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Basquete Nacional: nova geração transforma a modalidade

Entenda como o basquete se reinventou no Brasil e está conquistando o coração dos mineiros

O basquete brasileiro está em alta. Longe de ser apenas um coadjuvante no cenário esportivo, a modalidade conquista cada vez mais espaço e, impulsionada pelo Novo Basquete Brasil (NBB), vive uma era de revitalização. O som da bola quicando, dos tênis na quadra e das cestas ecoa mais alto, e a prova desse fenômeno está nas arquibancadas sempre lotadas, no aumento da atenção da mídia e no desempenho consistente dos times que elevam o padrão de jogo a cada temporada.

Esse movimento nacional ganha contornos ainda mais vibrantes em Minas Gerais. No centro dessa revolução, o Minas Tênis Clube emerge como um dos grandes protagonistas, transformando os jogos de basquete em um dos eventos esportivos mais contagiantes da capital mineira. A tradicional equipe não brilha apenas nas quadras, mas também arrasta um público apaixonado, provando que a “bola laranja” tem um lugar cativo no coração dos mineiros.

Crédito: Hedgard Moraes/MTC

Da nostalgia à nova era: a virada do basquete nacional

Por décadas, o basquete brasileiro viveu do seu glorioso passado. A geração de ouro, que encantou o mundo nas décadas de 1980 e 1990, com Oscar Schmidt, e a seleção que ganhou dos Estados Unidos nos Jogos Pan-Americanos de 1987, com Hortência e “Magic Paula”, deixaram um legado, mas as quadras, antes palco de rivalidades épicas e ginásios lotados, começaram a ficar vazias. A partir dos anos 2000, o basquete de clubes entrou em uma fase de incertezas, com ligas intermitentes e perda de espaço na mídia. O esporte parecia caminhar para o esquecimento, ofuscado pelo futebol e até mesmo pelo vôlei. A torcida, que antes gritava por Oscar e Hortência, se distanciava, e os espaços que deveriam ser ocupados por novas estrelas se tornavam cada vez mais vazios.

O desinteresse do público refletia-se na escassez de investimentos e na falta de projetos estruturados. Sem uma liga estável, os campeonatos eram marcados por disputas regionais desorganizadas e sem grande apelo nacional. A popularidade do basquete, antes um fenômeno de massa, foi se diluindo à medida que o esporte se distanciava de sua antiga grandiosidade. Sem uma administração eficiente, o esporte perdeu protagonismo, e os poucos atletas de destaque começaram a emigrar para ligas mais competitivas, em busca de uma visibilidade que o Brasil já não conseguia oferecer.

Em meio a esse cenário, o basquete brasileiro parecia à beira de uma crise irreversível. A ascensão do vôlei, que passou a ser o principal rival do futebol nas atenções do público, e a crescente invisibilidade do basquete nas grandes mídias indicavam que o esporte, se não fosse reinventado, poderia ser esquecido por novas gerações. Porém, essa era de decadência também plantou as sementes para o renascimento do esporte no Brasil.

Foi nesse contexto de crise e necessidade de reinvenção que surgiram os primeiros sinais de mudança. O  Novo Basquete Brasil (NBB), criado em 2008, foi o início dessa transição, com um modelo de gestão mais profissional e a promessa de devolver o brilho ao esporte. A partir desse ponto, o basquete nacional se reergueria, não apenas tentando reviver os tempos de ouro, mas buscando uma nova identidade e um futuro promissor.

Crédito: Maria Clara Ottoni

NBB: o salto para a profissionalização

Em 2008, a Liga Nacional de Basquete (LNB) foi criada com um propósito claro: resgatar a credibilidade do esporte e estruturar uma competição de alto nível. Diferente dos formatos anteriores, o Novo Basquete Brasil (NBB) nasceu com uma gestão mais profissional, inspirada nas grandes ligas internacionais, como a NBA, focada em marketing, transparência e, sobretudo, na paixão do torcedor. 

