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Ancelotti se despede da torcida do Real Madrid no Santiago Bernabeu. (Foto: Real Madrid)

Aposta em Ancelotti esquenta discussão sobre estrangeiros no futebol brasileiro

Um dos maiores técnicos do mundo, o italiano dará uma pausa em sua vitoriosa carreira por clubes para assumir a seleção brasileira

Carlo Ancelotti é o novo técnico da seleção brasileira. Após o fim de sua segunda passagem pelo Real Madrid, onde conquistou duas Champions League e dois títulos de La Liga, Carletto chega com a missão de conquistar o tão sonhado Hexacampeonato da Copa do Mundo em 2026. Com 21 pontos em 14 jogos, o Brasil está na quarta posição nas Eliminatórias da Copa, competição onde apenas a Argentina já está classificada. Restando apenas quatro jogos para o fim da competição, a seleção brasileira precisa de apenas 50% de aproveitamento para garantir a vaga direta.

Sua estreia pela seleção será no dia 5 de junho contra o Equador no Estádio Monumental Banco Pichincha, em Guayaquil. Depois disso, enfrenta o Paraguai na NeoQuimica Arena, o Chile em estádio ainda não definido, porém no Brasil e encerra sua participação na competição contra a Bolívia no Estádio Hernando Siles, em La Paz, capital do país, no dia 14 de setembro. 

Com 31 títulos, Ancelotti é o sexto técnico mais vencedor da história do futebol. Experiente, versátil e bom de grupo, o italiano de 65 anos é muito querido pelos jogadores com os quais já trabalhou. De volta a Seleção, o centroavante Richarlison teve essa oportunidade na temporada 2019/20, quando atuava pelo Everton, e se derreteu pelo treinador: “Ganhou tudo na Europa. Se ele vier, vai nos ajudar muito. Brigaríamos, com certeza, por todos os títulos. Me ajudou muito no Everton, eu me sentia um fenômeno na mão dele, fazia gol sem parar. Se o presidente fechar com ele, vai nos ajudar muito”, disse em entrevista coletiva realizada em junho de 2023 durante a Data FIFA.

Outro a elogiar o novo técnico foi Raphinha. Candidato à Bola de Ouro e rival direto de Ancelotti na La Liga, o camisa 11 do Barcelona falou sobre sua admiração ao italiano: “Um cara que admiro muito, a carreira dele, tudo aquilo que ele alcançou no futebol por mérito dele, das equipes que ele treinou”, comentou em entrevista para a ESPN. Os brasileiros Eder Militão, Rodrygo, Endrick e Vinicius Junior trabalharam com Ancelotti em sua passagem histórica pelo Real Madrid, e sob seu comando foram 11 títulos em quatro anos. Sempre com uma relação muito próxima de seus jogadores, o comandante faz questão de exaltá-los em entrevistas e nas mídias sociais, como fez após a cerimônia da Bola de Ouro, na qual Vinícius perdeu para Rodri e ficou na segunda posição entre os melhores do mundo: na ocasião, o técnico fez um post em seu Instagram abraçando o brasileiro e se declarou: “Te quiero, Vini.”

Em suas mídias sociais, Rodrygo, Vinicius Junior e os demais jogadores do Real Madrid se despediram do treinador e agradeceram os ensinamentos: “Vamos continuar escrevendo nossa história juntos, te amo Mister” e “você não é só um treinador. Você é um mentor e amigo” foram as palavras utilizadas por Rodrygo em seu post. Vinícius finalizou sua declaração com “Te espero no Brasil.” Carlo Ancelotti dá lugar a Xabi Alonso no comando do maior clube do Mundo. O novo técnico foi apresentado na segunda, 26, e conversou com jornalistas. O espanhol de 43 anos é ex-jogador do Real Madrid e foi treinado por Ancelotti. Juntos, conquistaram a “La Décima”, a Champions League, em 2014/15. Sobre Ancelotti, mostrou muito respeito e admiração: “Sem sua maestria, provavelmente eu não estaria aqui”.

Ancelotti se despediu do Real Madrid no sábado, 24 de maio, na vitória por 2 a 0 contra o Real Sociedad. A partida também marcou a despedida de Luka Modric, ídolo histórico do clube merengue e coroou o francês Kyllian Mbappé com a Chuteira de Ouro, que premia o artilheiro das ligas europeias na temporada. O italiano chegou ao Rio de Janeiro no domingo, 25, onde se encontrou com Rodrigo Caetano, diretor de futebol da CBF, e Samir Xaud, novo presidente da CBF.

