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Torcedores retornam aos estádios em BH

Arquibancadas lotadas, sem distanciamento social, e com poucas pessoas de máscara: apesar do avanço da vacinação, o risco de contaminação, mesmo de forma mais branda, ainda existe (Foto: João Felipe Marques)

A pandemia de covid-19 foi declarada mundialmente em março de 2020 e, desde então, com o fechamento de espaços públicos, o modo de acompanhar o futebol mudou. Além da suspensão dos jogos, os estádios também precisaram ser fechados. As partidas ficaram sem ocorrer por cerca de 90 dias, de modo a evitar aglomerações dentro dos estádios e o contágio pelo novo coronavírus. Após o retorno dos jogos de futebol, as torcidas tiveram que acompanhar seus times de longe, pelos meios de comunicação, e os estádios permaneceram vazios durante um ano e cinco meses. Somente em agosto de 2021 os torcedores de Cruzeiro, Atlético e América finalmente retornam aos estádios Mineirão e Independência.

A reportagem buscou verificar os protocolos adotados no retorno aos estádios na capital mineira: checar se estão sendo seguidos, verificar se há fiscalização por parte da segurança dos estádios, além de atentar para preocupações sanitárias como o risco de aumento no número de casos e as possíveis consequências para os torcedores em casos onde os protocolos foram ignorados.

A volta do público aos estádios em Belo Horizonte ocorreu no dia 18 de agosto na partida entre Atlético e River Plate-ARG, no Mineirão, válida pela Libertadores. O jogo foi realizado com diversas restrições, como, por exemplo, a utilização de máscara, distanciamento social e, principalmente, a limitação de 30% da capacidade total do estádio. Mas as imagens, principalmente dos arredores do Mineirão, chamaram a atenção negativamente. Diversas aglomerações e pessoas sem máscara. Um dia após a partida, o prefeito Alexandre Kalil, mostrou seu descontentamento com a situação, e não descartou voltar à estaca zero, e fechar as arenas da capital novamente.

Do jeito que está não vai ter (torcida no estádio) não. Quando vi aquela cena no Mineirão, eu desesperei.

Alexandre Kalil, prefeito de BH
Aglomerações no entorno do Mineirão, logo na primeira partida após a retomada, preocupou o prefeito Alexandre Kalil (foto: João Felipe Marques)

Porém, não houve recuo na porcentagem de ocupação dos estádios. Pelo contrário. Em 20 outubro, a prefeitura municipal aumentou a capacidade máxima permitida para 50%, e no dia 1º de novembro, permitiu a lotação máxima dos estádios. Os protocolos adotados pelo Mineirão e pelo Independência, segundo suas assessorias, seguem as determinações sanitárias da Prefeitura de Belo Horizonte, e exigem utilização de máscaras, cartão de vacinação completos, ou teste PCR realizado até 72 horas antes do início da partida. 

Dentro do Mineirão, que realizou uma parceria com o laboratório Hermes Pardini, há orientação para o uso de máscara, que é obrigatório, além de avisos nos telões e no sistema de áudio de todo o estádio. Há álcool em gel distribuído nas entradas e no interior dos banheiros. Porém, não há fiscalização. A reportagem esteve presente em duas partidas no Mineirão (Atlético x Juventude e Atlético x Fluminense), e pode constatar que a maioria dos torcedores circula e assiste às partidas sem proteção, apesar dos avisos impressos, sonoros e no telão, alertando para a obrigatoriedade do uso da máscara. 

Com 100% de ocupação permitida, não há distanciamento social, todas as cadeiras podem ser utilizadas sem restrição. A assessoria do Mineirão também informou que “possuem 17 equipes multidisciplinares de saúde que orientarão os torcedores sobre os cuidados necessários”. Elas estarão em todos os setores do estádio.” Durante toda a permanência nas dependências do estádio, a reportagem não presenciou nenhuma abordagem de tais equipes. 

