Na manhã do dia 29 de março, Adriana Spinelli nos recebeu em sua casa na região Noroeste de Belo Horizonte para uma conversa. Antes mesmo de colocarmos todos os gravadores e câmeras para funcionar, ela já contava a história de sua primeira entrevista, quando ainda era estudante de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Na ocasião, Eva Wilma estava no Palácio das Artes, Adriana Spinelli a abordou e conseguiu uma exclusiva com a atriz. Mas não contava que a sua fita cassete a deixaria na mão e o material acabaria perdido. Esse aviso sobre a atenção que é necessária com a gravação de uma entrevista seria apenas a primeira das diversas lições que Adriana nos ensinaria naquele dia.
Nascida e criada em São João del-Rei, cidade da região Sudeste de Minas Gerais, a experiente jornalista de 57 anos se formou na PUC Minas. Atualmente, trabalha como Superintendente de Comunicação no Clube Atlético Mineiro, com passagens pela Rádio Capital, Rede Globo, TV Alterosa e Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais (TRT).
“Ser jornalista é ter uma vida dura, difícil, uma vida sem rotina, e é tudo isso que eu amo” – Adriana Spinelli, jornalista
Quando perguntada sobre a inspiração no jornalismo, a profissional cita um dos maiores talentos que já passou pela TV Globo: Glória Maria. Com cerca de 15 anos de idade, Adriana já tinha a curiosidade inerente aos profissionais da comunicação. Ela conta que Glória Maria estava fazendo uma reportagem em São João del-Rei e decidiu abordá-la. “Ela estava sentada no meio-fio e eu sentei do lado dela e comecei a perguntar o que ela estava escrevendo, ela disse que estava escrevendo uma matéria e eu perguntei o que era uma matéria, e então ela começa a me explicar. Eu sempre fui cara dura.”
Adriana deixa claro que nasceu jornalista. “Na minha casa, nunca existiu a dúvida ´– O que Adriana vai ser quando crescer?´ A dúvida era onde eu iria estudar jornalismo, em BH ou São João del-Rei.” Ela conta que sua mãe, que era professora, percebeu o dom para a escrita da filha e a presenteou com uma máquina de escrever. Foi quando ela passou a escrever diários que até hoje são objeto de leitura nas reuniões em família. Todavia, não eram apenas diários com relatos pessoais. Adriana cobria os acontecimentos nacionais de acordo com sua perspectiva e tinha a habilidade de traduzir as obras cinematográficas e literárias da época para a realidade da sua cidade. Ela cita “Ferrovia”, uma história de ficção que ela mesmo escreveu, tendo como inspiração o cinema de catástrofe que dominava as telas daquele momento, mas adaptada para o seu cenário cercado por linhas ferroviárias.
Carreira
A primeira oportunidade de Adriana Spinelli no jornalismo foi fruto dessa desenvoltura para a comunicação. Ela lembra que saiu à procura de uma oferta de trabalho junto com o então namorado e hoje marido, Paulo César Jardim, e bateu na porta da Rádio Capital. Ali conversou com Marcelo, diretor de jornalismo, que decidiu contratá-los.
Após deixar a Rádio Capital, Adriana ingressou no grupo Globo, em 1991, fazendo parte da equipe do Jornal Nacional, para a qual, segundo ela, produzia todo tipo de matéria, cobrindo temas de economia a trânsito. Ela sempre desejou produzir conteúdos mais descontraídos e livres, o que encontrou no jornalismo esportivo. Enquanto ainda estava no Jornal Nacional, foi intimada pela então diretora Olga Curado a apresentar o novo projeto da Rede Globo, um novo formato para o Globo Esporte. Adriana conta que sequer tinha cogitado trabalhar com esporte. “Eu perguntei o que aconteceria se eu não conseguisse, e ela [Olga] disse: ‘– rua’”, lembra Adriana, reforçando que, ainda assim, decidiu enfrentar o desafio. O resultado foi um programa de sucesso e alcance nacional que continua na programação da Globo.