Apesar da carreira vitoriosa, contratação de Ancelotti gera debates no mundo do futebol

A contratação do treinador, apesar de muito elogiada por alguns, também é vista como polêmica. Ex-jogador e heroi do Penta em 2002, Rivaldo foi um dos que se posicionaram contra a vinda do italiano. Em suas mídias sociais, o camisa 10 opinou: “todos os nossos cinco títulos mundiais foram conquistados com treinadores nacionais.” Cafu foi outro campeão de Copa a falar sobre a contratação do treinador e, apesar de rasgar elogios ao italiano, disse preferir que a seleção seja treinada por um brasileiro: “Vencemos cinco vezes sem precisar de um estrangeiro”, disse em entrevista ao jornal Sport. Porém, nos últimos anos, o futebol brasileiro tem passado por um debate sobre treinadores estrangeiros. Desde 2019, quando Jorge Jesus foi campeão da Libertadores e do Brasileirão com o Flamengo e Jorge Sampaoli encantou o Brasil com o futebol ofensivo e intenso do Santos, nota-se um aumento considerável no número de treinadores nascidos em outros países treinando times brasileiros, principalmente argentinos e portugueses.

Levantamento feito pela reportagem indica que se, entre 2003 e 2018, apenas 17 técnicos estrangeiros haviam passado pelo futebol brasileiro, entre 2019 e 2025 esse número triplicou: no período, 55 treinadores gringos passaram pela série A do Brasileirão. Em 2023, pela primeira vez na história, a competição teve mais técnicos de fora do que brasileiros no comando das equipes. Na ocasião, apenas nove dos 20 eram nascidos no Brasil. Entre os outros 11, sete eram portugueses e quatro, argentinos. Desde o sucesso de Jorge Jesus em 2019, o Santos é o time que mais teve técnicos estrangeiros, com seis no total. Atlético e Flamengo vêm logo atrás, com cinco. No Brasileirão 2025, os brasileiros voltaram a ser maioria, com 14 técnicos.

Febre entre os clubes: chegou a hora de um estrangeiro voltar à Seleção?

Essa “invasão” estrangeira no futebol brasileiro tem gerado intensas discussões nas redes sociais e nos programas jornalísticos. O sucesso de treinadores como Jorge Jesus no Flamengo, Abel Ferreira no Palmeiras e Artur Jorge no Botafogo consolidou os portugueses no mercado do futebol brasileiro e tornou essa estrangeirização um caminho sem volta na série A do Brasileirão. O debate fica mais complexo quando o assunto é seleção brasileira. Na história, apenas três técnicos de fora haviam comandado a Amarelinha, sendo que o último deles foi há quase 60 anos.

Pentacampeão do Mundo, o Brasil nunca precisou importar treinadores para conquistar títulos, e não obteve nenhum sucesso com os três estrangeiros que haviam comandado a equipe anteriormente: o primeiro deles foi o uruguaio Ramon Platero que, em 1925, treinou o Brasil em apenas quatro jogos, dos quais venceu dois, empatou um e perdeu um. Na ocasião, foi vice-campeão da Copa América e saiu da seleção para se destacar em clubes brasileiros. O português Joreca veio 20 anos depois, em 1944. Na época comandante do São Paulo, ele se juntou ao Brasileiro Fábio Costa no comando técnico para treinar a seleção em dois amistosos contra o Uruguai, nos quais o Brasil goleou por 6 a 1 e 4 a 0. Após a experiência, ele voltou ao São Paulo, onde até hoje é considerado um dos maiores treinadores da história.

O argentino Filpo Núñez foi o último gringo a comandar a Amarelinha, em 1965. Na época técnico do Palmeiras, famoso por bater de frente com o Santos de Pelé, o treinador recebeu uma proposta da Confederação Brasileira de Desportos para que o elenco alviverde disputasse um amistoso contra o Uruguai representando a seleção, para a partida que marcaria a inauguração do Estádio Mineirão em Belo Horizonte. Vestindo a Amarelinha, o Palmeiras de Núñez venceu por 3 a 0 e depois voltou a São Paulo, onde terminou de consolidar a ‘Primeira Academia’ (1961-70), uma das épocas mais gloriosas do clube paulista.

Sessenta anos e três títulos de Copa do Mundo depois, a Seleção Brasileira de Futebol volta a ter um treinador estrangeiro. O Brasil vive um momento ruim e vem de muitas eliminações amargas na Copa. No futebol nacional, Parreira (2003-2006), Dunga (2006-2010, 2014-2016), Mano Menezes (2010-2012), Felipão (2014-2016), Tite (2016-2022), Ramon Menezes (2023), Fernando Diniz (2023) e Dorival (2024) já foram chamados para tentar conquistar a Copa, mas não alcançaram o objetivo. A expectativa dos brasileiros para a Copa de 2026, 24 anos depois de seu último título, é que um treinador vencedor de fora possa conduzir a Seleção para o tão sonhado Hexacampeonato da Copa do Mundo.

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Arthur de Pinho Tavares Silva

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