LNB (Liga Nacional de Basquete) é a entidade que organiza a competição de basquete e o NBB (Novo Basquete Brasil) é o nome do campeonato em si. É uma associação civil sem fins lucrativos, formada pelos próprios clubes de basquete do país. Foi criada para organizar o campeonato (NBB), definindo seu formato, estrutura técnica e comercial. Tornar o basquete brasileiro mais forte e atraente, buscando patrocínios, captação de recursos e o desenvolvimento de novos talentos por meio do NBB e da Liga de Desenvolvimento de Basquete (LDB). Já a NBB é o campeonato, a competição principal e de elite do basquete masculino no Brasil, que é organizada e promovida pela LNB.

Pela primeira vez, os clubes passaram a ter voz ativa nas decisões administrativas, o que garantiu maior autonomia e responsabilidade na condução do campeonato. O novo formato trouxe avanços significativos: calendário fixo, padronização técnica, maior investimento em marketing e comunicação, transmissões ao vivo pela televisão e, mais recentemente, por plataformas digitais, ampliando o alcance da liga para novos públicos. A transparência na gestão e a valorização do espetáculo, com ações voltadas ao torcedor, patrocínios estratégicos e desenvolvimento da identidade visual dos times, foram fundamentais para reconectar o público com o basquete nacional.

Entre os profissionais da área, é consenso que o  NBB não apenas reestruturou a elite do basquete brasileiro, mas também impulsionou melhorias nas categorias de base, infraestrutura e formação de atletas e técnicos. Em pouco mais de uma década, a liga se consolidou como o principal campeonato de basquete da América do Sul, revelando talentos, atraindo investimentos e recolocando o Brasil no mapa da modalidade.

A juventude no basquete

Os jovens estão entre os principais consumidores de basquete no Brasil e no mundo, e são também público de interesse das ligas de base para a prática profissional do esporte.. Com as oportunidades trazidas pelo basquete, muitos jovens estão saindo de casa, mudando de cidade ou estado para jogar basquete em busca de uma carreira profissional, apostando também na possibilidade de mudar a realidade de suas famílias.

Um exemplo é o pivô do Minas e da seleção brasileira Wini Silva. Aos 20 anos, o atleta, finalista dos prêmios de Sexto Homem do Ano e Maior Evolução e vencedor do Prêmio Destaque Jovem do Novo Basquete Brasil (NBB CAIXA) 2024/25, também conquistou  a medalha de ouro no “Globl Jam” com a seleção brasileira em agosto de 2025. Para Winicius, a construção da paixão pelo basquete começa na cabeça do jovem:

Crédito: Marcius Azevedo LDB








“Eu acho que é muito uma questão cultural também, de ter grandes ídolos, sabe? O futebol tem o Neymar, todo mundo quer ser o Neymar. Mas não é em todo lugar que tem uma quadra de basquete, entende? ”

Para ele, cada vez que alguém tem a oportunidade de conhecer e saber o que é o basquete, já é um caminho para evolução do esporte no país: “Eu costumo até brincar com os caras, eu tenho certeza que tem um Michael Jordan, um Lebron James escondido pelo Brasil, no Piauí, no Acre, Amazonas, mas que ele nunca viu nem vai ver uma bola de basquete, uma cesta”, lamenta Wini.

A consolidação em Minas: o modelo de crescimento

Créditos: Maria Clara Ottoni

O gerente de basquete do Minas, Daniel Westin afirma: “O profissionalismo da Liga ajuda na longevidade do projeto de basquete dentro do Minas, porque mostra que é um produto interessante para ser investido”. Segundo ele, essa sinergia entre a solidez da liga e a capacidade de gestão dos clubes locais é um dos ingredientes da receita que está garantindo a consolidação do basquete não só em Minas Gerais, mas em todo o país.

