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The White Lotus: o que você precisa saber antes da quarta temporada

Três temporadas, três paraísos, a mesma inquietação: a busca interior da elite por um propósito

The White Lotus, série criada e dirigida por Mike White e exibida na HBO, é dessas produções que começam como sátira, mas terminam como um espelho desconcertante. A série sempre envolve turistas que se hospedam na mesma rede de hotéis de luxo, em diversas partes do mundo. Na vida real a rede é a Four Seasons

Mas a série não é só sobre turistas ricos em férias. É sobre colonialismo, machismo, consumo cultural e, principalmente, sobre um tipo de vazio existencial que o dinheiro, por mais que tente, não consegue preencher.

O que une as personagens é o hotel, proporcionando experiências que, em determinado momento, promoverão o encontro dessas pessoas e o cruzamento das narrativas das temporadas, que são independentes. O que quem não assistir não compreenderá é que o clímax narrativo de cada temporada é sempre ocasionado pela morte de algum personagem.

Temporada: Havaí – Verdade ou consequência?

Reprodução
1° temporada se passa no Havaí

Logo de cara, a série nos leva ao Havaí, arquipélago paradisíaco nos Estados Unidos. Lugar de beleza quase irreal, que deveria trazer paz — mas parece amplificar tudo o que há de desconfortável. Acompanhamos personagens como a Tanya (Jennifer Coolidge), a família Mossbacher e o recém-casado Shane. Cada um chega ali com suas expectativas, seus problemas, seus silêncios.

Mas o que mais marcou a minha experiência enquanto público foi o arco narrativo da Paula, uma das protagonistas desta temporada. Ela tenta, de forma impulsiva e idealista, “corrigir” uma injustiça histórica envolvendo Kai, um funcionário local. Só que a tentativa dá errado, e Kai é preso. Paula volta para o café da manhã como se nada tivesse acontecido. Acredito que naquele momento, a série não entrega respostas fáceis — ela mostra que boas intenções, sem consciência do próprio privilégio, podem fazer mais mal do que bem.

2° Temporada – Apaixonante Sicília 

2° Temporada acontece na ilha Sicilia, localizada na Itália

A segunda temporada tem um tom mais sensual, mais psicológico. Eles estão na Sicília, na Itália, onde casais aparentemente bem resolvidos desmoronam em silêncio. Harper e Ethan, Cameron e Daphne, casais que protagonizam esta parte do seriado, enfrentam-se não apenas com palavras, mas com olhares, gestos, ausências. As traições são quase secundárias perto da complexidade emocional que a série constrói.

Lucia e Mia, duas jovens italianas, travam o mesmo jogo de poder que os hóspedes, mas vencem. No fim, Lucia caminha pelas ruas de Taormina como quem saiu ilesa. Uma das coisas que mais me surpreendeu: a série não pune as personagens por uma perspectiva moral simplista. Mostra as consequências que, às vezes, são tão ambíguas quanto na vida real.

  Temporada: Tailândia – Espiritualidade de fachada 

3° Temporada se passa na Tailândia

E então chegamos à Tailândia. A temporada mais recente, que terminou em abril de 2025, apresenta um cenário mais introspectivo. Os personagens agora não querem só descanso, querem transformação. Procuram retiros de silêncio, cerimônias budistas, terapias holísticas. Mas tudo isso vem embalado em luxo, com funcionários sorridentes e experiências cuidadosamente coreografadas.

Dentre as cenas, uma se destaca: um jantar cerimonial à luz de velas, com monges e apresentações típicas. Os hóspedes filmam tudo, brindam com vinhos caríssimos e dizem estar “espiritualmente tocados”. Enquanto isso, um funcionário tailandês observa, em silêncio. É um olhar profundo, que enxerga o vazio. A espiritualidade, ali, virou produto. E a cultura local, um cenário.

Uma das personagens, Pipper Ratliff, interpretada por Sarah Catherine Hook, representa a decepção de quem cria expectativas transcendentais com a experiência luxuosa. Mas a superioridade que Ratliff demonstra inicialmente é desmascarada.

Mike White contou em entrevistas que se baseou em ideias budistas para construir essa temporada. A série, segundo ele, é quase uma parábola sobre como nossas identidades podem nos aprisionar. É uma temporada menos sobre ação, mais sobre desconforto — e isso a torna ainda mais provocativa.

