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Debaixo do Viaduto Santa Tereza, em BH, a plateia prestigia o Duelo de MCs Nacional
Debaixo do Viaduto Santa Tereza, em BH, a plateia prestigia o Duelo de MCs Nacional (Foto: Pablo Bernardo / Família de Rua)

Belo Horizonte: a casa do Duelo de MC’s Nacional

Conheça a história do torneio de rimas que coloca frente a frente os melhores MC’s do Brasil

Considerado um dos maiores cartões postais de Belo Horizonte, o Viaduto Santa Tereza liga os bairros Santa Tereza e Floresta e é também um elo entre a população da cidade e o hip hop. O local é casa do Duelo de MC’s Nacional, o maior torneio de batalhas de rima do Brasil. O evento, que reúne os melhores rimadores do país, promove a cultura e o lazer e é o sonho de muitos rappers.

Leonardo Cezário, o Léo, é membro da Família de Rua, grupo que criou e organiza o evento desde 2007. Em agosto daquele ano, ele estava entre os fundadores do coletivo, que se uniu em prol da cultura de rua em BH. Até 2012, eles desenvolviam apenas duelos locais. Porém, decidiram expandir o projeto e realizar um evento com alcance nacional.

A gente já tinha uma rede forte em alguns estados e começamos a realizar o Duelo Nacional em 2012, com essa proposta de conectar mais estados, de alcançar os recursos por meio das leis de incentivo à cultura.

Leonardo Cezário, do Família de Rua

Em 2012, a Família de Rua e o instituto Oi Futuro produziram um documentário sobre a primeira edição do evento:

Documentário desenvolvido pelo Oi Futuro e a Família de Rua sobre o Duelo de MC’s

Duelo de MC’s já revelou talentos do rap

Em 2017, Cesar MC e Drizzy protagonizaram uma das mais aclamadas finais da história do Nacional (Foto: Família de Rua)

Mais do que um prêmio, o Nacional é uma porta de entrada no mundo do rap. Hoje, ex-campeões do torneio colhem os louros de seus títulos.

Orochi, vencedor em 2015, é o mais famoso deles. MC mais popular do Rio de Janeiro na atualidade, soma mais de um bilhão de visualizações no YouTube e é o autor de faixas como “Balão” e “Amor de Fim de Noite”.

MC Sid, campeão em 2016 e famoso por músicas como “Assalto a Mão Letrada” e “Brasil de Quem”, é outro que viu o sucesso bater à porta. O brasiliense de 24 anos considera que o evento foi o pontapé de sua carreira:

“O Nacional de 2016 foi onde tudo começou. Antes, eu tinha uma relevância regional e, com o título, ganhei visibilidade e consegui levar meu trabalho para novos lugares”.

MC Sid
MC Sid se apresentando no Duelo Nacional de 2017 (Foto: Família de Rua)

O rapper também destacou o seu carinho por Belo Horizonte e pelo Duelo: “Desde que eu participei, todo ano eu volto. Já teve anos em que minha gravadora ajudou e patrocinou o evento. Eu tenho um carinho muito grande. Belo Horizonte é um lugar onde as batalhas de rima são muito reais. É tudo muito autêntico e verídico. A cidade tem uma importância indiscutível na cena do freestyle. Se hoje a Família de Rua acabasse, o movimento teria uma perda enorme”.

Douglas Din – maior campeão do Duelo, com dois títulos -, e Cesar MC são outros vencedores que obtiveram grande prestígio.

Djonga, símbolo do rap e da luta racial no Brasil, é outro músico que destaca a importância do evento. Em sua entrevista ao programa “Conversa com Bial”, que foi ao ar no dia 17 de novembro de 2020, o MC disse que começou a rimar e desenvolver seu lado artístico no evento, por volta de 2008.

Eu sou muito grato à Família de Rua e a toda movimentação do hip hop que já tinha aqui [em Belo Horizonte] antes de mim.

Djonga, no programa Conversa com Bial, da Rede Globo

Confira na íntegra à final do Duelo de MCs Nacional de 2016:

Falta de apoio impacta organização do Duelo de MC’s

Mas, ao contrário do que muitos podem pensar, segundo Léo Cezário, organizador do evento, o Nacional caminha sem auxílio financeiro estatal.

“Não há nenhum incentivo do governo que dê manutenção ao Duelo de MCs, à Família de Rua e aos projetos do grupo. Nenhum aporte estatal. Tem as leis de incentivo e os editais, que a gente consegue trabalhar com prospecção, mas não é uma garantia”, lamenta Léo.

Marcados por um 2020 atípico, com a pandemia, os organizadores do Nacional tiveram que fazer o que sabem de melhor: improvisar. “A pandemia foi um baque muito forte no nosso processo. Nós estávamos bem organizados. Começamos o ano planejando com antecedência”, disse Léo.

Apesar da nova realidade imposta pela COVID-19, diversas batalhas ao redor do país já estão retornando suas rotinas. Com a necessidade de se reinventar, elas vêm cumprindo um papel de proporcionar entretenimento para milhares de pessoas que enxergam nesse fenômeno uma fonte de lazer em um momento tão conturbado.

Reunindo mil e quinhentos MC’s dos 26 estados e do Distrito Federal, o evento conta com vinte e seis encontros classificatórios, todos transmitidos ao vivo na Twitch TV e disponíveis na íntegra no canal do Youtube do grupo Família de Rua.

Em cada um, oito concorrentes disputam o título da seletiva e a vaga para o grande Duelo, em BH. Devido a problemas técnicos agravados pela pandemia, Léo Cezário ainda revelou que a grande final está sujeita a acontecer apenas em 2021.

Reportagem desenvolvida por Álvaro Vieira, Filipe Sodré, João Victor Pena, Pedro Leite e Rafael Silva para a disciplina de Jornal Laboratório, no semestre 2020/2.

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