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A foto registra um evento de e-Sports com muito público na plateia.
Evento "The Internacional" reúne enorme quantidade de público. / Foto: Jakob Wells

Comitê Saudita sediará primeira Olimpíadas de e-Sports do mundo

Popularização dos jogos eletrônicos promove inclusão do mercado no movimento olímpico

Em uma era de transformação digital e crescente popularidade dos esportes eletrônicos, o Comitê Olímpico Internacional (COI) deu um passo significativo ao anunciar uma parceria de 12 anos com o Comitê Nacional da Arábia Saudita para a realização das Olimpíadas de E-Sports. O presidente do COI, Thomas Bach, anunciou no mês de Julho que os Jogos Olímpicos de E-Sports começarão em 2025 e serão realizados a cada dois anos. Esta colaboração faz parte do plano Vision 2030 da Arábia Saudita, que visa diversificar a economia do país e posicioná-lo como um líder global em tecnologia e inovação.

A decisão do COI de incluir os e-Sports no movimento olímpico é um reflexo da crescente importância desse setor no cenário global. Os Jogos Olímpicos dos games digitais foram aprovados na 142ª reunião do Comitê, realizada pouco antes do início dos Jogos Olímpicos de Paris, por unanimidade, sem votos contrários ou abstenções.

O crescimento dos e-Sports

Os esportes eletrônicos, ou e-Sports, têm crescido exponencialmente nos últimos anos, atraindo milhões de jogadores e espectadores ao redor do mundo. Segundo levantamento publicado pela empresa Mordor Intelligence, o tamanho do mercado de e-Sports é estimado em US$2,11 bilhões em 2024, e deverá atingir US$5,27 bilhões até 2029. Esse crescimento pode ser atribuído a diversos fatores, entre eles a pandemia de COVID-19, que levou muitas pessoas a buscarem entretenimento e conexão social através dos jogos online.

Theo de Lima Bedeschi, psicólogo em formação, já atuou na área de e-Sports pela Arena Jogue Fácil, e compartilhou sua visão sobre esse fenômeno. Segundo ele, a pandemia desempenhou um papel crucial na popularização dos e-Sports, proporcionando uma oportunidade para que muitos jovens se dedicassem aos jogos eletrônicos de forma mais séria. Outro fator importante mencionado por Theo é o aumento do investimento no setor. “A partir de 2015, começou uma onda de investimentos significativos, especialmente no Brasil, com times tradicionais de outros esportes entrando no cenário dos e-Sports. Esse crescimento trouxe mais oportunidades para jogadores talentosos, que antes não tinham condições de se profissionalizar.”

Foto: Banco de dados Freepik

Pedro Luiz, jogador profissional de Counter Strike: Global Ofensive pela Peak Academy também destacou a evolução. Ele começou a jogar CS em 2016 e, desde então, testemunhou uma transformação significativa no cenário competitivo. “No começo, o maior desafio que eu enfrentei foi a falta de condições para jogar, como um computador melhor, mouse, teclado. Quando eu comecei a competir mais, também senti a falta de oportunidades por ainda não ter muito nome no cenário”, explicou Pedro.

Com o tempo, Pedro conseguiu superar esses desafios e se estabelecer como um jogador profissional, mas ele enfatiza que o cenário atual oferece muito mais oportunidades para novos jogadores, graças ao aumento da visibilidade dos e-Sports e ao apoio de grandes influenciadores e organizações. “Hoje, muitas organizações têm times “academy”, que são uma base para as grandes equipes. Cada vez mais, os jogadores mais novos estão recebendo oportunidades nos times principais e se provando”, disse Pedro.

A inclusão dos e-Sports no movimento olímpico

A inclusão dos e-Sports no movimento olímpico representa um marco importante para o reconhecimento e crescimento do cenário. Segundo Theo Bedeschi, essa inclusão pode ter um impacto significativo na visibilidade e no reconhecimento dos e-Sports em todo o mundo. “A partir do momento em que o esporte eletrônico é reconhecido pela Olimpíada, milhões de pessoas ao redor do mundo terão a oportunidade de entender melhor o potencial e a grandiosidade do cenário”, afirmou. Pedro Espechit compartilha dessa opinião, ressaltando que as Olimpíadas de e-Sports terão um impacto gigantesco tanto para os jogadores, quanto para a percepção pública dos e-Sports. “ O reconhecimento que isso traria para os jogadores com certeza mudaria vidas”, comentou Pedro.

