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Legenda/créditos: Jornalista Carlos Eduardo Alvim

Carlos Eduardo Alvim: A arte de sonhar e contar histórias 

Diante da tela do notebook, o jornalista Carlos Eduardo Alvim – Cadú para os íntimos -, da TV Globo Minas, fala com os olhos brilhando sobre a sua trajetória desde a infância até chegar ao curso de jornalismo.

Ele relata com empolgação sua aspiração a jornalista desde muito pequeno. Ao falar da infância, Cadú cita a todo momento a figura materna. “Minha mãe sempre dizia que eu era um menino muito curioso, e aos 10 anos eu falei para ela que queria ser repórter.” 

Cadú atuando como repórter em BH / Créditos: Cadú

Natural de Barbacena, que fica a 171 Km de Belo Horizonte e é conhecida como a cidade das rosas em Minas Gerais, ele conta com sorriso envergonhado que, quando chegou à capital mineira para estudar jornalismo, achava que tinha que dar sinal para o metrô parar nas estações. Com a humildade transparecendo em suas feições, Cadú descreve brevemente sua migração de cidade em busca de um sonho e destaca a importância de se fazer jornalismo: “Saí do interior para fazer faculdade, aqui descobri que ser  jornalista é contar histórias, nem sempre histórias com finais felizes, mas de certa forma fazer jornalismo é contar histórias, é falar o que precisa ser dito”. E com muito cuidado ao escolher as palavras que iria dizer, o jornalista discorre sobre os desafios para ascender na carreira. 

Em seu escritório, o jornalista nos mostra detalhadamente um caderninho azul de anotações, que serve como um diário no qual ele relata todas as suas experiências na carreira, desde a sua primeira entrada ao vivo, as suas pautas, alguns relatos pessoais e fotos. Nostálgico, expressa a vontade de retornar a escrever no seu dossiê particular, brincando com a possibilidade de virar livro, talvez em dez anos. 

Relembrando os tempos de universitário, destaca que “na formação acadêmica, eu participava de seminários, eu ia para lugares diferentes, a universidade é importante. Mas não é só ela. Ir a um teatro é tão importante quanto ir a uma aula, ver um filme é importante, você assistir um debate, assistir coisas que as pessoas criticam, é bom. Tem que assistir coisa ruim também, para entender porque que existe o bom e porque que existe o ruim, sabe… Assistir coisas diferentes do que você está habituado, precisamos aprender coisas novas!”

Cadú, que estudou na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e se formou em 2013, conta que nesses dez anos desde que saiu da universidade nunca ficou desempregado, e que assim que pegou o seu diploma já foi logo para a televisão, que sempre foi seu principal objetivo. 

TV, Cadú trabalhou no interior do estado, e depois foi para a TV Integração TV Integração, uma das afiliadas da Rede Globo. A emissora, que está na mira de muitos estudantes de jornalismo de todo o Brasil atualmente, também era um sonho para o jornalista. 

E ele conta o segredo para chegar até lá: “É necessário planejar a carreira desde a faculdade, ser profissional ético e com compromisso.” Cadú expõe que seu plano era fazer reportagens para todos os principais jornais possíveis da Globo e assim alcançar telespectadores de todo o Brasil. “Hoje, aos cinco anos de Globo, eu consegui fazer reportagens nos principais programas de jornal do estado e do país, então estou totalmente realizado, é uma conquista diária e de muito suor.” 

Depois de muita dedicação e de aproveitar as oportunidades que apareceram, ele contribuiu para quase todos os jornais da emissora, como por exemplo: Bom dia Brasil, MG1, Bom dia Minas, Globo Repórter, Hora 1, Fantástico, Terra de Minas e Rolê nas Gerais. Esse reconhecimento e visibilidade contribuíram para sua carreira.

Já ao ser indagado sobre os profissionais que admira e com os quais teve a oportunidade de trabalhar, Cadú parou, abre um sorriso e morde o lábio. Parecendo pensativo e divagando por suas memórias citou Liliana Junger e Sérgio Marques com quem, segundo ele, já teve o prazer de dividir a apresentação do jornal Bom dia Minas. Também menciona nomes como de César Tralli e Maju Coutinho.

Carlos Eduardo Alvim no debate das eleições em 2018/ Créditos: Cadú

Ainda falando da área profissional, destacou, depois de pensar um pouco, dois sonhos que realizou graças a seu trabalho: a compra de seu apartamento e de seu carro próprio. Cadú caminha até o escritório que está sendo montado em seu novo apartamento, mostra a escrivaninha de madeira, com uma janela centralizada em cima, e prateleiras do mesmo material ao lado da porta com diversos livros na vertical e na horizontal, além de duas canoplas com a logo da TV Globo. 

“Planejem onde vocês querem chegar.” Esse é o principal conselho de Cadú para aqueles que estão iniciando na carreira de jornalista, mas ele ainda complementa ao relembrar os momentos de sua carreira pouco antes de se formar na PUC Minas: “Façam estágio, procurem, aprendam e corram atrás.” Ele deixa claro que foi por seguir esse lema que hoje está trabalhando com o que ama – o telejornalismo.

