Como o Barcelona, um dos maiores times do mundo, se tornou exemplo de má gestão
Dois presidentes presos, dívidas bilionárias e eliminações humilhantes têm definido a história recente do Barcelona. Antes referência em gestão e qualidade esportiva, atualmente, o clube está passando por uma fase difícil que parece ainda demorar muito para passar.
Barcelona é um clube espanhol, da região da Catalunha fundado em 1899. 26 vezes campeão da liga espanhola e cinco vezes campeão da Liga dos Campeões, é uma das equipes mais vitoriosas do mundo. Já teve no elenco craques brasileiros como Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Rivaldo e, mais recentemente, Neymar.
Histórico de problemas
Tudo começou em 2010, com a eleição de Sandro Rosell como presidente do clube. Ele entrava no lugar de Joan Laporta, que teve em seu mandato a “era de ouro”, marcada por quatro títulos nacionais, três títulos europeus, tendo revelado e estabelecido Lionel Messi como um dos melhores jogadores do mundo. Embora seu início tenha sido de sucesso, em 2014 as coisas começaram a dar errado. Rosell renunciou em meio a investigações de lavagem de dinheiro e acabou sendo preso em 2017.
O novo presidente, Josep Bartomeu, chegou com um plano de reestruturação de um já endividado Barcelona e com a meta de atingir €1Bi de receita até 2021, tendo que fazê-la crescer em 12% por ano.
A meta era ousada, mas estava sendo alcançada. De 2015 a 2016, o Barcelona reduziu a dívida do clube e se tornou o time de futebol que mais fazia dinheiro no mundo. Para se ter uma ideia da magnitude, a renda apenas comercial dos catalães era maior do que a renda total do Atlético de Madrid, um dos maiores times da Espanha.
A partir de 2017, levando em conta a alta arrecadação, Bartomeu decidiu mudar seu plano de ação, passando a gastar muito. Daí em diante, o Barcelona foi marcado por uma folha salarial exorbitante e contratações milionárias de jogadores que acabaram não rendendo tanto em campo, como Philippe Coutinho, que custou €145 Mi e de 2018 para 2021 marcou apenas 23 gols, passando os últimos quatro meses afastado por lesão. Além disso, desde 2019 o clube passa por uma reforma geral de infraestrutura, que ampliará o número de cadeiras de seu estádio Camp Nou de 99 mil para 105 mil e modernizará seu centro de treinamento e escola de formação de jovens jogadores. O jornal Marca estima que o custo total da obra será de mais de €470 Mi.
Muito criticado pelos seus gastos, o Presidente do clube teve que lidar também com a antipatia de jogadores, inclusive os ídolos do clube Lionel Messi e Gerard Piqué, além de membros da diretoria, que pediram demissão.
O momento em que tudo deu errado
Por mais contestada que fosse a estratégia econômica, até 2020, o Barcelona era um clube sustentável, com receitas que sempre batiam as metas estabelecidas. Mas a pandemia chegou, e a renda caiu drasticamente – os gastos, porém, não diminuíram.
Com o elenco insatisfeito com a diretoria e uma dívida enorme se acumulando, a ilustração perfeita do momento foi a goleada sofrida pelo Barça contra o Bayern de Munique de 8 a 2, em agosto de 2020 pela Liga dos Campeões. Após a derrota, fontes de dentro do Barcelona informaram à revista Marca que Messi queria sair do time em razão da má gestão de Bartomeu, informação confirmada por ele em entrevista ao portal Goal.
O escândalo de Barçagate
No dia 1° de março de 2021, já com Bartomeu fora do cargo após renúncia, surge a notícia de que ele e outros três ex-dirigentes do Barcelona estavam sendo detidos numa operação policial chamada Barçagate. De acordo com a rádio espanhola CadenaSER, a empresa I3 Ventures foi contratada pelo clube para fazer administração de mídias sociais, porém, teriam feito um ataque de fake news a figuras famosas do Barcelona que criticaram a gestão de Bartomeu. A rádio apontou que a empresa, cujo valor de mercado é em volta €100 Mil, teria recebido €1 Milhão pelo serviço, em pagamentos parcelados de menos de €200 Mil, justamente o valor limite para gastos sem necessidade de justificativa ao departamento financeiro do clube.
Os crimes cometidos seriam de administração desleal, que seria o gasto desnecessário do dinheiro de uma empresa, e corrupção, trabalhando a hipótese de Bartomeu e os outros três dirigentes estarem recebendo comissão pelo pagamento excessivo. Os acusados foram soltos no dia seguinte à sua detenção e o caso ainda está em andamento. O principal alvo desse ataque foi Lionel Messi, rosto do movimento contra Bartomeu dentro do clube, que declarou ao portal Goal que foi pego de surpresa e não pretende falar muito a respeito, apenas esperar o final do processo.
A prometida renovação
Chamado por jornalistas espanhóis de “John Kenndedy catalão” por seu carisma e sua oratória, Joan Laporta é o novo presidente eleito desde 7 de março de 2021. Laporta é um velho conhecido pois, como mencionado, foi presidente da “era de ouro” do time, e também é famoso por ser uma pessoa extremamente política.
Em início de trabalho no Barcelona, Laporta tem falado pouco sobre seu projeto para os próximos anos, seu braço direito de longa data e vice Rafael Yuste, porém, comentou em entrevistas para o jornal La Vanguardia e o ao portal FCBN sobre os planos da nova “era Laporta”: a ideia é aproximar a diretoria da equipe para gerar confiança mútua entre as partes e ter funcionários felizes, algo que, de acordo com o profissional, se perdeu nos últimos anos.
Em relação a gastos, Yuste relatou que a gestão será mais responsável e isto começará nas contratações: “No momento, com uma dívida de 1 bilhão, é irresponsável a compra de jogadores caros” declarou ao Portal FCBN . Apaixonado pela academia de formação de jogadores do Barcelona, ele acredita que os reforços da equipe no futuro próximo serão vindos desta e ainda menciona que sonha com um time inteiro de titulares formados em casa. A compra de novos jogadores não foi descartada, mas, segundo ele, é algo para se pensar no futuro, em um momento em que não estiverem mais endividados.
O vice também falou sobre Messi, apostando em sua permanência e alegando que o argentino gostará da gestão de Laporta. Mesmo com futuro incerto, ele foi pela primeira vez em sua carreira votar nas eleições, demonstrando preocupação com o futuro da equipe que o formou. Preocupação compartilhada pelos sócios, que compareceram em número recorde às urnas, evidenciando a necessidade de mudança, prometida pela nova administração.
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