A decisão do COI de incluir os e-Sports no movimento olímpico é um reflexo da crescente importância desse setor no cenário global. O Comitê Olímpico Internacional por meio de sua assessoria de imprensa disse que está muito feliz em realizar a parceria com o Comitê Saudita. “Eles têm conhecimentos especializados únicos no domínio de e-Sport. A Arábia Saudita é a líder global de mercado na área, além de ter o conhecimento e a experiência necessária para criar a primeira Olimpíada de e-Sports com o COI”.

Foto: Domínio Público – Comitê Olímpico Internacional

Desafios e Expectativas do COI 

Apesar do entusiasmo em torno das Olimpíadas de e-Sports, ainda existem muitas questões a serem resolvidas, como a seleção dos jogos que farão parte da competição e os critérios de qualificação para os atletas. O COI informou que esses detalhes serão discutidos nos próximos meses, mas destacou que a escolha dos jogos será baseada em critérios rigorosos, incluindo a adesão aos valores olímpicos, a promoção da igualdade de gênero e o engajamento com a audiência jovem. “Enquanto nós ainda não finalizamos os títulos, temos a certeza que haverá três tipos de jogos nos Jogos Olímpicos de e-Sports: O primeiro são aqueles que chamamos de formas físicas de e-Sports, o qual se trata de uma réplica física completa do esporte por si só, em um ambiente estático, possibilitado pela tecnologia. O segundo é o de simulações de esportes, tanto em plataformas de jogos mobile, quanto em consoles. Trata-se da forma mais tradicional e eletrônica dos jogos. O terceiro tipo é o de e-Sports tradicionais, que não são relacionados com esportes, mas que devem refletir e respeitar os valores Olímpicos.”

O Comitê Olímpico Internacional expressou suas expectativas para o futuro das Olimpíadas de e-Sports, e destacou que essa nova iniciativa é uma forma de acompanhar a revolução digital e de manter a relevância dos Jogos Olímpicos entre as novas gerações. “ Este novo evento autônomo desempenhará um papel fundamental na estratégia do COI para a atração de um público mais vasto e jovem. Os jogos olímpicos de e-Sports vão preencher a lacuna entre os esportes tradicionais e os do mundo digital e, simultaneamente, promover o olimpismo de formas novas e inovadoras”.

Além disso, o COI ressalta sobre como a marca das Olimpíadas é atrativa, se baseando em sucessos como o Olympic Virtual Series em 2021, e o Olympic Esports Series, em 2023. “Com a criação dos Jogos Olímpicos de E-Sports, o COI está dando um grande passo à frente e, ao mesmo tempo, está acompanhando o ritmo da revolução digital. O COI está muito feliz com o entusiasmo da comunidade de e-Sports, e como ela tem se envolvido nesta iniciativa. Essa é mais uma prova da atratividade da marca das Olimpíadas e os valores que a mesma representa”.

O Futuro dos e-Sports

Para Theo Bedeschi, o futuro dos e-Sports é promissor, mas ainda há desafios a serem superados. Ele acredita que o reconhecimento dos e-Sports como uma forma legítima de esporte é um passo importante, mas que ainda é necessário trabalhar para garantir que os jogadores tenham o apoio e os recursos necessários para se desenvolverem. “Eu acho que estamos apenas começando a ver o começo de algo muito gigante. Ainda há muito a evoluir, mas estou confiante de que os e-Sports continuarão a crescer e a ganhar mais reconhecimento”, afirmou.
Pedro Espechit compartilha desse otimismo, mas também reconhece os desafios que os jogadores enfrentam no cenário atual. Para ele, a chave para o sucesso nos e-Sports é a dedicação e a persistência: “Se você tem um sonho, corra atrás. Enquanto você estiver evoluindo todo dia, vai chegar o dia em que tudo dará certo”, concluiu.

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Gabriel Arlindo

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