pessoa que conseguiu ter o seu happy ending ao utilizar o Tinder e encontrar o seu amor. O interesse pelo aplicativo surgiu quando ela percebeu que não conseguia interagir muito com outras pessoas quando saia com os amigos, por exemplo.
“Eu gostei bastante, pois dava para mesclar pessoas que parecem com você, que têm os mesmos gostos que você. Existe uma descrição lá que as pessoas colocam o que elas gostam e aí nisso você consegue conversar com elas”, diz a usuário do aplicativo.
Joyce instalou e desinstalou diversas vezes o aplicativo e conheceu diversas pessoas com quem construiu amizades. Atualmente ela possui um relacionamento de 3 anos com uma pessoa que conheceu no Tinder. Inesperadamente, ao ir em um casamento de uma amiga do casal, ela descobriu que eles também haviam se conhecido pelo aplicativo de relacionamento. Joyce acredita que utilizar esse recurso acaba incitando o preconceito de forma desnecessária, uma vez que os aplicativos podem ajudar na socialização entre pessoas, se colocando como uma importante ferramenta nos atuais.
Conexões que vão além do match
Mesmo propondo diversos finais felizes para alguns casais, aplicativos como Tinder, por exemplo, apesar de possuírem segmentos para todas as orientações sexuais, não costumam ser os mais utilizados pelo público LGBTQIA+. Um exemplo de plataforma que busca atender um público que se identifica com orientações sexuais diversas é o Grindr, um aplicativo de relacionamento dedicado às comunidades gay, bi, trans e queer muito famoso a nível mundial e surge com propostas mais variadas, abrangentes e acolhedoras, para pessoas que procuram uma experiência que vai além de um simples match.
Para Ettore Stefani de Medeiros, doutor em comunicação e professor universitário na PUC Minas e Ibmec, quando abordamos o consumo ativo de aplicativos para se relacionar, isso não diz respeito apenas a um motivo sexual ou amorosos, pois as pessoas são seres sociais e possuem a necessidade de se relacionar. As plataformas de relacionamento também servem como forma de sociabilidade humana. É possível formar sociedades, laços de coleguismo, ou até de comércio, que muitas vezes as próprias plataformas de relacionamento não oferecem na sua promessa de gestão de marcas.
“O Grindr foi criado num contexto dos Estados Unidos, em 2009. Ele surgiu para que, principalmente, homens se relacionassem com outros homens afetivos sexualmente. Esses aplicativos permitem que você navegue num sistema cis-hetero-normativo sem dar a ver que isso está acontecendo. Então, a gente chama isso meio que de uma perspectiva subterrânea dos relacionamentos, só que isso não é novo. E, claro que com isso, também existe uma remodelação das próprias relações entre essas pessoas, porque a gente pensa, se antes, quando as pessoas iam para o cruising, para a pegação de rua, existia um processo seletivo, ‘’menos intenso’’, então, você não tem um potencial de escolha tão grande”, diz Ettore.
O professor completa enfatizando que com os aplicativos de relacionamento os usuários tem um leque de possibilidades maior e isso é algo que tem mudado o modo como as pessoas se relacionam, de pensarem que elas têm a parceira ou parceiro ideal, porque sempre parece que tem outras possibilidades melhores. Isso faz com que as pessoas sempre fiquem no processo de busca contínua e nunca consigam achar alguém.
Segundo Ettore, as mudanças midiáticas, trazidas pela lógica dos aplicativos e o avanço da tecnologia são uma somatória de coisas que fez com que as pessoas buscassem mais os aplicativos para se relacionar, além de outras questões, como a facilidade. “Tem gente que tem timidez, tem gente que não consegue dizer sobre o seu desejo de forma aberta, então, os aplicativos permitem que você vivencie isso dando menos a cara a tapa.’’
Para o professor, os aplicativos de relacionamento LGBTQIA+ permitem para as pessoas algumas vantagens e alguns benefícios que vão além de um possível “happy ending’’ e exploram uma questão social, como experienciar a sua sexualidade, a sua orientação afetiva sexual e a sua identidade de gênero de modo mais livre. “Outra questão que eu vi na minha pesquisa e que outras pesquisas apontam, é os laços de solidariedade que podem surgir entre as pessoas da população LGBTQIA + nesses aplicativos. As pessoas também podem criar redes de amizade, de ajuda, de suporte e existe uma certa criação de uma cultura LGBTQIA +”.
Ettore também alerta que esse mundo dos aplicativos não é isento de conflitos, podendo conter práticas de divergência, de ódio, inclusive entre as próprias pessoas do grupo LGBTQIA +, mas apesar disto ainda há uma sensação de pertencimento. “Quando a gente vai pensar, de repente, em pessoas que não podem ser quem elas são em nível de identidade de gênero ou direção afetiva sexual, elas podem encontrar pessoas similares, elas podem se sentir menos sozinhas.’’ , finalizou.
O Grindr, possui sede em West Hollywood, na Califórnia, atualmente é o aplicativo de namoro e encontros mais popular na comunidade LGBTQIA + a nível mundial e tem cerca de 11 milhões de usuários ativos mensais.
Produzimos um material em áudio para você saber mais! Quem sabe chegou a sua hora de navegar pelo universo dos aplicativos de relacionamento? Confira a seguir:
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Conteúdo produzido por Cristiane Cirilo e Maicon Epifânio na disciplina de Narrativas Digitais, sob a supervisão da professora e jornalista Maiara Orlandini
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