Se você for à Praça da Liberdade, com certeza vai cruzar com um homem alto, magrelo, de cabelos compridos e cheio de livretos na mão. Filipe Nogueira Rassi, embora tenha sido criado na Grande BH, em Betim, nasceu há quase 400 quilômetros daqui, na cidade de Patos de Minas. Ele tem 27 anos e decidiu viver de vender seus poemas nas ruas da capital.
O poeta ambulante nem sempre se desviou do “rumo-padrão da vida”. Aos 17 anos, prestou vestibular e passou em duas faculdades: de Jornalismo, na Universidade Federal de Ouro Preto, e de Serviço Social, no Centro Universitário Una. Mas não ficou lá por muito tempo. “Identifiquei que qualquer faculdade que eu fizesse, eu apenas seria conduzido pra dentro do sistema, e dentro do sistema é onde mais pessoas são infelizes e surtadas… Eu mesmo surtei algumas vezes”, contou.
Apesar disso, o vestibular foi o que mostrou a Filipe que ele podia escrever poemas. Para ingressar na Universidade Federal de Minas Gerais – o que posteriormente não aconteceu – ele teve que ler “26 Poetas Hoje” – uma coleção de poemas de escritores da geração brasileira de 1970 chamada “poesia marginal” – e, desde então, não parou de escrever. Foi também a partir do vestibular que Filipe traçou o caminho que segue até hoje. “[O caminho] da arte. E não apenas isso. O de eu conseguir trabalhar e construir minha rotina sem precisar vender minha força de trabalho pra ninguém, muito menos a minha dignidade”, enfatizou.
Há quatro anos o poeta faz livretos com seus poemas para vendê-los nas ruas da cidade e se sente muito satisfeito. Mas nem sempre foi assim. Antes, Filipe trabalhava como vendedor em um comércio no Centro, também foi garçom por dois anos e fez um pequeno curso de teatro: uma soma de experiências que o tornou bastante desenvolto e o fez não sentir muita dificuldade no início das vendas dos livretos. “Além de não haver ninguém fazendo o que eu faço, no nível que eu faço, e com a frequência que eu faço, aqui na cidade”, disse ele.
Quanto à recepção do público à sua poesia, Filipe disse que, no ínicio, ela é geralmente fria e desconfiada. Mas logo quebra-se o gelo e as pessoas demonstram sincera admiração por ele ter a coragem de fazer o que faz.
Hoje, o poeta é casado com uma artista de rua, assim como ele, com quem tem uma filha. Joyce é malabarista e faz performances com bambolês e Linda vai completar 2 anos em junho. O casal se conheceu no palco principal de Filipe: a Praça da Liberdade. Hoje, os três moram no Aglomerado da Serra.
Filipe, embora tenha escolhido esse jeito de vender seus poemas por fazê-lo se sentir mais livre, confessa que pretende encontrar uma editora eventualmente, mas não tem pressa. “As editoras são caríssimas. Livros se tornaram artigos de luxo na sociedade”, afirmou.
O homem que, segundo ele, virou poeta pela necessidade de colocar pra fora as coisas acumuladas em sua cabeça, tem planos de ser reconhecido em BH, e quem sabe um dia no Brasil. Ele tem material para cerca de seis livros e acredita que é possível escrever sobre tudo. “Desde que pulse, que chacoalhe o leitor e o escritor também, por que não?”
Produção e redação: Bruna Silveira, Celso Lamounier, Larissa Duarte e Leticia Fulgêncio