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Fãs viajam e acampam para espetáculos de k-pop em BH

Fenômeno de k-pop movimenta jovens em busca dos idols para onde eles forem

Alek, de 27 anos, saiu de sua cidade natal, Taubaté, no interior do estado de São Paulo, na sexta-feira, 26 de maio, em direção à capital mineira, para participar do Esquenta e do show de seus ídolos do K-pop, o grupo MCND. Não é a primeira vez que ele sai da cidade e encara horas de estrada ou voo para isso. Ele, que tem uma página de fã, conheceu o grupo antes do debut (lançamento) em 2020 e, desde então, não saiu do fandom. Em 2022, participou do fansign do grupo – evento que os fãs encontram e coletam autógrafos dos artistas.

Alek (à esquerda) e David (à direita) em fila para o show do MCND no Minascentro | Fotografia: João Victor Borges

Chegando em BH, ele já tinha um grupo de amigos do fandom para participar da experiência do reencontro – lá conheceu David Rômulo, de 21 anos. Assim como Alek, o estudante de artes visuais veio de outro estado para os eventos, mas ainda mais longe: de Juazeiro, na Bahia.

“É como se a gente estivesse matando a saudade de pessoas que a gente queria muito rever! Eu não poderia perder por nada, por isso que eu vim da Bahia e eu disse: para qualquer lugar que eles vierem eu vou! Por isso que estou aqui. Obrigado universo por ter me permitido isso!”

David Rômulo

Novos destinos

A indústria do pop coreano acumula recordes e seguidores fiéis ao redor do mundo, e o apego aos artistas é uma das grandes características do gênero. Um exemplo disso é a venda de ingressos para o show único do grupo BTS ter se esgotado em uma hora e 15 minutos em 2019, em evento que se realizou no Allianz Parque, em São Paulo.

Assim como toda indústria musical, os artistas seguem agendas de turnês e vão a grandes metrópoles culturais. Mas, este ano, a experiência do grupo MCND foi diferente. Em 2023, a MCND World Adventure 2023 passou por Porto Alegre, Rio Grande do Sul, e seguiu para a capital de Minas Gerais, Belo Horizonte – quebrando uma tradição de grandes artistas que se concentram no eixo Rio-SP. “Tem muita gente falando que os produtores de shows estão procurando outros lugares no Brasil pra fazer show. Acho que por isso que os meninos [cantores do MCND] vieram pra POA e BH ao invés de São Paulo e Rio”, opinou o fã Alek.

Fãs estavam na fila do show desde a manhã | Fotografia: João Victor Borges

Esse movimento de descentralização do eixo cultural é valioso não apenas por uma questão financeira, como também para uma maior possibilidade de diversidade etária de público, uma vez que o fandom de kpop engloba pessoas de diferentes idades, incluindo menores, que muitas vezes são acompanhados pelos pais. É o caso da Juliana, de 17 anos, que madrugou na fila do show com a mãe. “Chegamos bem cedo na fila, às 5h15 da manhã. Ela [minha mãe] sempre me acompanha quando quero ir a shows e a eventos assim!”, comemora a estudante, que também teve a experiência de assistir aos artistas em SP, no ano passado.

Paula, filha de Irenilda (à esquerda), e amigas aguardam performance do MCND na fila | Fotografia: João Victor Borges

Outras mães acompanharam os filhos, como a Irenilda Ramos, mãe da Paula, que acompanhou a filha e as amigas da filha na fila e sempre a leva para todos os eventos de k-pop que tem em BH. Mas nem todos os menores de idade tiveram a sorte de Juliana. Durante o evento realizado em BH , o juizado de menores questionou o alvará de realização do show para menores e impediu a entrada de jovens com menos de 16 anos desacompanhados de seus pais e responsáveis.

Irenilda Ramos estava acompanhando sua filha, Paula, na fila do evento | Fotografia: João Victor Borges

Fãs e idols

As empresas promotoras de evento encontram, em ações publicitárias, meios de fazer o público ter mais proximidade com os idols, como meet and greet e sessões de autógrafos, fotos e abraços. Nesses eventos, os idols adotam uma linguagem gentil e delicada nas respostas, pregando o amor e a paz. Pensando nisso, um evento beneficente organizado pela Highway Star, no dia anterior ao show, reuniu cerca de 100 GEMS (fãs do MCND) em uma sala de cinema do Minas Shopping para interação com os cantores. Com tradução simultânea de coreano e português, tanto o “Esquenta” quanto os vídeos transmitidos nas pausas do show estimulam uma ideia de intimidade com os cantores.

Em coletiva, os próprios artistas compartilharam as experiências desafios de serem jovens em movimento pelo mundo:

Colab: Como é a experiência, sendo tão jovens, de terem saído pelo mundo em produção e conhecendo tantas pessoas? Como vocês percebem o crescimento?

Huijun: Nós conhecemos fãs incríveis e só estamos aqui por causa dos fãs. O meu crescimento se dá quando percebo que eu não estou nervoso e consigo me divertir e curtir com os fãs, mostrando o lado bonito do grupo


Minjae: Através das experiências, eu pude crescer e perceber que os gritos dos GEMS começaram a despertar boas coisas em mim.


BIC: Nos três anos que passaram, eu não me lembro de ter me estressado muito. Mesmo que aconteçam coisas ruins, eu não penso muito nisso. Tem até uma frase famosa: “O importante é você não desistir”. Fico sempre pensando nisso pra poder continuar andando no meu caminho. Qualquer que seja o resultado, bom ou ruim, eu penso que fiz o máximo para alcançar o resultado, então eu não desisto. Esse é o meu aprendizado dos últimos três anos.


Castle J: No início, eu pensava no que as outras pessoas falavam e julgavam, fãs, haters e imprensa. Agora, nós sabemos que o MCND é o melhor, e sempre pensamos que o que eles fazem é o certo pra carreira do grupo.

Grupo de k-pop MCND em coletiva de imprensa | Fotografia: João Victor Borges

Ao contrário de artistas do eixo hegemônico ocidental, celebridades do k-pop coreano não costumam revelar muito de suas vidas em mídias sociais. Logo, para os fãs, esses eventos são oportunidades de ter mais proximidade e intimidade com seus ídolos. “O momento das perguntas foi uma hora que a gente pôde entender os sentimentos dos meninos com as perguntas da imprensa e dos fãs e pôde ver eles comendo comida brasileira”, comenta Juliana (17). Ansiosa para o show, ela ainda afirma que os MCND são muito bons no palco e conquistam público com facilidade: “Eles cativam até quem não conhece muito bem e faz qualquer um querer entrar no fandom”. As respostas, no entanto, parecem um tanto ensaiadas para manter a aura de idols intocada. Afinal, no reino do k-pop, só é possível ser feliz.

Grupo de k-pop MCND em performance no Minascentro | Fotografia: João Victor Borges

Giovanna de Souza

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