Depois de nove anos trabalhando no grupo Globo, Adriana Spinelli decidiu experimentar novos ares iniciando a jornada na TV Alterosa, rede afiliada do SBT, onde Spinelli foi repórter e apresentadora por quatro anos, os quais, segundo ela, “foram os melhores anos da minha vida como jornalista, eu não trabalhava, fazia terapia”. A liberdade para produzir qualquer tipo de conteúdo ligado ao esporte era o carro chefe para sua satisfação na emissora. Uma das grandes histórias lembradas pela jornalista é a reportagem produzida em um cemitério. Em meio a risadas, ela conta como, juntamente com sua equipe, entrou sem permissão em um cemitério e teve que se esconder em um túmulo vazio para produzir o conteúdo sem que ninguém os visse, mas não conseguiram sair a tempo e foram descobertos pela segurança do cemitério.
Após trabalhar na TV Alterosa, Adriana Spinelli saiu do esporte e ingressou como assessora de imprensa no TRT-MG. Ela conta que a área jurídica e a esportiva são as que mais gosta de trabalhar, apesar de envolverem públicos bem distintos. Ao falar de suas experiências na área jurídica, ela relembra como buscou inovar a comunicação no ramo e proporcionar maior proximidade com o público por meio de lives nas redes sociais e uma linguagem mais simples.
O que muda no jornalismo
Com mais de 30 anos de trabalho como jornalista, Adriana menciona a diferença das mídias do início de sua carreira até o momento atual. A profissional salienta os meios de produção de notícias, lembrando de que, quando começou, usava máquina de escrever, depois o computador e hoje até o celular. Foram mudanças importantes e rápidas, porque era exigido agilidade para se adaptar às novas tecnologias. Adriana afirma a importância de continuar sempre atualizada sobre os novos suportes e ressalta como é valioso para os jornalistas a capacidade de adaptação. Ela brinca que quando tem alguma dificuldade com as redes sociais busca o socorro dos filhos: “eu não sou desta época aqui, vocês têm que ter paciência”.
Quando perguntada sobre algum momento marcante da carreira, Adriana relembra o triste caso Miriam Brandão, pois estava presente em todos os plantões, fazendo com que o vivenciasse de maneira intensa. Apesar do acontecimento, ela conta que foi uma experiência na qual obteve muito aprendizado, especialmente sobre os limites de uma reportagem, porque se tratava de um caso delicado.
Ela ressalta também alguns outros momentos que foram destaque em sua trajetória. Além de ter se transformado na primeira apresentadora do formato que popularizou o Globo Esporte, Adriana cita a reportagem A volta do Dudu da lua, produzida na TV Alterosa.
Família
Ao ser perguntada sobre a relação da família com o jornalismo, Adriana diz com brilho nos olhos ter o maior orgulho dos filhos, Mariana e Pedro, que seguiram o mesmo caminho dos pais na vida profissional, e atualmente trabalham na ESPN e Globo, respectivamente. Com 31 anos de casada, ela descreve como diversas vezes tinha que levar os filhos pequenos para o trabalho por não ter com quem deixá-los. Desde pequenos, Mariana e Pedro Spinelli acompanham a rotina corrida dos pais. Embora no fundo torcesse para a concretização do mesmo caminho profissional para os filhos, Adriana diz que nunca falou diretamente ou exigiu essa escolha. Mas admite que eles foram naturalmente influenciados por estarem sempre acompanhando a intensa rotina dos pais, principalmente no meio esportivo. Todos estão sempre ajudando uns aos outros com dicas sobre o trabalho e orientações. Em meio a risadas, ela conta que quando se reúnem dizem brincando “que não é uma reunião de família, e sim uma reunião de pauta.”
Acumulando experiência e prestígio por onde passou, Adriana e família percebem a importância da troca e da ajuda entre eles, relacionando os modelos de jornalismo mais antigos aos atuais.
Além de inspirar e encorajar as mulheres a seguirem o meio esportivo, que por muitos anos foi restrito aos homens, Adriana e os filhos têm influência entre os jovens que desejam seguir a mesma carreira.
“Nós mulheres temos que provar muito mais do que os homens e vamos fazer isso provando cada vez mais nossa capacidade” – Adriana Spinelli, jornalista
Conteúdo produzido por Ana Luiza Diniz, Ana Maria Rocha, Bruno Paz, Clara Fonseca, Karen Cristina e Lavinia Aguiar na disciplina Apuração, Redação e Entrevista, sob a supervisão da professora e jornalista Fernanda Sanglard e do estagiário docente Marcus Túlio. Revisão de texto realizada pela monitora Bianka Max Reinhardt.
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