O Halloween no Brasil e os movimentos para valorização da cultura brasileira

por: Tainara Diulle

As bruxas estão soltas… afinal é o dia delas! Nos Estados Unidos, no dia 31 de outubro se comemora o Dia das Bruxas. Crianças e jovens saem às ruas fantasiados em busca de doces ou travessuras. A festa é tradição na cultura estadunidense e vem caindo no gosto mundial, com vários outros países adotando a comemoração da data. E é claro que no Brasil não é diferente. 

O fenômeno da globalização e do mercado de consumo possibilitou que uma celebração de origem celta e pagã conquistasse pessoas de várias culturas e religiões diferentes. No Brasil, o Halloween começou de forma tímida, em escolas de língua estrangeira no início da década  de 1980. Hoje a data vem se tornando uma tendência nos grandes centros brasileiros. O antropólogo Alexandre Teixeira considera que esse avanço do Halloween no Brasil se deve à mercantilização dessa festividade e a ampliação da imagem da festa pelas diferentes mídias e redes sociais.

Para o comércio brasileiro, o Halloween é uma oportunidade de movimentar as vendas. “O público compra a ideia, mesmo que de forma comedida. Portanto, é uma data a ser explorada”, diz Marcelo Diniz, proprietário de uma loja de doces e fantasia na região Oeste de Belo Horizonte. Ele afirma que mesmo com o investimento em decoração e produtos temáticos a expectativa de vendas é moderada, se comparada a outras com outras festividades tradicionais, como a festa junina, por exemplo. 

As comemorações do Halloween no Brasil, quando comparadas com outras tradições locais, acabam trazendo questionamentos acerca da valorização de culturas de outros países em relação a nossa própria cultura. Muitos relacionam o Halloween com o folclore brasileiro, por ambas as festividades terem como base mitos e lendas. Tendo como base essa lógica, e a projeção de um aproveitamento econômico, o governo brasileiro oficializou o dia 31 de outubro como Dia do Saci. A data já era comemorada há alguns anos, por pessoas que buscavam formas resistência à cultura estadunidense e valorização do nosso folclore.  

A Sociedade de Observadores de Saci (Sosaci), foi uma das pioneiras nesse movimento de resistência. Mouzar Benedito, um dos fundadores da Sosaci, conta que a escolha da figura do Saci se deve a vários fatores. “Ele é uma síntese dos três povos que formam o brasileiro: indígena, africano e europeu. Além disso, o Saci é popular. Em qualquer lugar do Brasil que a gente vá, sabem quem é o negrinho perneta com gorrinho mágico que apronta traquinagens”, explica Benedito. Ele aponta também, a legitimidade do Halloween em suas origens celtas, mas critica o “complexo de vira-lata” de muitos brasileiros que veem como bom apenas o que vem do exterior, especialmente dos EUA. Para Alexandre Teixeira, esse é um traço sociocultural do processo histórico brasileiro. “O processo de formação de uma identidade nacional brasileira ainda não é muito difundido. Temos uma identidade que se forjou numa espécie de reflexo deformado de padrões, primeiramente europeus e mais recentemente americanos”, ele afirma.

Mouzar conta que as primeiras vezes que eles se reuniram para celebrar muitos tentaram ridicularizar o movimento. “Ficavam insistindo em perguntar se Saci existia, se eu já tinha visto Saci. Eu perguntava de volta: você já viu uma bruxa voando numa vassoura?”. Ele afirma ainda que nada há contra as bruxas, segundo ele. “Elas são mulheres sábias e que nada têm a ver com a  imagem de bruxa que o Halloween criou”, completa.

Muitas cidades do interior do Brasil abraçaram a comemoração do Dia do Saci. Em São Luiz  do Paraitinga – São Paulo, por exemplo, acontece há 17 anos a Festa do Saci, um festival com música, teatro, exposições e brincadeiras relacionadas à cultura brasileira. Além disso, muitas escolas públicas e privadas, preocupadas com a formação cultural dos alunos, vêm contribuindo no festejo da data. Para o comércio, toda a cultura folclórica, ainda não se tornou atrativa como o Halloween. Marcelo Diniz diz que a médio e longo prazo talvez o folclore se torne lucrativo comercialmente, mas deve haver interesse do público para que isso aconteça. 

 

 

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