Nos últimos anos, o funk mineiro deixou de ser apenas um som local para ganhar visibilidade nacional, e Belo Horizonte rapidamente se firmou como um dos principais polos do gênero. Com raízes que remontam aos bailes de favela nas periferias da capital mineira, o funk de BH consolidou seu próprio estilo, distinto dos famosos ritmos carioca e paulista. Entre rimas e batidas, artistas como MC Rick, MC Anjim e MC L da Vinte foram pioneiros em transformar a cena musical local, retratando realidades periféricas e conquistando públicos de todas as classes sociais com o famoso MTG.
O papel das plataformas digitais, como YouTube e Spotify, foi crucial para a ascensão desses artistas, permitindo que o som de Belo Horizonte chegasse a milhões de ouvintes, sem depender da estrutura das grandes gravadoras. Esse cenário favoreceu o surgimento de uma nova geração de artistas, que enfrentam tanto o glamour quanto os desafios de uma fama que surge de forma quase instantânea.
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Complexo dos Hits: A Máquina de Sucesso do Funk Mineiro
No bairro Concórdia, em Belo Horizonte, uma gravadora tem sido uma das protagonistas nessa nova fase do funk: o Complexo dos Hits. Fundada em novembro de 2022 pelo empresário e artista MC Saci, a gravadora é hoje um dos grandes nomes do gênero em Minas, abrigando um casting de 25 artistas e tendo a marca Xeque Mate como um de seus principais patrocinadores.
A coordenadora de marketing do Complexo dos Hits, Giovanna Evangelista, explica que o trabalho estratégico para impulsionar a carreira dos MCs e DJs da gravadora é intenso. “Nossa missão é alavancar a carreira desses artistas e garantir que suas músicas alcancem diferentes públicos, explorando estratégias de marketing e a promoção da imagem deles. Estamos focados em fazer com que eles explorem novos universos”, destaca a profissional.
O Caminho do Sucesso e seus Desafios
Lucas Adelmo, 18 anos, mais conhecido como DJ LC, é um dos jovens talentos do Complexo dos Hits. DJ LC contou que sua jornada começou aos 12 anos, movido pelo desejo de transformar sua vida e buscar independência financeira. “Eu fui aprendendo sozinho, vendo vídeos no YouTube, entendendo como funcionava a produção musical”, comenta. A dedicação foi recompensada: antes mesmo de completar 18 anos, ele alcançou o sucesso com hits como “Internet é Tóxica” e “Conselho da Minha Ex”.
DJ LC reflete sobre as principais características do funk de BH, que traz uma “swingada, uma malemolência” que, segundo ele, é única. “Cada estado tem seu estilo, e o nosso é diferente, mais voltado para o ritmo Latino. O funk mineiro tem uma energia que atrai o público e faz com que as pessoas se identifiquem com as batidas”, explica.
Outro talento do funk de Belo Horizonte é Vitin MPC, ou Vitor Puntel Sant’ana, de 25 anos, que compartilha uma trajetória que começou aos 10 anos. Desde a infância, ele trabalhou ao lado de Mc Delano em projetos musicais, desenvolvendo uma amizade que se tornou uma parceria duradoura. Juntos, abriram um show de Lulu Santos, marco importante em suas carreiras. Inicialmente, Vitin era MC, e Delano, DJ, mas, ao longo do tempo, trocaram de funções e consolidaram-se em papéis opostos, enriquecendo suas experiências no cenário do funk.
Vitin destaca a relevância de músicas como “Vai com o Popô no Chão”, uma colaboração entre DJs e MCs de BH que reflete a essência da cena local. Suas referências vão além do funk, abrangendo trap, reggaeton e até Zeca Pagodinho, cuja “malandragem” ele admira e incorpora no seu estilo musical. Ele se mostra grato pela popularidade do funk e pelo fato de suas músicas serem amplamente ouvidas. Para ele, essa aceitação é uma grande realização pessoal, e ele ressalta o suporte de sua equipe e de uma empresa capacitada como a Complexo dos Hits que lhe permite focar na produção e nas apresentações.
Já MC Pretchako, outro nome em ascensão, vê o funk como um movimento cultural com poder de transformação social. Natural de Divinópolis, o artista revela que se inspirou em grandes nomes como Racionais MC’s e Mr. Catra e comenta a emoção de levar sua música para o público local e nacional. Sua primeira grande música, “Piercing no Peito”, foi o marco inicial de uma trajetória que ele espera ver crescer ainda mais.
Para Pretchako, a arte vai além do entretenimento. Ele compartilha momentos importantes, como o encontro com o rapper Djonga, que lhe deu conselhos sobre a carreira, e um show em sua cidade natal, onde ele celebrou suas conquistas junto à comunidade.
A Transformação Pessoal Através da Música
João Pedro, ou MC Pepeu, embora não esteja ligado a nenhuma gravadora, atua de forma independente e exemplifica como o funk pode transformar vidas. Dono dos sucessos “Menina Se Prepara” e “Gostosinho tu cai”, o artista iniciou sua carreira aos 15 anos e, com o passar dos anos, se consolidou no cenário musical mineiro. “A primeira música que vira hit é uma virada de chave. Foi a partir daí que comecei a viver do meu sonho”, conta o MC. Sobre seu processo criativo, ele explica que busca sempre referências diversificadas, tanto dentro quanto fora do funk, e atualmente está experimentando elementos do Jersey Club em suas músicas.
Para ele, o funk representa a possibilidade de realização de sonhos e a concretização de um futuro melhor. Com planos ambiciosos, MC Pepeu sonha com colaborações que ultrapassem as fronteiras do funk mineiro, até mesmo com artistas internacionais.
Impacto Econômico e Social do Funk em BH
A explosão do funk em Belo Horizonte vai além da fama individual dos artistas e se reflete nas comunidades que eles representam. Os bailes de funk, tão populares nas periferias, não são apenas eventos culturais, mas verdadeiras plataformas para novos talentos, além de movimentarem a economia local. Esses eventos geram renda com a venda de alimentos, bebidas e produtos relacionados à cultura do funk, impactando diretamente a vida dos moradores.
Além disso, o Complexo dos Hits tem incentivado um ambiente profissional para os artistas. Eles recebem suporte não apenas na produção musical, mas também no desenvolvimento de suas marcas pessoais, algo essencial para lidar com a pressão e a exposição que vêm com a fama repentina.
Um Futuro Promissor para o Funk Mineiro
Com o crescimento da aceitação e do reconhecimento do funk de BH em todo o país, a expectativa é de que o movimento continue a expandir e evoluir. O Complexo dos Hits e outras iniciativas estão ajudando a consolidar a cidade como um dos principais centros de produção do gênero, abrindo espaço para que novos talentos possam emergir.
Ao olhar para o futuro, artistas e profissionais do funk de BH enxergam a música como uma ferramenta poderosa de transformação pessoal e social. Entre ritmos latinos, batidas inovadoras e letras que contam histórias reais, o funk mineiro mostra que veio para ficar e que ainda tem muito a oferecer ao cenário musical brasileiro.
Reportagem produzida por Isabella Marques da Silva e Júlia Gabrielle Fernandes Rodrigues na disciplina Apuração, Redação e Entrevista no curso de Jornalismo do campus São Gabriel da PUC Minas, sob a supervisão do professor Vinícius Borges.
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