O metrô de Belo Horizonte ganhará uma nova linha até 2028. A proposta, que está em construção desde setembro de 2024, contará com 10,5 km de extensão e sete novas estações, sendo elas: Nova Suíça, Amazonas, Nova Gameleira, Nova Cintra, Vista Alegre, Ferrugem e Barreiro. A expectativa é de atender 50 mil passageiros por dia.
A construção da linha 2 do metrô ocorre após 20 anos de promessas de expansão da malha ferroviária da capital. Para a operação, serão destinados cerca de R$4 bilhões de acordo com a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). A previsão é que a construção das estações seja feita por etapas, com duas estações sendo finalizadas no início de 2026: Nova Suíça e Amazonas.
À época do início das obras da Linha 2, ainda em 2024, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), reforçou o entusiasmo com o projeto, visto por ele como “a maior intervenção de transporte em décadas na região metropolitana de Belo Horizonte”. A Secretaria de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias de MG (Seinfra), também presente no evento, destacou que a obra faz parte de um esforço coordenado entre Estado e União, com foco em modernizar o sistema ferroviário da capital mineira.

Sem acolhimento, sem alternativa: o drama de quem será removido
Gostaria que o poder público olhasse esse tema com mais carinho porque o transporte público não é mercadoria, é direito. E quando ele for tratado assim, teremos um sistema mais justo e eficiente para todos” – Alda Lúcia dos Santos, Presidente do Sindimetro MG
Um dos pontos mais controversos da linha 2 do metrô consiste na retirada de cerca de 300 famílias residentes nos bairros Gameleira, Nova Gameleira, Nova Cintra, Betânia, Vista Alegre e na região do Barreiro. O valor final da indenização ainda não foi revelado e é um dos motivos de apreensão dos moradores residentes nas áreas próximas do projeto. Em nota, a Agência Minas em maio de 2025, o governador Romeu Zema (Novo), garantiu que “todos os atingidos terão recursos para adquirir uma moradia até muito melhor do que a que está sendo utilizada atualmente”.
A atual presidente do Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais (Sindimetro MG), Alda Lúcia dos Santos, lamentou a baixa indenização para as famílias. Segundo ela, no início foi oferecido R$10 mil como indenização — valor, de acordo com ela, totalmente incompatível com a realidade. Depois houve um aumento para R$40 mil, e recentemente para cerca de R$105 mil.
A sindicalista se sensibiliza com as famílias que estão sendo retiradas de suas casas: “O que mais me marcou foi o descaso com as famílias que vivem há décadas ao longo do trajeto. Pessoas idosas, com 70, 80, 90 anos, sendo retiradas de suas casas sem acolhimento e sem alternativa digna. Faltou humanidade, faltou planejamento, faltou cuidado. Ver essas famílias sendo arrancadas de suas raízes, deixando tudo para trás, é muito triste”.
A deputada Bella Gonçalves (Psol), atual presidenta da comissão responsável pelos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), é uma das principais responsáveis pela fiscalização das famílias. A deputada tem sido uma voz ativa nesse processo, realizando audiências e conversas com o Ministério Público sobre a temática.

Outro ponto de debate é a possibilidade de parte do traçado, entre Ferrugem e Barreiro, ser feito em linha singela, ou seja, apenas um trilho com idas e voltas alternadas. A proposta, que ainda está em análise pela Secretária de Infraestrutura de Minas Gerais (Seinfra MG), se deve à localização da estação, que passa pelo pátio de manobras MRS Logística.
Alda Lúcia também critica duramente a opção pela linha singela, apontada por ela como um dos principais alvos de insatisfação dos moradores do Barreiro nas assembleias sobre a linha 2 do metrô. Segundo Alda, essa escolha compromete diretamente a mobilidade urbana da região:
É uma escolha técnica equivocada. A via singela é a “ferrugem barata”, como costumo dizer — é mais barata para construir, mas muito mais cara em termos de eficiência e serviço. Começar com uma via singela compromete seriamente a eficiência e a expansão futura. Isso vai gerar atrasos, gargalos e limitações. O Barreiro merece um metrô de qualidade, com infraestrutura completa”
Além dos problemas já citados, outros desafios incluem o desmatamento de áreas verdes, a poluição visual com a presença de ruídos, inclusive no período noturno e até mesmo acidentes. Em junho de 2025, Natalice Gomes da Silva, 49 anos, teve a perna amputada, após escorregar em entulhos da obra do metrô e, em seguida, ser atropelada por um trem no bairro Nova Gameleira.
