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Carnaval 2022: sem blocos e aglomeração nas ruas

Eventos privados passam a ser opção mais frequente e elitizam maior festa popular do país

Este será mais um ano de carnaval atípico. Desde que a pandemia de covid-19 foi decretada em março de 2020, pela segunda vez os brasileiros estão vivenciando de modo diferente uma das celebrações mais populares do país. Acostumada a ver as tradicionais aglomerações dos blocos, dos desfiles e trios elétricos que mobilizam multidões, a população brasileira agora está diante de um carnaval menos movimentado, devido à rápida circulação da variante ômicron do coronavírus. Ainda assim, há foliões que buscam uma forma de aproveitar a data e o feriado. Mas, com a proibição dos eventos nas vias públicas nas principais capitais, houve uma elitização da festa popular. Agora, quem quer se divertir precisa desembolsar valores nem sempre acessíveis à maior parte dos brasileiros.

Bruno Terra, 21 anos, mora no Rio de Janeiro e relata estar animado para as festividades. “Eu amo carnaval, pra mim é a melhor época do ano. Meus amigos de Minas vão vir pra cá e vamos juntar a galera, eu tenho certeza que vai ser muito bom.” O estudante vai aproveitar a folia em eventos privados da capital, como os shows das cantoras Anitta e Gloria Groove, cujos ingressos custam cerca de R$100, e a entrada está condicionada à apresentação do cartão de vacina.

De acordo com o Vacinômetro do Estado do Rio de Janeiro, 11,7 milhões de cariocas já estão com imunização completa contra a covid-19 (com dose única ou duas doses), sendo que 4,5 milhões de doses de reforço foram aplicadas. Isso faz com que os adeptos ao carnaval se sintam mais confortáveis para aproveitar o feriadão. Para Bruno, é mais seguro ter carnaval dessa forma, uma vez que os índices demonstram que parcela significativa das pessoas imunizadas que testaram positivo covid não teve sintomas graves. “E em algum momento as coisas deverão voltar ao normal”, aposta o estudante.

Bruno Terra carnaval
Bruno Terra fantasiado para o carnaval / Arquivo pessoal

Por outro lado, existem aqueles que optaram por passar a data em casa. Matheus de Oliveira, 20 anos, é morador da cidade de Diadema, em São Paulo, e prefere aproveitar os dias de carnaval em casa para se dedicar aos estudos e concluir os cursos que a empresa em que trabalha, a Gol Linhas Aéreas, ofertou. “Tenho um objetivo para este ano, então prefiro me abdicar da folia de carnaval de 2022.” Além disso, o estudante não acha a festividade segura diante dos novos casos ômicron. Seja em casa ou nas festas privadas, felizes daqueles que estão com saúde no carnaval, visto que apenas nesta sexta-feira (25), mais de 90 mil casos  de covid foram confirmados, com registros de 770 óbitos. Desde o início da pandemia, mais de 648 mil pessoas já morreram em decorrência do coronavírus.

Elitização dos eventos carnavalescos

Pelo segundo ano consecutivo, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) anunciou que não irá patrocinar e realizar o cadastramento de blocos de rua. Entretanto, a decisão não impede que eventos privados sejam realizados mediante a apresentação do teste negativo para covid-19 ou do comprovante de vacinação. Tal política pública adotada na capital para o período de folia é vista pelo maior bloco de rua da cidade, o Então, Brilha!, como uma maneira de transformar nossa festa popular, nossa manifestação cultural, em um balcão de eventos, em um ‘blocódromo’”.

Com o lema “Vacinar, viver e brilhar nas ruas, não nos blocódromos”,os organizadores elaboraram um pronunciamento contra a privatização dos eventos carnavalescos e em defesa da ciência, da cultura e da liberdade. O manifesto anuncia o desejo pela realização do tradicional carnaval de rua em um momento sanitariamente estável e a decisão pela não participação do Então, Brilha! em circuitos fechados de blocos ou eventos privados.

“Somos das ruas, lá é o nosso lugar. Não participaremos de circuitos fechados de blocos e nem de blocódromos. Nossa banda continuará a fazer shows em eventos que entendemos não estar na mão dessa privatização que aqui criticamos.”

Trecho do pronunciamento oficial do bloco Então, Brilha! 

