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Bertha Maakaroun: Representatividade feminina no jornalismo político

Mulher loira de olhos azuis, usando um blazer preto por cima de uma camisa preta e branca estampada. Está usando brincos de argola dourados e uma maquiagem leve. Expressa um leve sorriso em seu rosto. Está posic’..'ionada em frente a um quadro que apresenta detalhes em azul.

Bertha Maakaroun /Crédito: Leandro Couri

Bertha Maakaroun foi a primeira jornalista mulher a realizar cobertura política para o Estado de Minas, um dos jornais mais lidos de Minas Gerais e antigos do país, fundado em 1928. Por mais que Bertha se destacasse no jornal, por ser, na época, a única mulher a atuar na área, ela nunca colocou isso em destaque, sempre trabalhou prezando por qualificações. Sua trajetória inclui passagens por outras instituições e experiências, iniciando na editoria de Gerais e, posteriormente, trabalhando na Câmara Municipal de Belo Horizonte, sua cidade natal, e na prefeitura, onde adquiriu conhecimento sobre o funcionamento da cidade.

Vida acadêmica

Bertha nem sempre soube qual caminho seguir. Inicialmente começou cursando engenharia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por pressão paterna, mas percebeu, no quarto período, que não estava feliz. Matriculou-se na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) em jornalismo. A princípio, conciliou os dois cursos. Depois, abriu mão da engenharia e fez vestibular na UFMG para letras. Apesar de amar o curso, tornou-se impossível na época compatibilizar jornalismo e letras com a serenidade que desejava, optando por se formar jornalista.

Desde que teve clareza do que queria fazer, soube unir o jornalismo com a política. No começo da década de 1990, fez mestrado em Ciências Políticas na UFMG, com foco em comunicação política e comportamento eleitoral.

Em 1999, começou uma especialização na Universidade de Michigan sobre métodos quantitativos e qualitativos de pesquisa, análise estatística, modelos e aplicação dos métodos de pesquisa em ciências sociais. Realizou doutorado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e defendeu tese sobre comportamento eleitoral, processamento da informação e posicionamento em relação ao voto. A qualificação, na prática jornalística e na pesquisa, auxiliou a formar o próprio instituto de pesquisa.

Jornalismo político

Bertha conta que não iniciou sua carreira no ramo político, mas sim na editoria de Gerais do jornal Estado de Minas. Quando passou a fazer cobertura política local na Câmara Municipal e na Prefeitura de Belo Horizonte, já estava fazendo mestrado. Após defender a dissertação e estabelecer que realmente queria trabalhar na área da política, custou a conseguir uma vaga na editoria. Foi preciso cerca de cinco anos. Era contexto das eleições presidenciais de 1994 quando conseguiu, enfim, ser designada para a política.

Bertha optou por ter uma carreira jornalística de exercício, como ela mesma afirma, no “chão da redação”, mas alguns dos marcos de sua trajetória estão mais vinculados à carreira acadêmica, chegando a dar aulas na PUC durante 12 anos. Também ganhou prêmios, como o Prêmio Esso. Apesar do reconhecimento, ela diz que essa nunca foi uma preocupação, pois sempre prezou por conciliar a pesquisa e a academia com o jornalismo, e não direcionou a carreira a premiações.

Ainda trabalhando no Estado de Minas, que pertence aos Diários Associados, Bertha também é comentarista de política da CBN, pertencente ao Grupo Globo, conseguindo conciliar a atuação nos dois veículos de grupos concorrentes com a autonomia permitida após anos de experiência.

Não há incompatibilidade de interesses nessa atividade, porque, nesta altura da minha carreira, eu alcancei uma relativa independência para trabalhar. Então, eu realmente posso ser muito transparente, muito franca nas minhas análises e não tenho nada a acrescentar, nem pôr, nem tirar, do que eu falo na CBN e do que eu escrevo no Estado de Minas.

Bertha Maakaroun, jornalista e pesquisadora

Mas Bertha afirma que nem sempre foi assim. Se hoje trabalha de maneira mais independente e com menos interferência no conteúdo produzido, é porque lutou muito por esse espaço em outros momentos da carreira.

Representatividade feminina

Bertha lembra que, ao entrar para a editoria de política, deparou-se com um ambiente majoritariamente masculino. Em vez de destacar as dificuldades enfrentadas por ser mulher, ela optou por se concentrar na formação e excelência profissional, demonstrando o quanto o caminho pode ser mais difícil para as mulheres. A busca contínua por qualificação foi uma resposta estratégica para romper esse estigma.

Acho que me ajudou a romper eventuais resistências por ser mulher, numa editoria só de homens, foi exatamente essa preocupação em estar fazendo tudo muito bem feito, porque eu sabia que eu não podia errar. Também estar sempre me aperfeiçoando, buscando estar sempre um passo à frente.

Bertha Maakaroun , jornalista e pesquisadora

A representatividade feminina no jornalismo é uma questão relevante, já que o campo muitas vezes reflete desigualdades estruturais presentes na sociedade. Contudo, em uma época e em um ambiente em que a presença feminina era escassa, Bertha enfrentou os desafios priorizando a excelência técnica e a constante qualificação como forma de consolidar seu espaço. Esse foco ajudou a conquistar respeito.

A trajetória de Bertha representa um passo importante na ampliação da representatividade feminina no jornalismo político, reforça que a presença de mulheres nesse espaço quebra estigmas e contribui para enriquecer as perspectivas e análises nesse campo

Novas direções para o jornalismo

Ampliando as habilidades e mostrando que o jornalismo é só uma parte do que ela faz, Bertha mergulha em atividades de pesquisa e toca projetos que nada têm a ver com a profissão. “Encontro muito prazer nessas iniciativas e sinto que consegui encontrar minhas verdadeiras vocações”, conta.

Para ela, o mais importante é sentir prazer no trabalho. “Não que eu não goste de descansar — eu descanso bastante — mas, para mim, trabalhar é uma alegria, não um fardo”.

Com uma carreira repleta de histórias e desafios, Bertha é a prova de que a paixão pelo que faz não tem idade. “Estou cheia de disposição e quero seguir ativa, fazendo o que faço de melhor, enquanto tiver clareza na mente.” Para ela, o foco agora é manter a chama acesa, explorando novas possibilidades e fazendo aquilo que mais ama.

Como jornalista política, Bertha diz que em diversos momentos precisa manter o equilíbrio em seu ofício. Segundo ela, “é muito importante manter o seu emocional afastado da cobertura”, afinal, “todos temos nossas preferências e afinidades”. Ela defende analisar os fatos com base na racionalidade e não na oposição

Se eu estou no âmbito da cobertura, da análise, da escrita, é como se eu trancasse essas emoções e sentimentos lá fora e eu tenho que ser fria para fazer análise sem emoção”

Bertha Maakaroun, jornalista e pesquisadora

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Este perfil foi produzido por Alice Sena, Cecília Rodrigues, Jamilly Flores, Mariana Figueiredo e Maria Clara Corrêa, sob supervisão da professora e jornalista Fernanda Sanglard na disciplina Apuração, Redação e Entrevista. A monitora Izabella Gomes colaborou com a edição digital. 

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