Privatização causou aumento nos preços da passagem
O serviço do metrô não é suficiente para atender toda a população. O metrô não cobre várias regiões de Belo Horizonte, e quem mora em áreas mais distantes depende apenas dos ônibus, que já estão superlotados e não dão conta da demanda – Luana Corrêa, estudante de odontologia”
O metrô da capital mineira foi concedido à iniciativa privada em março de 2023. A Comporte Participações S.A., representada pela Guide Investimentos, adquiriu o serviço por 30 anos. A estimativa é que sejam investidos R$3,9 bilhões para melhorias e ampliações ao longo do período.
O projeto de investimento para o metrô BH inclui R$3,2 bilhões em investimentos, dos quais R$2,8 bilhões são recursos do governo federal e R$440 milhões do governo estadual. Além dos investimentos já mencionados, há verbas do acordo com a Vale pela tragédia de Brumadinho, que destinam R$427 milhões para o Metrô BH, conforme lei aprovada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Desde a privatização, o metrô de BH passou por sucessivos aumentos no preço da passagem e reformas nas estações. Em pouco mais de dois anos, o trem metropolitano da capital mineira passou por três reajustes, saltando de R$ 4,50 para R$ 5,80. Esse número representa um aumento de mais de 36% em 27 meses de concessão e 222% em um período de 6 anos.
Popularmente conhecido como metrô de Belo Horizonte, o meio de transporte da capital mineira levanta debates acerca da nomenclatura correta da sua estrutura. Isso se dá ao fato de o trem metropolitano da RMBH atuar predominantemente em trechos de superfície com uma extensão relativamente curta, um cenário distinto se comparado à outras grandes estações de metrô ao redor do país e do mundo.
Superlotação, atrasos e insegurança: a rotina de quem depende do transporte público
Para a estudante de odontologia Luana Corrêa, que utiliza o transporte público diariamente, a nova linha pode aliviar a pressão sobre os ônibus que circulam na região: “Eu acredito que a Linha 2 pode ajudar bastante na mobilidade. Eu costumo pegar o ônibus 1502 para o Vista Alegre e ele está sempre lotado. Se parte desses passageiros passar a usar o metrô, pode melhorar o trânsito e trazer mais conforto para quem depende do transporte público”.
Apesar da intenção de melhoria na infraestrutura, as obras de modernização das estações têm ocasionado a superlotação do metrô BH. Em alguns casos, há a presença de baldeação em horários de pico e aumento no tempo das viagens.

Entre os usuários frequentes do metrô de Belo Horizonte está a trabalhadora doméstica Valdirene de Jesus, que há mais de 15 anos utiliza o transporte público para se deslocar ao trabalho. Ela reconhece que, apesar da melhoria na infraestrutura dos trens, a privatização deixou alguns pontos negativos: “Olha, eu achei que em parte ficou bom. Mas, devido às obras, está atrasando muito. Está muito lotado, e a baldeação é horrível. O tempo de espera também é complicado: no fim de semana chega a ser de 15, 20 minutos. Nesse ponto, eu achei que ficou ruim”.
A estudante Luana Corrêa também afirma que os obstáculos vão além das obras e da superlotação: “Vejo muitos problemas no transporte público, tanto no metrô quanto nos ônibus. Há superlotação, intervalos longos e pouca segurança. Já presenciei idosos caindo dentro do ônibus por causa de freadas bruscas. Acho que ainda faltam melhorias para garantir mais conforto e segurança aos passageiros”.
