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TCC analisa percepção de jornalistas mulheres sobre cobertura de futebol

Escrito como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), essa pesquisa, realizada para a obtenção de título de Bacharel em Jornalismo, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC), busca analisar, pela perspectiva de gênero, a atuação e a percepção das jornalistas mulheres na cobertura de eventos futebolísticos no mundo.

Para que tal análise fosse feita, a então estudante e agora jornalista Ester Caroline Rodrigues Pinheiro, desenvolveu um questionário, aplicado durante a Copa do Mundo de Futebol Feminino da FIFA, sediada em Paris, em junho de 2019. O estudo foca em debater as desigualdades de gênero no mercado de trabalho, especificamente, no futebol. 

A partir da análise das respostas obtidas através do questionário, Ester Pinheiro concluiu que  as jornalistas mulheres inseridas no mercado de trabalho futebolístico controlado predominantemente por homens ainda lutam por melhorias em suas condições de trabalho, assim como lutam por reconhecimento, e que mesmo recebendo o mesmo salário nas mesmas funções dos seus colegas, ainda existem diversos obstáculos a serem superados.

Confira a seguir, os principais pontos sobre o processo de concepção e de desenvolvimento do tema.

Quais foram as suas principais motivações para realizar este trabalho? Qual era o interesse preliminar sobre o tema?

Foi pelos estudos em Comunicação que consegui melhor acolher minhas experiências pessoais, conhecer mais de mim e vivenciar mais da outra (o).  A escolha por aprofundar uma análise de gênero na  graduação em Jornalismo foi uma busca por respostas da minha própria existência e do meu lugar social. Qual o lugar das jornalistas esportivas no campo profissional?  Que espaços poderei ocupar? 

O que você descobriu ou desenvolveu no processo de criação do seu TCC? Por que isso é relevante e como ajudou na sua formação?

Os resultados da pesquisa apontaram padrões já esperados como o menor número de jornalistas esportivos nas coberturas de mais prestígio. Logo, não foi uma descoberta, mas um reforço de um das condições de trabalho da  mulher jornalista, que ainda estão ligadas à disparidade de gênero presente no mercado de trabalho. E isso é ainda mais latente quando permeia o segmento do futebol, socialmente entendido, a  partir dos estereótipos de gênero, como universo predominantemente masculino.  Mas, diria que foi uma surpresa perceber que muitas mulheres jornalistas, tinham a perspectiva do feminismo liberal, que considera a existência de uma suposta igualdade entre homens e mulheres. A pesquisa foi relevante por trazer para debate o assunto de gênero, mídia e esporte. Já que, pelos dados, se aponta uma tendência das jornalistas mulheres serem mais vulneráveis por terem, não somente duas  jornadas de trabalho, em uma sociedade patriarcal, mas, por não serem vistas como sujeitos, estando relegadas a um papel de submissão ao homem em ambas as esferas. 

Ester Pinheiro na Copa do Mundo de 2018
Foto de 宋 錫仁

Quais as principais conclusões do seu trabalho de TCC? O que você considera mais relevante do seu trabalho?

O meu projeto foi desenvolvido com entrevistas como objeto empírico pelo Google forms. Das 31 jornalistas mulheres que aceitaram participar e contribuir com o objeto empírico desta pesquisa, 16 responderam o questionário, sendo uma  brasileira. Não é só bater na mesma porta que está fechada, mas olhar à sua volta e perceber outras portas abertas, nas quais mulheres são as gatekeepers. É reler a figura da jornalista à luz dos estudos feministas e de gênero de forma a encontrar e fortalecer redes. E, claro, explicitar como regras informais relacionadas a  percepções, estereótipos e lugares de fala em termos de gênero reagem com regras formais e  orientam ações dos indivíduos dentro de mídias tradicionais. Nesse sentido, o processo de empoderamento da autonomia  feminina e da despatriarcalização da sociedade é irreversível.

Experiência na pesquisa

O projeto de TCC começou a ser desenvolvido dois anos antes de ser finalizado no ano de 2019. Como já havia imaginado a possibilidade de pesquisar sobre as desigualdades de gênero existentes no futebol, e como as mulheres percebem esse impacto na própria cobertura de jogos, antes mesmo de desenvolver uma ideia formal, Ester iniciou a disciplina de TCC I no 6º período da faculdade disposta a investir no assunto.

“O processo de desenvolvimento foi bem animador, pois eu tive apoio de professoras incríveis desde o início quando os questionamentos surgiam na minha cabeça. Pelo fato de terem sido entrevistas com jornalistas internacionais que trabalhavam in loco em Paris durante a Copa, eu tive que passar por muitos processos e burocracias. O maior desafio, creio que foi conseguir parar de ler e decidir concluir a ideia, afinal o processo da pesquisa é infinito, acredito que poderia até hoje estar criticando o patriarcalismo na mídia esportiva e editando o texto. A parte satisfatória foi o fato de ter conseguido ouvir essas mulheres, de ter tido essa oportunidade e de ter trazido a perspectiva de gênero para o ambiente de trabalho que eu desejo atuar. ”, afirma Ester a respeito do desenvolvimento do TCC.

Porque você deveria ler esse TCC?

A presença feminina no futebol vem crescendo a cada ano, mas ainda existe resistência de funcionários e empregadores que não veem o campo como um lugar para mulheres. A pesquisa feita por Ester Pinheiro faz um recorte dessa evolução após escutar mulheres jornalistas que experienciam, em primeira mão, como é a rotina de profissionais da Comunicação que enfrentam estereótipos, assédios e preconceitos, para conseguir trabalhar de forma igualitária aos demais homens no mercado.

Mesmo com esses obstáculos no caminho, as jornalistas esportivas que responderam ao formulário, alegaram que a carreira no esporte vale a pena e que é possível ser bem sucedida. De acordo com Ester: “A conclusão negativa principal [a partir das respostas] foi que 100% delas já passaram por assédio de diversas formas e a positiva foi perceber que é possível produzir e continuar trabalhando conteúdo esportivo e ser respeitada, mas é preciso encontrar aliadas/os acadêmicas/os e políticas/os para encontramos espaço de articulação por uma perspectiva de gênero.”

Quer ler o TCC? Clique aqui!

Quer saber mais sobre a Ester? Acesse: esterpinnheiro.medium.com.

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