Decisão de jovens, muitas vezes, não corresponde às expectativas dos familiares
Escolher o curso para o qual vai prestar o vestibular e sua futura profissão pode ser um desafio para muitos estudantes. Como se já não bastasse toda essa pressão, a influência dos pais pode tornar essa escolha ainda mais difícil. Apesar disso, alguns jovens resolveram seguir um caminho diferente do restante de suas famílias.
Esse é o caso da estudante de jornalismo Deborah Almeida. Filha de dois contadores, a jovem escolheu a Comunicação devido ao amor pela leitura e escrita, e por gostar de compreender melhor as coisas. “Sou uma pessoa bastante comunicativa também, então a área combina comigo. Acho que nunca me vi fazendo outra coisa”, conta Deborah.
Apesar de não seguir a mesma profissão de seus pais, Denise Alves de Almeida e Othniel Guimarães Costa, Deborah conta que eles a apoiaram na escolha profissional, já que o Jornalismo é um curso que combina com sua personalidade. Denise afirma que a decisão de Deborah é motivo de orgulho: “Tenho o maior orgulho da minha filha ter escolhido o curso de Jornalismo. Eu amo jornal, acho uma profissão de extrema importância porque traz notícias do mundo inteiro . Eu assisto jornal o dia todo e sei que um jornalista fica horas para conseguir uma boa notícia. Eu não influenciei minha filha, mas quando ela me disse que faria Jornalismo eu fiquei muito feliz”.
Por mais que tenha contado com o apoio de seus pais, Deborah acredita que existe um pouco de pressão no momento de escolher o curso. “As pessoas sempre vão te perguntar isso desde criança, e piora no ensino médio. Parece que, até você ter certeza, as pessoas vão ficar questionando você. E é uma escolha complicada porque é seu futuro, sabe? Ainda que você possa mudar de profissão depois, ninguém quer entrar na faculdade pensando que vai largar por não gostar”, explica.
O estudante de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Guilherme Caetano, também é outro exemplo de quem não quis seguir a profissão dos pais, que são advogados. Ele conta que nunca considerou fazer o curso (Direito) por não ter muita afinidade com a área de humanas e, além disso, ele achava que escolher o mesmo curso que eles iria fazer que sua família criasse expectativas desnecessárias.
Porém, fazer Medicina nem sempre esteve nos planos iniciais do rapaz. “Primeiro eu queria fazer Engenharia, mas não seguir carreira, porque eu queria ser piloto de avião e a profissão não exige necessariamente a formação no curso superior de Ciências Aeronáuticas. Devido à minha afinidade por Exatas, eu estava decidido a fazer alguma Engenharia e o único engenheiro da minha família era meu tio”, explica. Foi graças ao conselho de seu tio que Guilherme considerou a possibilidade de fazer Medicina. Após perceber que sua nota do Enem era o suficiente para passar em Medicina, Guilherme pensou nos prós e contras da profissão e do curso em si. “Eu pensei especialmente na grande variedade de atuações que a profissão permite, e na boa oferta de empregos que eu teria. Assim, acabei optando pelo curso médico, sem arrependimentos hoje”.
Guilherme conta que sua decisão de fazer Medicina foi algo que surpreendeu toda sua família, ainda mais que ele não tinha levado sua escolha para ninguém. E, no final, seus familiares ficaram satisfeitos com a escolha dele, um posicionamento bem diferente de quando ele pensava em seguir na aviação.
No entanto, não é sempre que os familiares ficam felizes com as escolhas dos filhos. Esse é o caso de João*, estudante de Cinema da PUC Minas. Os pais são médicos, mas ele sempre soube que iria escolher algum curso da área de Humanas: “Eles sempre souberam, mas nunca aceitaram minha escolha. Eles acreditam que estou desperdiçando meu potencial”.
O descontentamento dos pais de João foi motivo de briga inúmeras vezes na casa do jovem, que se sente incompreendido. Ele conta que até tentou ir a algumas palestras sobre outros cursos, mas não se interessou. “Meu pai já ameaçou trancar minha matrícula várias vezes, e usa isso contra mim sempre. Mesmo eu tirando notas altas, nunca recebi nenhum tipo de incentivo ou tive a presença deles em eventos que organizei e participei”, conta.
Devido à insatisfação dos pais, João conta que se sente pressionado o tempo todo tanto para formar quanto para ser bem-sucedido após a graduação. Ele espera ser efetivado no estágio em que está, para provar aos pais que consegue se sustentar e ser feliz com a carreira que escolheu.
PRESSÃO De acordo com a psicóloga Paula Pimenta, essa pressão no momento de o estudante escolher o curso acontece por diversos motivos, pela crença de que se deve escolher a opção mais correta e adequada. “Ninguém escolhe um curso pensando em mudar de ideia e isso traz uma enorme pressão”, explica a profissional.
Para amenizar isso, deve ser trabalhada com o aluno a ideia de escolher o curso conhecendo as várias áreas de atuação possíveis, ou seja, o curso deve ser escolhido pelas opções de atuação profissional que possibilita. Além disso, outro ponto que ajuda a amenizar essa pressão é escolher o curso pensando em sua atuação, de seu exercício no futuro profissional. “Não dá certo escolher uma profissão por um critério exclusivamente de retorno financeiro mas, no cotidiano da prática, detestar e sofrer com a atuação profissional que ela pede”.
Ainda, de acordo com Paula, os pais são figuras importantes na escolha da profissão do filho adolescente ou jovem adulto. Isso pode ser bom ou ruim, dependendo da postura que os pais venham ter. Dessa forma, a psicóloga afirma que os pais precisam estabelecer um limite: “Os pais podem manifestar suas opiniões mas, sobretudo, devem saber seus limites e dar espaço para o filho ser protagonista de suas escolhas e das consequências delas”.
*Nome fictício para proteger a fonte
Redação e produção: Alexandre Guglielmelli, Barbara Lima, Bruna Curi, Giulia Staar, Sylvia Amorim e Vitória Costa.