Em 2024, a concessionária metrô BH anunciou a compra de 24 novos trens para a substituição dos antigos veículos da linha 1. A previsão da empresa é que esses novos trens sejam entregues em 2026, como parte do contrato de concessão com o Governo de MG.
Metrô de Belo Horizonte possui quase 40 anos de história
O metrô de Belo Horizonte teve suas operações iniciadas em 1º de agosto de 1986, com o objetivo de ampliar a mobilidade urbana na capital mineira. A Estação Lagoinha foi uma das primeiras a serem construídas, ainda sob responsabilidade da antiga Rede Ferroviária Federal.
O comerciante Marcelo Lima trabalhava na região central de Belo Horizonte quando a Estação Lagoinha foi inaugurada e relembra o processo de construção. Segundo ele, para viabilizar as obras, foi necessária a desapropriação e demolição da antiga sede da tradicional Feira dos Produtores, anteriormente localizada na região.
Pelo que sei, a Feira dos Produtores ficava onde hoje está a Estação Lagoinha. O governo precisou implodir o prédio e transferir a feira para a Cidade Nova. Na época, a rodoviária e o Viaduto de Santa Tereza já estavam prontos, e a construção do metrô foi sendo integrada à estrutura da cidade. Aproveitou-se o trajeto do trem, que passava em paralelo, e também foram demolidos a Feira Livre e o Cine São Geraldo para viabilizar a obra. A própria passarela da Lagoinha foi construída junto com o metrô. Onde hoje é parte da estação, funcionava o Café Nacional, muito conhecido na época. Assim, o sistema começou com poucas estações e, depois, outras foram sendo inauguradas.”
Ao longo dos últimos anos, o metrô de Belo Horizonte passou por um processo de modernização da infraestrutura, com a instalação de ar-condicionado nos trens, oferta de internet Wi-Fi gratuita, inclusão de placas em braile nos corrimãos, revitalização do piso tátil e implementação do bilhete digital. As mudanças buscaram ampliar o acesso e atender a diferentes perfis de usuários do sistema de transporte público.

A trabalhadora doméstica Valdirene de Jesus ressalta que as estações passaram por grandes melhorias, tanto na aparência quanto na segurança: “Eu acho que as estações mudaram muito. Agora estão mais bonitas e mais iluminadas. E também a segurança melhorou bastante. Eu já peguei o metrô mais tarde e todas as estações tinham dois vigilantes. Isso me fez sentir muita segurança para usar [o metrô] depois das 22h”.
O comerciante Marcelo Lima, por outro lado, chamou a atenção para a falta de mudanças externas na estrutura dos trens urbanos, que, de acordo com ele, preservaram a essência ao longo dos anos: “A estrutura externa sempre foi praticamente a mesma. O que mudou bastante foi a parte interna, que passou por reformas e agora tem ar-condicionado, por exemplo”.
Vejo que tem outros estados do Brasil, como Brasília e Recife, que têm linhas de metrô bem mais modernas e desenvolvidas do que aqui [Belo Horzionte], que só tem uma linha que não atende toda a população” – Marcelo Lima
Em 2002 a linha 1, que ficou conhecida como Eldorado-Vilarinho, foi finalizada. Desde então, o sistema conta com 19 estações: Vilarinho, Floramar, Waldomiro Lobo, São Gabriel, Minas Shopping, José Cândido da Silveira, Santa Inês, Horto Florestal, Santa Tereza, Santa Efigênia, Central, Lagoinha, Carlos Prates, Calafate, Gameleira, Vila Oeste, Cidade Industrial e Eldorado, distribuídas ao longo de cerca de 28 quilômetros de extensão. Em 2026, a estação Novo Eldorado será implementada na linha 1, com mais 1,6 km de via.
Atualmente, o Brasil tem oito regiões metropolitanas com sistemas metroviários ativos: São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Recife (PE), Fortaleza (CE), Salvador (BA) e Porto Alegre (RS). Minas Gerais é o único estado brasileiro, entre as regiões metropolitanas que contam com metrô em operação regular, que possui apenas uma linha em funcionamento.
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