Com valores de até R$650 para eventos privados na capital mineira, como é o caso do We Love Carnaval, grande parte dos foliões ficarão de fora das comemorações, devido ao alto custo dos ingressos e ao impedimento dos desfiles e dos blocos nas ruas.

Ana Luiza Silva Diniz, 19 anos, relata que tinha “esperanças altíssimas” quanto à volta do carnaval em 2022. Entretanto, relembrando as aglomerações que ocorreram com as festas de fim de ano, afirma que já imaginava que o surgimento de uma nova onda de covid-19 seria capaz de mudar os seus planos para o feriado.

A estudante de farmácia diz concordar com a decisão da PBH e que não irá frequentar eventos privados neste ano. Todavia, ela defende os eventos carnavalescos públicos em um futuro próximo, já que “as festas privadas do carnaval de BH estão com um preço altíssimo e não possuem toda a emoção e bagunça de um carnaval de rua raiz”. 

Como aproveitar o feriado sem folia

Com a proibição do carnaval de rua em cidades tradicionais da folia, muitas pessoas vão aproveitar para passar o feriado com a família ou visitar cidades turísticas. Essa foi a opção de Larissa Lopes, 23 anos, que reside em Palmas, no Tocantins. Ela vai pegar a estrada para visitar sua família em Paraíso, a 75 km da capital. Larissa acredita que mesmo com a proibição das festividades, não há controle das aglomerações pela cidade, e isso a colocaria em risco. “A pandemia nunca acabou, então, se as pessoas continuarem a fazer festas, haverá um agravamento da situação. A melhor forma de aproveitar o feriado neste momento é com tranquilidade, por isso eu optei por passar o carnaval com minha família e descansar”, explica. 

Para quem prefere viajar a turismo, algumas cidades estão com programações especiais para visitação no feriado. Em Ouro Preto, por exemplo, a famosa folia que acontecia pelas ruas históricas foi substituída por programação de exposições na Casa de Gonzaga, que teve início em 18 de fevereiro e vai até 2 de março, das 8h às 18h. Serão duas exposições: Bandalheira – 50 anos e Cortejos de bonecos personalidade de Ouro Preto. Elas buscam levar os turistas a conhecer as origens da celebração do carnaval no centro histórico. 

Outro destino tranquilo para se passar o carnaval com a família é Foz do Iguaçu, no Paraná. A cidade não terá festas ou programação, mas as atrações turísticas, como as Cataratas do Iguaçu e a Usina Hidrelétrica Itaipu, estarão abertas para visitação durante todo os dias do feriado, com horários variados. Bonito, em Mato Grosso do Sul, também é um destino muito procurado pelos turistas no carnaval. Com o ecoturismo como principal destaque, as atrações mais procuradas são a Nascente Azul, o Parque Ecológico do Rio da Prata, o Refúgio da Barra, o Parque Ecológico Rio Formoso e a Praia da Figueira.

Mas para quem não abre mão dos festejos, algumas cidades terão festas de rua liberadas. É o caso de Marataízes, no Espírito Santo, onde a prefeitura organizou uma programação com diversos shows públicos. As atrações envolvem artistas regionais que se apresentarão na Praia Central e na Praia da Barra. A prefeitura também disponibilizará pontos de vacinação de covid-19.

Trompetista no carnaval
Trompetista durante o carnaval de rua / Foto: Ferran Feixas/ Unsplash

Veja como será o carnaval em algumas capitais do Brasil:  

Belém

Não tem atividade carnavalesca programada, porém terá ponto entre segunda e quarta-feira (até 12h). Assim como outras capitais, a cidade cancelou os blocos de rua, mas manteve as festas privadas seguindo as normas sanitárias contra o COVID-19.

A fiscalização será de responsabilidade do governo do Estado e da Polícia Militar. Para quem descumprir o decreto estadual será aplicada multa com valores que vão de R$150 (pessoas físicas) a mais de R$50 mil (pessoas jurídicas).

Belo Horizonte

Neste ano, Belo Horizonte não terá Carnaval, sendo assim, segunda (28) e terça-feira, 1° de março não serão considerados feriados pela prefeitura da capital mineira e os serviços da Prefeitura funcionarão normalmente nesses dias. Contudo, alguns setores, como o comércio, o terminal rodoviário e o aeroporto de Confins, não vão se pautar pelo apelo do prefeito Alexandre Kalil, em manter o funcionamento normal da cidade. 