Cadú, com uma voz beirando ao desespero e na mesma velocidade em que ele anda pelo apartamento, insiste na importância de correr atrás daquilo que deseja e na humildade necessária para abrir o coração e buscar aprender. Como se fosse de fato um conselheiro, alerta:

De apresentador a repórter

No decorrer da conversa, o jornalista compartilha os motivos que o levaram a deixar de apresentar o telejornal matinal diário Bom dia Minas. Por mais que trabalhar no estúdio fosse divertido por causa da dinâmica com seus colegas, Cadú sempre gostou de ouvir e contar histórias, então pensou: “Onde essas histórias estão?” E a resposta é que elas estão nas ruas, na vida, do lado de fora. Com essa conclusão, ele decidiu voltar a fazer reportagens. Pois essa é a sua essência, ele ama o jornalismo, porque é a profissão que o permite contar histórias de várias pessoas em diversos lugares. Por meio do trabalho, ele pôde conhecer 800 municípios de Minas Gerais até hoje.

Cadú nos estúdios da Globo Minas/ Créditos: Cadú

Cadú abre um enorme sorriso ao ser perguntado a respeito do quadro “Conte sua história”, que apresentou no MG1 da Globo Minas, durante a pandemia de Covid-19, onde ele ia para algum ponto movimentado da cidade com um banquinho e chamava algum transeunte para se sentar e bater um papo, contar um pouco sua história e quem era. A ideia era fazer um remake de um quadro do jornal do Rio de Janeiro que tinha a mesma proposta, também trazendo um alívio em meio a tantas notícias e criando uma relação mais humanizada com o público, que se identificava com quem estava tendo lugar de fala na televisão.

Quando surgiu a ideia de fazer esse quadro semanal com os mineiros sendo protagonistas, Cadú foi a opção imediata na qual pensaram, pois “tinha tudo a ver com ele”. Várias histórias o marcaram ao longo dos dez episódios. Alguns entrevistados viraram amigos e até mesmo fontes para outros trabalhos. Ele ressalta que esse trabalho foi importante por colocar em pauta diversas questões, como o racismo e suas consequências, o machismo, relacionamentos abusivos, dependência de drogas e um olhar humano sobre pessoas que se encontram por diversos motivos, em situação de rua. Por meio dessa série de entrevistas, ele começou a ser visto e reconhecido nacionalmente, o que possibilitou suas participações nos jornais já citados.

Cadú também teve que cobrir acontecimentos trágicos e tristes, um dos mais marcantes foi a queda do avião onde estava a cantora Marília Mendonça e mais quatro pessoas, onde todos morreram. Ele foi o primeiro de Belo Horizonte a ser enviado pela Rede Globo para o local, e além de ter visto toda a situação, entrou ao vivo no Jornal Nacional. Ao contar como foi chegar lá e perceber o que tinha acontecido, os olhos se enchem de lágrimas e a voz embarga.

Caú em uma matéria para o Jornal Nacional/ Créditos: Cadú

As transformações tecnológicas no jornalismo não passam despercebidas por Cadú. Ao traçar um paralelo com a história da imprensa, ele destaca a passagem do jornal impresso para o rádio e, posteriormente, para a televisão. Longe de substituírem umas às outras, essas tecnologias convergem. Nesse cenário, Cadú enxerga a ascensão de ferramentas como ChatGPT, inteligência artificial (IA) considerada bem-vinda por ele, que ressalta a necessidade de cautela no uso. 

“Qualquer tecnologia pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal’’.

O jornalista enfatiza que o Chat GPT não é capaz de substituir o papel essencial do jornalista. A falta de “coração”, o contato humano, a sensibilidade e a empatia são elementos cruciais que as IA’s ainda não conseguem replicar. Para Cadú, o que torna o jornalismo especial é justamente essa parte sensível. Em um mundo cada vez mais digital, Cadú Alvim encara essas ferramentas como ‘”aliadas valiosas’’, que se usadas da maneira correta, contribuem positivamente para a prática jornalística.

Com uma fala entusiasmada, Alvim relata como o jornalismo é uma profissão importante para a sociedade, pois tem também a função de salvar vidas. Destaca a pandemia de Covid-19 como um exemplo em que o jornalismo teve papel crucial.

Quando perguntado sobre qual opinião possui em relação a pessoas que não têm diploma de jornalista, mas exercem a função, ele pensa um pouco e fala com tom de voz sério. “Em 2009, eu fiz parte da primeira turma que entrou na universidade assim que saiu a lei que decretava a não obrigatoriedade do diploma, o que dificultou até na procura do curso. Mas, de 2009 para cá, eu nunca vi nenhuma empresa de comunicação contratar pessoas sem diploma. Então, mesmo que exista a questão legal, a formação é fundamental.” Ele defende o diploma como importante para a valorização da profissão, que carrega, além de ensinamentos de trabalho, a humanidade e a ética.

Cadú quando trabalhou na TV Record / Créditos: Cadú

Empolgado com a entrevista, de pé, com os olhos distantes, carinhosos e altruístas, ele dá conselhos baseando-se em suas experiências: “Eu acredito muito em vocês, acredito muito no futuro do jornalismo, é muito importante o que vocês trazem de novo! Coloquem a digital de vocês. Fazer diferente é isso, é buscar além do que as pessoas estão buscando, é ver além do que as pessoas estão vendo”.

Esta é a versão simples e otimista de Carlos Eduardo Alvim, que vem construindo a cada dia mais uma parte da sua história profissional e, principalmente, humana. Aquele menino que sonha continua ali, e como ele mesmo diz: “Não existem limites para um sonho, e nada é impossível quando nos dedicamos”. O caderno azul ainda terá histórias para contar.

Conteúdo produzido por Felipe de Paula, Ana Luiza Rodrigues, Danielly Camargos, Leonardo Resende, Samira Silva, Yasmin Danielly. Com a supervisão dos professores Vinícius Borges e Fernanda Sanglard, monitoramento de Felipe de Paula. 

Felipe de Paula

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