Flávio Davis, técnico principal da base do Minas, afirma que a presença da torcida na arena nunca foi tão grande, e que isso está atrelado aos ótimos resultados que o clube vem tendo nos últimos campeonatos. Ele afirma, no entanto, que há algo mais que cativa quem vai assistir aos jogos: “A gente que já está no basquete há bastante tempo sabe que quem vem assistir uma partida de basquete não vem só assistir, ele se emociona e acaba sendo picado por uma mosquinha chamada paixão pelo esporte e pelo basquete, e ele volta porque é um esporte que tem jogadas bonitas, que tem emoção, que tem lances interessantes, e passa a ser um show”. O técnico ainda comentou sobre como os dias de jogos tem se tornado eventos, assim como na NBA. “O marketing das equipes faz um ótimo trabalho porque acabam trazendo não só o atrativo da equipe, mas também o show que envolve tudo isso, eventos no intervalo, a torcida participando, luz, telão, imagem, o que faz com que o público se encante, e volte sempre”.

Apesar do crescimento da modalidade no Estado, as quadras e os times ainda são escassos. A base está a todo vapor, mas ainda não há uma grande rivalidade e nem tantas opções de locais para se assistir um jogo de basquete.

Crédito: LNB


“Há 30 anos são os mesmos clubes fazendo basquete em Belo Horizonte. Não teve nenhum incentivo, não teve nada. Você tem escolinhas, você tem projeto social, mas você não tem clube de formação, clube de competição”, lamenta Thiago Perez, ex-atleta e técnico de basquete do Cruzeiro.

Ele conta que, em Belo Horizonte, uma nova arena está surgindo no Barro Preto, proporcionando novas oportunidades para os torcedores e jogadores. “A partir de agora, todos os dias, eles estão pisando dentro do Cruzeiro”. 

O crescimento do nível do NBB é perceptível, como afirma João Lazier, assistente técnico da equipe principal do Minas: “O nível (do NBB) está aumentando, os times estão ficando cada vez mais estruturados. Esse próximo NBB agora vai ser o maior de todos, com o maior número de equipes, então, o basquete está crescendo como um todo”. Esse maior holofote para os atletas, comissão, clubes, serve tanto como uma pressão para os atletas, quanto como motivação. “É uma pressão que a gente quer, porque quanto mais a expectativa sobe, maior vai ser a pressão, e isso só acontece por bons resultados” disse João Lazier. 

Evolução técnica do esporte

Crédito: Hedgard Moraes/MTC

A evolução do basquete brasileiro não se resume apenas à paixão nas arquibancadas, ela se traduz em um avanço notável na preparação e estratégia dentro de quadra. O nível técnico da liga hoje é resultado de um trabalho meticuloso e profissional. O assistente técnico João Lazier explica que a comissão técnica do Minas tem “um trabalho que já é pré-determinado antes da temporada”. Essa preparação é detalhada e colaborativa, com a comissão técnica se dedicando a “vídeos de análises individuais ao adversário” e ao grupo, entregando aos atletas cerca de seis documentos com o plano de jogo e análises dos adversários antes de cada partida. 

O trabalho de desenvolvimento também é constante, com conversas individuais para entender o que os jogadores pensam, como eles estão se sentindo, sempre pedindo feedback. A partir de um trabalho de contato humano diário, eles garantem que a equipe evolua em conjunto. Para o pivô Winicius Silva, essa profissionalização, visibilidade e crescimento se retroalimentam: “Quando a mídia melhorar, mais torcedores forem assistindo, vai movimentar mais dinheiro. Aí, consequentemente, os times vão ter mais dinheiro, vão conseguir se estruturar melhor pra ficar mais tempo na liga”. 

Paulo Alberto, preparador físico do Franca, time com uma tradição enorme no basquete, afirma: “A evolução técnica e tática é notória no cenário nacional, os treinadores vêm se aperfeiçoando muito a cada temporada, desde a base até o adulto. Com o fácil acesso a jogos internacionais e até intercâmbio de treinadores e atletas pelo mundo, o basquete nacional vem colhendo excelentes frutos”. Segundo ele, há também excelentes atletas comprometidos com o trabalho e que têm valores que são essenciais para a equipe.

Reportagem desenvolvida por: João Paulo Profeta e Maria Clara Ottoni.

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