Festas, shows, bailes e eventos privados, que devem reunir milhares de pessoas, foram autorizados, desde que respeitando regras sanitárias de combate a COVID-19. As ruas permaneceram sem restrições e não haverá nenhuma estrutura voltada para o carnaval, além disso, a Guarda Municipal, que funcionará normalmente, poderá fazer abordagens a quem violar a ordem pública, já a Polícia Militar (PMMG) poderá agir para evitar aglomerações.

Florianópolis

Terá ponto facultativo no carnaval deste ano, mas blocos de rua e desfiles de escolas de samba estão cancelados na capital catarinense. Nos serviços estaduais, o ponto facultativo será nos dias 28 de fevereiro, 1º e 2 de março (até 14h).

Fortaleza

Decretos do governo do Ceará cancelaram as festas e os blocos de rua, mas liberaram a celebração de eventos privados, com limite de 250 pessoas em ambientes fechados e 500 em locais abertos. Todos os eventos devem seguir  os protocolos sanitários, como uso de máscara e adoção de passaporte vacinal. 

Na capital cearense, os dias de carnaval não serão ponto facultativo para os órgão públicos, e haverá aumento da segurança pública. A Polícia Militar e a Guarda Municipal de Fortaleza darão apoio à Agência de Fiscalização de Fortaleza na coibição de aglomerações. A recomendação do governo é o funcionamento normal de estabelecimentos comerciais, mas o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará recomendou feriado. Já o comércio funcionará normalmente.

Rio de Janeiro

A Prefeitura e o Estado do Rio de Janeiro decidiram cancelar o carnaval de rua e prorrogar os desfiles das escolas de samba para o feriado de Tiradentes, 21 de abril. O feriado de terça-feira, 1° de março, está mantido, por ser fruto de lei estadual. Porém, na segunda (28) e na Quarta-feira de Cinzas (2), serão dias úteis. A exceção é no setor privado, em que a decisão fica por conta das empresas e dos servidores do governo do RJ, que dará ponto facultativo na segunda (28) e na quarta-feira (2) até o meio-dia.

Festas, shows, bailes e eventos privados foram autorizados pela prefeitura, desde que respeitando regras sanitárias de prevenção à covid-19. Sendo assim, os espaços e organizadores de eventos se comprometem a ocupar apenas 70% da capacidade dos locais. Os foliões devem apresentar comprovante de vacinação e utilizar máscaras.

Salvador

O carnaval de rua foi cancelado em dezembro de 2021. O Governo da Bahia manteve o expediente normal nas repartições públicas do Poder Executivo estadual, entre os dias 25 de fevereiro e 1º de março de 2022. Os funcionários que não comparecerem terão o ponto cortado na segunda (28), terça (1º) e quarta-feira (2).

Decreto estadual proíbe festas de rua, mas autoriza eventos e atividades para um público de até 1,5 mil pessoas, dentro das normas sanitárias, com apresentação do cartão de vacina e o uso de máscaras. A prefeitura realizará operações especiais de fiscalização, com equipes permanentes nesses locais no sentido de orientar aos cidadãos e evitar aglomerações.

São Paulo

O decreto publicado no Diário Oficial do Estado em 1° de fevereiro definiu ponto facultativo na segunda e terça-feira de carnaval. Na Quarta-feira de Cinzas, o expediente ficará suspenso até o meio-dia nas repartições públicas estaduais, com exceção dos órgãos públicos que prestam serviços essenciais e de interesse público, que tenham o funcionamento ininterrupto. 

O carnaval de rua em São Paulo foi cancelado e os desfiles foram adiados para abril deste ano, respeitando os protocolos sanitários. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, anunciou a decisão no dia 6 de Janeiro de 2022, devido ao crescimento dos casos de ômicron e ao surto de gripe na capital. 

O governador João Dória atribuiu a responsabilidade de fiscalização das festas clandestinas e aglomerações às prefeituras, que devem acionar a Polícia Militar para quem desrespeitar as orientações.

Matéria produzida por Fernanda Bertollini, Giovanna Minarrini, Isabella Alvim e Tainara Diulle

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