Texto: Amada Alether e Gabriela Santana
Em meio à simplicidade e carência de uma comunidade em Ribeirão das Neves, surgiu um projeto que mudou a vida dos moradores da região. A casa que fica no bairro Vila Delma, antes usada para tráfico de drogas, agora recebe a Casa dos Livros. Adão Lavadão, o idealizador do projeto, conta que teve a iniciativa quando percebeu que na comunidade, com um alto índice de pessoas marginalizadas, pouquíssimas tinham o hábito de ler. Assim, ele começou a recolher livros em alguns comércios da comunidade. “Espalhei muitas caixas que a gente enfeitava e pedia doação de livros dentro dos comércios”, conta ele. Depois de um tempo, já chegava a 1.000 livros arrecadados que ainda não tinham um local para guardar. Adão ficou sabendo de uma casa na região, que era usada para o tráfico de drogas pesado seria demolida, e pediu para que ao invés disso deixassem a casa de pé para funcionar lá um projeto que faria bem à comunidade. ‘’Quando eu tive a notícia que eles iam demolir a casa, eu dei um recado pra irmã deles que mora por aqui pra dar a oportunidade de apresentar algo para a comunidade’’, explica Adão sobre como conseguiu finalmente a Casa dos Livros. Atualmente as pessoas podem ir para pegar livros e participar de diversas atividades oferecidas lá.
O projeto, que está funcionando há dois anos, já possui mais de 1.500 exemplares de livros e é referência na comunidade. No local há ainda aulas de balé, oficinas de musicalização e artes (semanalmente), eventos de música, rodas de conversa, saraus e cinema que acontecem todo mês. Para a professora de balé Gracielle Moreira, o projeto é de extrema importância na vida dos moradores ‘’Além de ser muito gratificante é importante na questão de levar cultura para essas crianças que não têm tanto acesso assim, principalmente ao balé clássico, que é uma modalidade que ainda é um pouco elitizada’’. As aulas têm como finalidade dar uma base a jovens bailarinas que logo depois são encaminhadas para escolas de dança. A modalidade por enquanto é realizada apenas por crianças, mas com o desenvolvimento do projeto pretende-se expandir as turmas para outras idades.
As crianças, jovens e adultos que participam das oficinas e das atividades têm prazer de estar lá. Além de aprenderem e praticarem coisas novas, trazem experiências diferentes e dão a oportunidade de tirá-los das ruas. Assim elas se envolvem com artes e cultura. Márcia Almeida é mãe de Amanda Almeida, que fez balé no projeto por quatro meses e conta como a menina amava as aulas: ‘’A Amanda adorava que chegava o dia do balé. Era toda sexta feira, ficava toda empolgada, gostava e comentava o que elas faziam lá’’. A mãe ainda enaltece a importância do projeto na comunidade: ‘’Ele é muito bom, fazem palestras, bazar, oficinas, é muito bom para nós’’.
Depois de dois anos de trabalho na comunidade, o projeto atende em torno de 20 crianças nas aulas de violão e balé. E no cine clube, sessão de cinema que acontece todo mês na rua, projetada em um telão, cerca de 30 pessoas frequentam. Os outros eventos organizados, como shows, debates, palestras conseguem reunir mais de 200 pessoas. Todos esses números são de grande relevância para uma comunidade que antes mal tinha contato com artes e cultura e hoje, além de transformar um local que antes era foco de tráfico e violência, têm a oportunidade de ter acesso a cursos que dificilmente teriam.
Doação e voluntariado
O projeto funciona normalmente durante a semana, na parte da manhã e tarde. Ele fica na rua Ponte Nova, 44, bairro Vila Delma, em Ribeirão das Neves. Hoje ele sobrevive com ajudas voluntárias até mesmo dos professores que doam seus trabalhos toda semana à comunidade. Para conhecer mais o projeto e saber como ajudar, eles têm endereços nas redes sociais, que mostram um pouco das atividades que acontecem por lá. No Facebook é só procurar por Coletivo Casa dos Livros e no Instagram: @casa.doslivros.
Brechó organizado dentro da Casa dos Livros