Três destinos, uma mesma sensação: o incômodo da elite

Apesar de não ser uma série de suspense, o que The White Lotus faz de forma interessante é manter uma estrutura narrativa fixa — um mistério envolvendo uma morte e a desconstrução dos personagens sempre em lugares diferentes, com protagonistas diferentes, e ainda assim reinventar o desconforto em cada cenário.

No fundo, a série não quer que a gente se pergunte “quem vai morrer?”, mas sim “o que essa viagem está tentando esconder?” E quase sempre, a resposta é a mesmo: uma tentativa desesperada de encontrar sentido, pertencimento ou paz, num lugar que, por mais paradisíaco que pareça, não cura o que está por dentro.

The White Lotus não tem como objetivo agradar a todos, pois mostra o que há de mais difícil e complicado em nós e especialmente nas pessoas mais abastadas. A série, por essência, pode fazer parecer que o mundo é assim mesmo, e que mudanças de verdade vão exigir mais do que apenas conversas intermináveis nas redes sociais.

De acordo com a Variety, a produção da quarta temporada deve começar só em 2026, e a estreia pode acontecer em 2027. Ainda não foi confirmado onde a quarta temporada será ambientada, mas os rumores é que será novamente em algum país da Europa. 

Viralizando nas redes

Nas redes sociais, especialmente no TikTok e no X (antigo Twitter), The White Lotus viralizou por entregar momentos icônicos que logo se transformaram em memes e citações. Um dos mais comentados aconteceu no episódio final da segunda temporada, com a icônica Jennifer Coolidge. Pouco antes da trágica morte de sua personagem, Tanya, ela protagoniza uma cena que virou clássico instantâneo: em um misto de pânico e comédia, ela diz — “PLEASE, THESE GAYS, THEY’RE TRYING TO MURDER ME!”

A frase, que na cena carrega um peso dramático e preconceituoso, foi recebida com risos pelo público, pela interpretação teatral e absurda. A tragicomédia do momento é reflexo do tom da série: tudo é ridículo, mas nada é raso.

Vale lembrar que Jennifer Coolidge é uma das queridinhas do público LGBTQIA+, e isso também ajudou a amplificar a cena nas redes — virou citação obrigatória, figurinha de grupo, áudio de dublagem e meme oficial da série

Mas, nem sempre são as grandes reviravoltas ou mortes que tornam uma série inesquecível. Às vezes, é em uma conversa simples, carregada de verdade, que a história realmente nos toca. Outro desses momentos emblemáticos aconteceu também no episódio final da terceira temporada.

Um trio de mulheres, Jaclyn (Michelle Monaghan), Laurie (Carrie Coon) e Kate (Leslie Bibb), viajam juntas para a Tailândia. Amigas desde a adolescência, elas mantêm uma relação que, aos poucos, revela mais tensão do que afeto. Sempre que uma das três se afasta, as outras fazem comentários ácidos sobre sua vida, numa espécie de revezamento passivo-agressivo que desconforta o espectador.

Essa dinâmica tóxica se arrasta até resultar em conflitos e distanciamentos. Mas é no último jantar das três, na noite final da viagem, que a série entrega uma das cenas mais sinceras e emocionantes da temporada.

Kate e Jaclyn tentam encerrar a noite com leveza, dizendo que, apesar de tudo, a semana foi divertida e significativa. Quando chega a vez de Laurie falar, a atmosfera muda. Ela faz um discurso breve, mas poderoso — uma fala que é, ao mesmo tempo, desabafo e rendição. Ela reconhece os atritos, as falhas, os anos de ressentimento escondido sob camadas de educação e encerra com a frase que marcou os fãs da série: “Estou feliz só de estar à mesa.”

É uma frase simples, mas que carrega o peso da amizade real — feita de mágoas, mas também de memória, lealdade e, acima de tudo, vontade de continuar pertencendo, mesmo quando é difícil. A repercussão foi imediata nas redes sociais. Muitos se viram ali, naquela tentativa de dizer: eu ainda me importo, mesmo que a gente não saiba mais como demonstrar.

Serviço 

The White Lotus – (2021 – presente) 

Escrita e dirigida por Mike White 

Disponível na HBO 

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