Tecnologia, público e engajamento são temas muito falados no jornalismo moderno. A busca pelo conteúdo que mais atrai o público, o questionamento sobre o fim dos meios tradicionais e as dúvidas sobre o jornalismo digital são algumas das questões que cercam os profissionais da área. Novos formatos como produções em 360 graus ou as chamadas longform, que consistem em reportagens especiais multimídia que dissertam sobre um determinado tema, já são exploradas por veículos que ingressam no meio digital.
O jornalista responsável pelas produções digitais do jornal Estado de Minas, Fred Bottrel, não acredita que o jornalismo tradicional vá acabar em função do meio digital. Em palestra para os alunos do curso de Jornalismo na PUC Minas Coração Eucarístico, o profissional defendeu a coexistência entre os diferentes formatos da notícia. “Eu acredito que o jornalismo digital bebe muito das fontes que o jornalismo tradicional criou e eu acho que há espaço para o jornalismo tradicional com uma remodelação. É importante que exista ainda o jornalismo tradicional para determinados tipos de produtos específicos e para periodicidades mais esparsas”, comenta.
A jornalista responsável pelas redes sociais da RecordTV Minas, Ana Carolina Gomes, concorda com o colega de profissão e ainda defende que a grande vantagem do meio digital para o jornalismo é a agilidade. Porém, reconhece uma falha no ensino e preparo de alunos para a área de atuação: “No meu ensino, eu senti um déficit da parte de redes sociais. Se falava assim, um pouco, mas não sabia exatamente o que era e aonde ia chegar. Eu fui entender mais sobre o jornalismo digital, principalmente as redes sociais, quando eu comecei a fazer estágio”.
Para a estudante de Jornalismo, Jaynne Lamounier, a relação entre os meios digital e tradicional é complementar. “Não consigo ver um sem a coexistência do outro e também acho que temos que pensar no lado mais cultural dessa relação: algumas pessoas tendem a ir pelo tradicional, outras optam pelo digital e algumas preferem o contato com as duas formas”, observa.
Bottrel defende que os estudantes de jornalismo devem desenvolver a capacidade de pensar conteúdo para ambas as plataformas: física e digital, e destaca o principal desafio da mídia online: “Hoje é muito difícil de parar o dedo das pessoas nas timelines, então é preciso que a gente crie estratégias e formas de produzir matérias que sejam atraentes e criativas, e formas de embalar esse material que sejam igualmente atraentes e criativas para cativar o interesse das pessoas”.
O jornalista ainda argumenta que essa capacidade criativa não é ensinada dentro de sala de aula. “Eu acho que o que se aprende é desenvolver um olhar para as coisas e também para as redes de referências que existem no planeta, sendo que muitas delas estão fora do jornalismo, muitas delas estão nas artes plásticas, no cinema ou na música, na filosofia ou na literatura, e essas vão atravessar o olhar jornalístico e permitir a criação de produtos que sejam, mais ou menos, originais para atrair a atenção das pessoas nesse ambiente digital que é um ambiente tão disperso”, conclui.
A jornalista Ana Carolina Gomes acredita que uma desvantagem dessa era digital é a disseminação das notícias falsas, mais conhecidas como fake news, que viralizam rápido e muitas vezes enganam o público: “Pessoas irresponsáveis que jogam notícias falsas na internet e é muito mais fácil o grande público acreditar nessas informações. Então é um esforço das grandes mídias manterem a sua credibilidade nessa era em que é muito fácil divulgar notícias falsas, fotos falsas, é complicado”. Segundo pesquisa realizada por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (IMT), as notícias falsas se espalham 70% mais rápido do que as notícias verdadeiras, alcançando um número maior de pessoas.
Apesar de ser uma nova plataforma e ainda passar por adaptações, como é o caso das fake news, Jaynne acredita que a internet associada ao jornalismo trouxe muitos ganhos, como por exemplo a dinamização do tempo: “Eu acho que as mídias digitais contribuem muito no factual, no momento e no atualizar de tudo que está acontecendo, enquanto os meios mais tradicionais podem demorar mais para essa atualização”. Para Giovana Fávero, também estudante de Jornalismo, a principal vantagem do meio digital é a democratização da informação. Porém, a aluna já percebe vícios na forma de produzir e consumir as matérias que precisam ser superados. “Será que estamos nos informando mesmo ou estamos vivendo só de manchete?”, questiona.
Os meios digitais e os meios tradicionais de comunicação podem ser chamados de passado ou futuro do jornalismo, mas não se pode negar suas devidas importâncias e o compromisso de que devem ser utilizados como complementos para a publicação de notícias. Com a disseminação das mídias digitais, os leitores ganham mais opções para se informar e, por isso, o jornalismo se reinventa e busca avançar em verdade.
Produção: Carolina Pontes, Chiara Ribeiro, Gabrielle Monteiro, Ludmilla Braga, Priscilla Freitas e Rodrigo Machado