Avisos sobre o uso de máscara nos telões do Mineirão, são frequentes em dias de jogos (foto: João Felipe Marques)
Avisos nas entradas de sanitários: estádio oferece álcool gel aos torcedores (foto: João Felipe Marques)

De acordo com o estudante Gabriel Mata, 18 anos, torcedor do Cruzeiro, e que frequentou o estádio Independência após a liberação de público, os protocolos de segurança não foram respeitados. “Nos jogos que estive presente, a grande maioria dos protocolos não foram respeitados, tanto dentro, quanto fora do estádio. A maior parte dos torcedores estava sem máscara e muitas aglomerações nos arredores.” 

Segundo o parágrafo 1.2 do decreto municipal Protocolo de funcionamento para jogos de futebol profissional,  “todos os portões do estádio que derem acesso aos setores comercializados devem estar disponíveis para acesso de entrada e saída pelos torcedores”. No primeiro jogo do Cruzeiro com a presença de sua torcida, contra o CSA, na Arena Independência, apenas um dos três portões do Setor Especial Pitangui estava aberto, o que acabou gerando uma grande fila, sem distanciamento social, o que também é de responsabilidade do clube controlar, segundo o decreto municipal, parágrafo 1.3: “Organizar a área de filas de forma a evitar aglomerações, assegurando o distanciamento mínimo de um metro entre os torcedores e a manutenção do uso de máscara durante todo o percurso”. 

Torcida do Cruzeiro forma longa fila e grande aglomeração no lado de fora do Independência; Clube descumpriu decreto municipal que prevê todos portões, de todos setores, abertos (Foto: Leonardo Parrela/Globoesporte.com)

Na opinião do atleticano Lucas Izidro, estudante de 19 anos, a organização dos eventos e os protocolos da prefeitura são corretos, porém não respeitados. “Acho que a organização respeitou os protocolos municipais, a prefeitura fez o que ela podia fazer, mas a torcida não respeitou muito. Tinha muita gente sem máscara e pouco distanciamento dentro do estádio. Também houve muita aglomeração de gente que não entraria no estádio para assistir a partida, por isso acho que quanto aos protocolos sanitários, não houve respeito por parte do público”, diz Lucas sobre sua primeira experiência no retorno às arquibancadas, no jogo Atlético x River Plate-ARG.

Impactos nos números da pandemia

Apesar de ser indispensável a apresentação do cartão de vacinação completo ou do teste PCR negativo para acesso aos estádios, os arredores podem estar ocupados por pessoas que, não necessariamente, estão vacinadas ou testadas. Segundo a infectologista Karina Napoles, isso pode gerar um aumento no número de casos de covid-19, mas de forma menos impactante, considerando o avanço da vacinação. “Com certeza essas grandes aglomerações vão impactar no número de casos de covid, mas com tantas pessoas vacinadas, tendo quadros mais brandos, pode ser que a doença nem se manifeste em caso de imunização completa e dose de reforço. Mas é muito difícil prever, porque como a covid se manifesta também de forma assintomática, há exemplos de pessoas que, mesmo dois dias antes de apresentar os sintomas, já estava transmitindo, então fica difícil prever.” 

Karina ainda considera que seria interessante que os estádios realizassem uma “triagem” para as pessoas entrarem nos estádios, a fim de assegurar  que não há nenhum infectado presente no ambiente. “Eu acho que poderia ser realizada uma triagem de sintomas, para impedir a entrada de pessoas que apresentem qualquer sintoma da doença (coriza, quadro gripal). E penso que para evitar a contaminação no estádio, seria interessante realizar o Swab (exame via nasal), pois mesmo uma pessoa imunizada, pode se contaminar de novo, tendo uma evolução mais favorável, por ter imunidade, tem um quadro imunológico menor”, explica Karina.

Conteúdo produzido por Adriano Oliveira, Bernardo Haddad, Bruno Lobão, João Felipe, João Miguel, Rafael Vieira, Thomaz Fonseca, Vinícius Tadeu em atividade interdisciplinar orientada pelas professoras Adriana Ferreira, Fernanda Sanglard e Verônica Soares.

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