Minecraft, Youtube, um novo aplicativo e um celular na mão. É assim que muitas crianças se divertem nos dias atuais. As visitas aos parques, museus, peças teatrais, shows, exposições e até ao cinema estão cada vez mais distantes da rotina dos pequenos.
Apesar dessa nova realidade, alguns pais ainda preferem que seus filhos façam programas culturais, principalmente relacionados à educação. Esse é o caso da engenheira de produção Daiana Amaral, de 29 anos, que é mãe da pequena Maitê, de 3. Ela diz que tenta deixar a filha ficar cerca de uma hora por dia em aparelhos eletrônicos e sempre procura fazer atividades fora do ambiente virtual com a garota. “A gente já foi no Circuito Cultural da Praça da Liberdade, o próprio Circuito Cultural da Pampulha, o Museu de História Natural e o Jardim Botânico da UFMG, então, assim, sempre que tem peças teatrais, algo assim que a gente acha que é indicado para um programa família a gente vai. É algo que a gente sempre tenta participar”, relata.
Já na casa do cientista da computação Fernando Caixeta, de 40 anos, onde moram Júlia, 7, e Pedro, 8, a restrição às novas tecnologias é maior: “Meus filhos não passam muito tempo na frente de eletrônicos não, mas ainda assim acho que passam mais do que eu gostaria. Aqui em casa a gente tem uma regrinha que, grosso modo, não se vê televisão no meio de semana nem mexer em computador ou no celular. Grosso modo porque de manhã, do momento que eles acordam até a hora que o café tá pronto, tem uns 20 minutos, 25 minutos, eles podem ver televisão”.
Mesmo com a rotina corrida dos afazeres de trabalho, escola e aulas extras das crianças, Caixeta diz que sempre encaixa atividades culturais no cotidiano dos seus filhos e reconhece a importância desse incentivo. “O acesso à cultura abre muito a nossa cabeça pra coisas diferentes da vida, outros pontos de vista, outras histórias, porque os movimentos culturais têm uma causa, tem um motivo, eles contam uma história de vida ou da comunidade. Então a gente acha importante que eles vejam outros ângulos, outros pontos de vista, outras perspectivas que essas atividades culturais trazem”, recomenda o cientista da computação.
Ana Flávia Vale também incentiva os passeios fora do âmbito tecnológico com sua filha Clara, de 6 anos, e está de olho no que a criança gosta de fazer no celular: “Eu tento controlar os horários. Ela gosta de assistir a algumas Youtubers mirins, meninas da idade dela, que postam passeios e brincadeiras com a família. Ela só assiste perto de mim e fico sempre de olho, porque não deixo ela ver alguns conteúdos (canais que só postam brinquedos e os Youtubers Felipe e Lucas Neto)”.
A servidora pública ainda comenta como as crianças, hoje, já sabem mexer em todos aplicativos dos celulares e reforça a importância de passeios off-line. “Os nossos hábitos são construídos na infância, pela prática e pelo exemplo. Então, se ela não vivenciar isso, não vai ter esse hábito no futuro”.
Em 2016, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou um Manual de Orientação sobre a “Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital’’. O manual aborda os principais problemas ligados ao excesso da tecnologia por crianças e adolescentes e destaca a importância das brincadeiras ao ar livre, leituras, músicas educativas, alimentação saudável, rotina adequada de sono e hábitos que não envolvam o smartfones na vida de bebês e crianças.
Para a psicóloga infantil Valéria Assis Amado, a brincadeira é um elemento indispensável para uma infância feliz e um importante instrumento de socialização. Segundo ela, entre os benefícios das brincadeiras estão o desenvolvimento da autoestima, o estabelecimento de vínculos com os pais e desenvolvimento da empatia. “Os três primeiros anos de vida constituem uma janela de oportunidades à promoção da saúde. É um período crítico do desenvolvimento quando observamos a fase de maior plasticidade cerebral. Nessa fase é importante estimular a ida ao teatro, cinema, museu, exposições,parques etc. A criança precisa ter experiências culturais para que tenha maior vocabulário, experiência de mundo, favorecendo seu desenvolvimento cognitivo” , orienta.
Esse é o caso de Yngrid Bragança e Raquel Pacheco, jovens de 21 anos. Yngrid diz que desde pequena se interessou pela área cultural e que o gosto permanece até hoje: “Eu gosto muito de assistir a peças teatrais, também gosto muito de concertos musicais, dança, seja ballet, jazz, qualquer outro tipo de dança, eu gosto muito de assistir a esse tipo de apresentação”.
Já Raquel, que é estudante de direito e também de teatro, afirma que ter acesso à cultura por meio de seus pais e escola foi essencial para que ela percebesse o gosto pela atuação. “Mesmo antes de ver que o teatro é o que quero fazer da minha vida, eu sempre permaneci ligada nesse tipo de coisa. É um aprendizado menos palpável, mas é muito rico porque você desenvolve habilidades que às vezes pode nem saber que você tinha. Além de desenvolver gostos, senso crítico, sensibilidade e ainda descobre algo dentro de você que é a possibilidade de viver de cultura”, conta.
Valéria ainda explica que, além dos benefícios cognitivos, as atividades culturais e brincadeiras externas ensinam as crianças a lidar com conflitos, resistir à pressão de situações adversas e a viver em sociedade. ”Os pais devem explorar ao máximo o tempo de lazer com os filhos. A criança precisa correr, andar de bicicleta, brincar de areia, andar descalça e brincar com água. Tudo isso só é possível se estivermos em ambientes externos. Quando temos essa vivência frequente ao ar livre, estamos ajudando as crianças a serem menos ansiosas, melhora a agitação e consequentemente o seu desenvolvimento físico, cognitivo e emocional.”
Produção: Carolina Fonseca, Chiara Ribeiro, Gabrielle Monteiro, Ludmilla Braga, Priscilla Freitas e Rodrigo Machado