Nascido em Belo Horizonte, o fotógrafo publicitário Tomás Arthuzzi formou-se na PUC Minas e traçou um caminho profissional com muita curiosidade e um pouco de loucura. Atualmente, ele trabalha para marcas como Jack Daniel’s e Nike, e também para revistas como a Superinteressante e a Forbes. Recentemente, tem se dedicado a um projeto pessoal de viagem pelo mundo, partindo para uma jornada de dois anos, que passará por Ushuaia, na Argentina, com destino ao Alaska.
Em entrevista ao Colab durante sua passagem pela FCA no início de outubro, Arthuzzi falou das suas experiências, prêmios, e do projeto da viagem. Ele esteve na PUC a convite dos cursos de Publicidade e Propaganda, como parte da programação do evento PP na Veia.
Confira a entrevista, que foi editada para fins de clareza e concisão.
Como fotógrafo publicitário, você já fez diversos trabalhos para grandes marcas e, na linha editorial, isso não é diferente. Existe um alinhamento entre essas duas veias do mercado fotográfico ou elas não conversam? De que forma isso influencia seus trabalhos?
Em ambas as frentes, tanto na Superinteressante, como na Nike, ou em qualquer outra marca grande, as ideias vêm muito deles, a parte criativa é deles. O que eu tenho que fazer, que é o legal, é conseguir adaptar isso ao orçamento ou ao tempo que a gente tem, quando tem esses limitadores. Às vezes não, às vezes “a gente quer isso e dinheiro não é o problema”, aí é massa, porque a gente produz um negócio maravilhoso de forma muito mais confortável. Então, não muda demais. O que muda é que nas revistas a gente tem mais liberdade que na publicidade, mas o “approach”, o jeito de trabalhar, a entrega é meio que mais ou menos no mesmo nível.
Você também tem uma série de retratos com celebridades, incluindo uma do Sebastião Salgado que foi até premiada. Como é registrar tantas pessoas diferentes? Existe uma dificuldade em absorver as estéticas e personalidades tão distintas?
Uma coisa legal do retrato é que ele já começa quando a gente chega no lugar. Se eu sei que eu vou te fotografar, por exemplo, eu já chego e fico te olhando. Se você dá sombra no olho, se você fica melhor de um lado ou do outro. Não para eu te sugerir isso de forma descarada tipo “olha para lá porque você é melhor desse lado”, mas do tipo “dá uma olhadinha pra lá, fica massa”. Então você vai levando a pessoa para onde você quer e dependendo do briefing que é dado. Para a Forbes, com os bilionários, é bem quadradinha. “É isso que a gente precisa e é isso que eu quero”. Já o Sebastião Salgado foi uma situação “a gente sabe que a foto vai ser rápida, vai ser em tal lugar, a gente confia em você, faz uma fotona bonita lá”, aí tá na minha mão, eu faço o que eu quiser. Na outra, a gente tem que atender uma expectativa do cliente, mas tem que sempre navegar ali nos dois mundos.
O que eu faço para conseguir ter assunto com as pessoas, quando são famosas, mas não tão famosas, é pesquisar sobre. Então se eu vou fotografar fulana, eu tento ler sobre ela antes. Se tiver uma biografia, eu leio, pesquiso fotos dela para saber o que funciona e o que não funciona, para eu não chegar lá e refazer um negócio que já fizeram ou fazer um negócio que eu já sei que não vai ficar bom. Você já descobre uma situação que a pessoa fica desconfortável, então, não bota ela nessa mesma situação, esse tipo de coisa.
Você já recebeu diversos prêmios, incluindo internacionais. Qual deles foi o mais impactante na sua carreira? Qual o mais especial?
Olha, tem algumas. Tem uma que eu nem ganhei, fiquei na semifinal, mas foi um negócio que me deu um norte. Acho que foi em 2009 ou 2010 que eu me inscrevi num concurso da Hasselblad e era um negócio muito distante. Porque nessa época tinha o que a gente tem hoje [em relação a mídias sociais], mas não tinha. Tinha YouTube, mas ninguém usava direito, não tinha essa informação toda. Eu me inscrevi e, competindo com o Planeta, eu fiquei na semifinal de um concurso muito grande. Nessa época, eu estava começando a ficar “vou nessa mesmo com tudo”. Isso serviu de termômetro e serve até hoje. Quando rolou essa do Sebastião Salgado, que foi em 2014, foi animal porque eu estava concorrendo com fotógrafos realmente gigantes. Deu certo, eu ganhei e isso te dá mais gás. Eu trato isso como um estímulo, gasolina. Se está sendo reconhecido é porque eu tô fazendo alguma coisa direito.
Recentemente, você tem se dedicado a conhecer o mundo e inclusive atravessou o Caminho de Santiago, na Espanha. No vídeo mostrando partes da viagem, você comenta que entre pensar em tirar umas férias e cruzar o Atlântico se passaram apenas 15 dias. Como foi esse processo de tomada de decisão e preparação para a viagem? E como foi chegar ao fim do caminho depois de exatos 31 dias?
A decisão veio da minha sócia do estúdio. Eu estava muito bravo, não com ela, mas com situações que sempre acontecem e que eu levei pro pessoal. Aí me deu um acúmulo de coisas negativas, fiquei meio desanimado com a vida e minha sócia falou assim “Ou, você não tá precisando de férias, não? Tirar umas férias aí e ficar de boa?”. Porque ela estava ligada que eu só estava frustrado. Aí eu já tinha pensado em fazer esse negócio [Caminho de Santiago] uma vez, fui olhar a passagem e estava barato. No mesmo dia, à noite, eu comprei a passagem, aí fui comprar bota, pesquisar direito, como que vai, para onde que vai, aí comprei mochila e fui.
Cheguei lá e fiz essa caminhada. Eu coloco como se fosse uma versão efêmera da vida. É uma vidinha. Você chega e começa: é você nascendo, no fim, é você olhando o que fez, o caminho que percorreu. E nesse caminho você conhece um monte de gente. Eu conheci tudo quanto é tipo, gente massa, gente mala, gente legal, gente que você fala “que pessoa estranha, não quero contato”. Teve dois dias que eu fiquei caminhando com um padre português, trocando ideia e é o tipo de coisa que acontece na nossa vida mesmo. Às vezes você tá numa situação que vai ser um dia ruim e você traduz os dias lá como anos. Então você pensa, esse dia foi bom, mas amanhã pode não ser tão bom, ou pode ser melhor. Você tem que estar aberto e disposto a se adaptar para fazer as coisas que você quer e manter a cabeça um pouquinho melhor.
No seu Instagram você se descreve como “fotógrafo e doido da cabeça”. Ser doido da cabeça te ajudou nessa trajetória pela fotografia? De que modo?
Eu associo esse “doido da cabeça” mais a falar “sim”. Vamos? Vamos! Vamos abrir um estúdio? Vamos! Vamos mudar de país? Vamos! Eu só não vou se está eminente que se eu for ali eu vou morrer. Mas, assim, se no máximo for passar um perrengue, o perrengue a gente resolve. É mais no sentido de estar aberto às mudanças e coisas novas do que me colocar em riscos desnecessários. É fazer coisas que, para a maioria das pessoas, estão fora da caixa.
Para conhecer mais do trabalho do fotógrafo, visite arthuzzi.com.
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